quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A fúria anti-tabágica

Antes de mais, e em jeito de declaração de interesses, devo dizer que deixei de fumar há 8 meses, mas recuso os fundamentalismos dos "convertidos" ao não tabagismo.

Na discussão que se gerou acerca da nova lei anti-tabágica, parece-me que há grossas asneiras de parte a parte, especialmente no que se refere à discussão entre os proprietários de estabelecimentos de restauração e o governo.

Os estabelecimentos tiveram 1 ano para se adaptarem e estudarem a melhor saída para a situação. Em muitos países vi soluções há mais de 10 anos. Desde restaurantes com salas para fumadores e não fumadores, até hotéis com andares diferentes para cada situação. Não há portanto nada a inventar, bastando estudar um pouco e adaptar as soluções que outros já encontraram. Assim, não há razões para estarem com dúvidas a uma semana da entrada em vigor da lei.

Por parte do governo, a falta de explicações e arrogância do costume. Ainda hoje vi um comunicado da Direcção-Geral da Saúde, em que se afirmava que, não havendo uma solução eficaz para a extracção total de fumos das salas de fumadores, nem características de equipamentos de extracção aprovadas, se recorria a uma complicada medição da qualidade do ar. Também houve muito tempo para definirem os sistemas de extracção de fumos.

Infelizmente já estamos habituados ao atabalhoamento legislativo. Ainda hoje foram também noticiadas as dúvidas quanto às cadeirinhas para crianças em transportes (a exclusão das viaturas das autarquias e transportes colectivos tem um piadão. Estes não podem ter acidentes? E a segurança das crianças?) e quanto aos exames necessários para a renovação da carta de condução a partir de 1 de Janeiro (faltam 4 dias!).

Com a praxis a que nos habituaram, não me admira que, 30 minutos depois da passagem de ano, apareçam os embuçados da ASAE a apontarem a shotgun à cabeça do pacato cidadão que está a festejar e a fumar o charutito da ordem.

Já que se trata de fundamentalismo defensivo da saúde pública, por que não as autoridades da saúde darem uma inspecção às salas de espera das consultas e urgências dos centros de saúde e hospitais, sem o mínimo de ventilação e onde uma pessoa pode entrar com uma simples dor nas costas e sair com várias e graves doenças de transmissão aérea? Se quiserem mesmo saber de alguns, leiam os relatórios de conforto dos hospitais S.A. referentes a 2004. Estão no site dos hospitais E.P.E.. http://www.hospitaisepe.min-saude.pt/Comunicacao_Actualidade/Biblioteca_Online/com_servico_utente/Programa_Conforto_Hospitais.htm

É que assim já não os podiam acusar de hipocrisia!

Natal e natal

Desde tempos imemoriais, muito anteriores a Cristo, que, no hemisfério norte, se comemora a festa do solstício de inverno, quando os dias começam e crescer e se inicia novo ciclo da natureza.

Por exemplo, os chineses fazem a comemoração a 22 de Dezembro, com uma festa de unidade da família, muito semelhante ao Natal europeu.

A Igreja Católica, aproveitando a festa, estabeleceu que ela comemoraria o nascimento de Cristo, a 25 de Dezembro. Parece que a data é insustentável em termos históricos, mas não é por aí que vem mal ao mundo. A 2.000 anos de distância ninguém se preocupa com precisões de datas, importando, isso sim, o seu significado.

E o significado, concorde-se ou não, é a doutrina de unidade e irmandade de todos os seres, tão bem defendida por S. Francisco, baseada na humildade e na integração num todo universal.

Com base nessa doutrina, o Natal seria somente a festa simbólica da confirmação de uma vivência de irmandade e solidariedade permanentes.

Ao contrário de toda essa doutrina, desenvolveu-se o natal, época de consumismo obrigatório e desenfreado, que começa cada vez mais cedo. Este ano, já se viam apelos ao consumo natalício em Novembro.

A festa, de simbólica de uma situação habitual, passou a ser a quase única ocasião de solidariedade, muita dela exibicionista e propagandística de preocupação anual com os "pobrezinhos".

Por isso, sou cada vez mais defensor do Natal no sentido franciscano, e menos do natal do velho da Coca-Cola.

sábado, 22 de dezembro de 2007

O insucesso da matemática

O governo decidiu que os funcionários públicos (espero que não atinja os reformados) passem a descontar mais 1% sobre o seu vencimento para terem direito ao subsídio de desemprego, ficando assim em igualdade com os restantes trabalhadores.

Ora, fazendo contas muito simples, temos que os funcionários passam a descontar:
- 10% para a Caixa Geral de Aposentações (reforma)
- 1.5% para a ADSE (saúde)
- 1% para o Fundo de Desemprego

Tudo isto totaliza 12.5%.

Os trabalhadores privados descontam 11% para Taxa Social Única, englobando todos os benefícios acima indicados para os funcionários.

Se o governo diz que passa a haver igualdade, defenderá que 11% = 12.5%, donde se conclui que os defensores da ideia devem ter feito o curso naquelas universidades que a gente sabe....

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Implicações filosóficas da pocilga

A notícia http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1314473&idCanal=59 revolta qualquer alma medianamente bem formada, o que parece não acontecer com as instituições que deviam cuidar destas coisas.

Argumentam os responsáveis da Direcção-Geral de Veterinária e veterinária municipal que "a ilegalidade da suinicultura era conhecida desde 2000. Cabe à DGV legalizar as explorações. Mas este caso, não tendo nunca sido legalizado, “não tinha de fechar”, disse Lopes Jorge" e que "Nunca foi mandada fechar porque, oficialmente, nunca abriu.”

Como é que mentes tão brilhantes andam a caçar porcos e não estão em estudos científicos do mais alto nível!? Demonstram uma inteligência quase tão alta como a do sr. Bush!

A sr.ª veterinária ainda informa que aquela exploração vendia animais para consumo. Com que legalidade? A omnipresente ASAE não sabia? Isso não é crime contra a saúde pública?

Além disso, parece um insulto ao Exército. Então manda-se uma unidade altamente especializada para intervir numa instalação que não existe?

E alguém se preocupa com o bem-estar dos animais da outra unidade abandonada pelo mesmo dono? Estão à espera que aconteça o mesmo?

Agora só falta que o dono processe toda aquela gente por invasão de propriedade e seja devidamente indemnizado!

É ridículo, mas parece estar conforme com o "direito"!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O pânico da insegurança

Nos últimos dias a comunicação social tem dado a imagem de que o país entrou em pânico por causa de umas escaramuças entre mafiosos da noite.

Até na que devia ser circunspecta Assembleia da República, os deputados dos PSD e do CDS esvoaçavam e cacarejavam mais que as galinhas da minha amiga Cristina quando entrou uma cria de milhafre lá no quintal. Dizem que os velhos (agora diz-se séniors) têm medo de sair à rua, as criancinhas estão amedrontadas em casa, as pessoas deslocam-se agachadas por trás dos muros... Enfim, qualquer coisa como Chicago nos tempos do Al Capone.

Assentada toda esta poeira comunicacional (a Maddie já não rende e as histórias das meninas adoptadas estão por pouco!) e politiqueira, há que ter calma e reduzir as coisas às devidas proporções.

Parece que há uns ajustes de contas entre grupos mais ou menos mafiosos. Ora isto acontece em circuito fechado, não afectando os estranhos ao meio, a menos que haja incompetência nos atiradores.

Situação semelhante é normal há muitos anos em Macau, que não deixa, por isso, de ser uma cidade muito mais segura para o pacato cidadão que qualquer vilória de Portugal. Uma senhora pode andar livremente na rua a qualquer hora do dia ou da noite, sem que alguém se atreva sequer a dirigir-lhe a palavra. Às vezes lá dão umas facadas ou uns tiros num rival, mas, como é serviço de profissionais, ninguém mais é atingido. Não há danos colaterais. São mais eficientes que os americanos no Iraque ou os israelitas na Palestina!

Por esse lado, não há portanto razões para o pânico que se quer estabelecer.

Perigosos, sim, são os bandos de miúdos armados e com medo (talvez mais que as vítimas). Esses, com o medo, podem disparar mesmo a sério e sem profissionalismo. Frente a esses, nada de armar em herói, pois não há nada mais inútil que um herói morto.

Claro que devemos tomar as nossas precauções contra esses criminosos "baratos", mas não há razões para viver em terror e, muito menos, em pânico.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Coincidências fantásticas

Alguém do Ministério das Finanças decidiu que os aposentados descontariam para a ADSE nas pensões correspondentes aos 13.º e 14.º meses, o que não se passa com os funcionários do activo. Perguntado, pelas organizações sindicais, se esse procedimento ia ser estendido aos funcionários do activo, um sr. secretário de estado disse "nem pensar! A redacção referente aos subsídios não é a mesma para os pensionistas e funcionários do activo". Isto é: alguém, certamente muito bem pago, andou a escabichar os textos legais a procurar onde poderia sacar mais uns trocos.

Uma comissária da PSP disse ontem num programa televisivo que uma das técnicas dos assaltantes era mandarem miúdos tocar às campainhas à procura de casas onde não estivesse ninguém, onde seria mais fácil o assalto.

Ontem foi notícia de relevo a intenção do governo de impôr um imposto de 0.05 € por cada saco de plástico fornecido nas lojas. Claro que a notícia gerou uma série de reacções pouco favoráveis à ideia, até porque as lojas já pagam uma taxa para a reciclagem (seria um imposto duplo, como o IVA sobre o IA), e lá apareceu um sr. secretário de estado (outro...) a dizer que nada disso, que se tratou somente de uma pergunta ao comércio e que a ideia já tinha sido abandonada há semanas.

Uma das técnicas de esquiva dos carteiristas quando são pressentidos é dizerem: "desculpe! Desiquilibrei-me e meti-lhe a mão no bolso por engano".

Hoje foi a ideia da ERSE de fazer os consumidores pagarem os novos contadores com telecontagem, que evitam às fornecedoras pagarem aos funcionários da leitura. Era como se o Jumbo quisesse que pagássemos uma taxa pela utilização das novas caixas self-pay, que lhes poupam pessoal.

Soube-se também hoje que, à luz da nova legislação criminal, os criminosos que não sejam apanhados em flagrante, não podem ser detidos. O polícia tem do os convidar a comparecer no tribunal em determinado dia e hora (não sei se o convite terá de ser formal e com letras douradas!). Só se declinarem o amável convite é que poderão ser detidos.

Há muitos anos, um oficial da GNR explicou-me que as leis são feitas pelos poderosos para manterem o poder.

Há coincidências fantásticas.... Não há?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Cuidado!

A notícia http://dn.sapo.pt/2007/12/04/sociedade/ordem_fala_violencia_psicologica_ama.html dá muito que pensar.

Longe de mim imaginar isto a acontecer num qualquer hospital E.P.E., mas outros poderão imaginar e tentar...

O que me admira é a impunidade com que estas coisas acontecem. Há relatórios, pareceres, tribunais, mas ninguém dá um murro na mesa (ou nos cornos de alguém) e muda a situação.
Então para que serve a firmeza arrogante do sr. ministro?

Imaginem-se no lugar da vítima e a ouvirem "consolações" jurídicas, legais, moralistas e outras...

sábado, 1 de dezembro de 2007

A crise da verticalidade

Dia de greve da Função Pública (agora parece que se diz "emprego público"). O governo e o coro do PS afadigam-se a mostrar verticalidade e firmeza perante as pretensões dos trabalhadores. Queremos, podemos e mandamos!
Ao mesmo tempo vê-se deputados do PSD e do CDS, que ainda há 2 anos, insultavam os funcionários de tudo quanto havia de pior, virem agora na pele de grandes defensores dos ofendidos trabalhadores. Verticalidade flácida e falta de vergonha na cara!
No mesmo dia, lê-se a notícia http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=310780&visual=26&rss=0
É a vez do coro do PS, do PSD e do CDS demonstrarem a mais perfeita falta de verticalidade e sentido nacional.
Talvez seja para agradecerem ao sr. Bush a posição de não querer o ensino do Português nas escolas americanas.
De facto, dado o conhecido gabarito intelectual do senhor em causa, devemos estar gratos por não querer misturar-se connosco. Vade retro!

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Ainda o acidente da A-23

De tudo aquilo que foi noticiado acerca do acidente, há um aspecto que, embora não tenha impacto mediático, deve ser realçado - o funcionamento do sistema de socorro.

Os socorros apareceram em tempo útil e quantidade e qualidade suficientes. A PSP e GNR abriram corredores de emergência até aos hospitais de evacuação. Nos hospitais foram tomadas as medidas adequadas, afastando os meios de comunicação social para local onde não estorvassem a actividade assistencial.

Há um aspecto, noticiado por uma das TVs, que não deve passar em claro: os funcionários do Hospital de Castelo Branco (os mesmos que os governos, desde 2002, querem demonstrar serem uma malandragem que não quer trabalhar e que só com "chicote e cenoura" funciona) apresentaram-se voluntariamente nos seus locais de trabalho para tornarem possível a eficácia da assistência. Certamente que não estavam em regime de prevenção e duvido que exijam o pagamento do trabalho prestado.

É uma coisa que os senhores políticos nunca serão capazes de perceber. Há quem tenha sentimentos e não trabalhe exclusivamente por dinheiro!

Não sendo caso para parabéns, uma vez que não se trata de um acto festivo, devemos prestar o nosso reconhecimento a todos que prestaram o socorro e aos que o coordenaram e que prepararam os planos de emergência, já que uma acção destas não resulta de improvisos.

Legalidades....

Foi noticiado que a GNR de Oliveira de Frades notificou os Bombeiros Voluntários locais de que não poderiam tocar a sirene de alerta durante a noite, porque infringia a lei do ruído, tendo havido queixas de habitantes.

Os bombeiros não têm outra maneira de alertar os voluntários para uma emergência. Pode ser o sucedâneo do medieval sino a rebate, mas é o que há!
Pessoalmente, defendo que os bombeiros devem ser estatais, como a PSP ou a GNR, sendo os voluntários, a existirem, meramente complementares.

A GNR cumpre o seu dever, aplicando estritamente os preceitos legais. Há uns anos, um capitão da BT da GNR opinou para uma TV que a "tolerância zero" não era solução para a sinistralidade rodoviária. Logo o ministro da Administração Interna da época veio dizer que "um capitão da GNR é pago para cumprir a lei e não para pensar". Ficamos esclarecidos...

Não me admira que a lei fosse traduzida automaticamente de um país onde nem se admita a hipótese de os bombeiros serem voluntários. Recentemente, perante as constantes emendas ao Código do Processo Penal, com expressão em Francês e Inglês, fico com as mais sérias dúvidas...

Consequências do "estado de direito"....

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A greve na Função Pública

Quando já se anuncia mais uma greve, como expressão do mais que justificado protesto dos funcionários perante um governo prepotente e insensível, venho fazer uma reflexão sobre a utilidade desta forma de luta no caso da Função Pública e de outros sectores de serviços de utilidade social.

Se procurarmos perceber qual a génese da greve como forma de luta dos trabalhadores, somos levados à era industrial, como forma de pressionar o patronato.
Os lucros do patrão são resultado da venda da produção. Se não produzirmos, o patrão vê os seus lucros diminuídos e tentará um acordo com os trabalhadores que, embora lhe diminua eventualmente os lucros, ainda lhe deixa alguns.
Em resumo, a greve prejudica o patrão, mas poderá trazer benefícios aos trabalhadores.

Vejamos agora o caso das greves de serviços públicos. Embora o "patrão" seja o Povo, a greve é contra o "feitor da quinta", isto é, o governo.
Neste caso, os utentes dos serviços não são atendidos, o que lhes poderá acarretar grandes prejuízos. Estou a ver as pessoas de aldeias que se levantam de madrugada para irem à consulta a uma cidade, gastam uma importância considerável em transportes e vêem os seus propósitos gorados. Claro que não culparão o governo, mas sim os grevistas.
O governo, com a habitual insensibilidade social, está-se nas tintas e até poupa uns trocos em energia eléctrica e papel.
Os grevistas não ganham os dias de greve. O governo arrecada uns milhões de euros.
Resumindo, neste caso, a greve não afecta aqueles que se querem afectar, mas os próprios grevistas e o Povo, que não merece, embora possa dar um grande espectáculo na comunicação social.

É portanto necessário arranjar uma forma de luta que "doa" ao governo e não prejudique os utentes.
Que tal, se em determinada semana se cumprissem estritamente as leis e os regulamentos? Como muitos são contraditórios e desadaptados da actualidade e da realidade, iria criar-se um "nó cego" que, esse sim, iria doer muito ao governo.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A outra vertente do acidente

Hoje a notícia é o acidente da A-23, com todo o rol de desgraças que envolve e que a comunicação não deixa esquecer, aproveitando todos os pormenores para ganhar audiências, o mesmo se prometendo com a romaria dos políticos.

No entanto, há um aspecto de que ninguém fala e que demonstra o verdadeiro drama de centenas, ou milhares, de pessoas que diariamente se arriscam a estar envolvidas em acontecimentos destes, como foi o caso.

Refiro-me à condutora do veículo ligeiro envolvido no acidente: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=13&id_news=303121

Uma jovem professora, com um filho de 9 meses, colocada a 137 km de casa, que tem de percorrer diariamente para garantir o seu ganha-pão.

Esta gente não aufere ajudas de custo nem subsídios de risco e, se protesta, ouve a senhora ministra, com a sensibilidade que lhe é conhecida, dizer que comecem a pensar noutra profissão.

Claro que não interessa falar nisto, parece que nem ao respectivo sindicato....

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Falta de vergonha

Três notícias recentes fazem sobressair a falta de vergonha reinante no país, muito embora em estrito cumprimento da legalidade.

Não vou falar daquele livre que deu a vitória ao Benfica no jogo com o Paços de Ferreira. Esse, além de vergonha, foi um atropelo grosseiro à legalidade.

1 - Um professor, acusado de 20 crimes de abuso sexual de menores, mantém-se olimpicamente a dar aulas http://jn.sapo.pt/2007/11/04/policia_e_tribunais/professor_musica_pedia_sexo_a_alunas.html.
Diz-se que foi avisado pela DREN para ter cuidado. Como parece que durante os actos de que é acusado não contou anedotas sobre os governantes, tudo bem!

2 - Um senhor deputado do PS por Braga está muito indignado por ter sido nomeado, sem concurso, para um cargo de chefia num hospital um senhor que foi candidato do PSD a uma junta de freguesia http://jn.sapo.pt/2007/11/04/norte/nomeacao_hospital_levanta_duvidas_ps.html
Claro que não está indignado com a nomeação pelo PS, pelo PSD e pelo CDS, sem concurso, de elementos para cargos de direcção nos restantes hospitais. Deve ser distraído!

3 - Uma funcionária de uma junta de freguesia, visivelmente incapacitada, foi considerada apta para o serviço por mais uma junta médica da CGA. http://jn.sapo.pt/2007/11/05/norte/piaes_contesta_alta_funcionaria_junt.html
Segundo o "Primeiro Jornal" de hoje, da SIC, o sr. Ministro das Finanças, que tutela o assunto, com a atitude humanitária que lhe é peculiar, afirmou que o assunto estava em análise, mas que "a lei tinha sido estritamente cumprida". Pode a senhora em causa estar descansada. O facto de a lei estar a ser "estritamente cumprida" vai fazer com que não tenha dores e fique imediatamente apta para o trabalho. Quem sabe se ainda não irá a tempo para as competições de ginástica nos olímpicos de Pequim?

P.S. : Horas depois de escrever este post, vi no noticiário das 18H00 da SIC Notícias o sr. Ministro das Finanças afirmar que tinha dado ordens à CGA para rever a situação da senhora e à ADSE para manter a senhora em baixa médica até nova junta. Atitude acertada. Só acho estranho que seja o sr. ministro a determinar quem está de baixa médica. Que dirá a isto a sempre atenta Ordem dos Médicos?

Será que esta gente não tem vergonha na cara?

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Vergonha!

Depois de ler a notícia http://jn.sapo.pt/2007/10/21/porto/guineense_denuncia_acto_racista_plen.html, chego às seguintes conclusões:
- Depois de 33 anos de liberdade de informação, na cristianíssima Braga ainda há uma família (pelo menos uma!) de mentecaptos que julgam haver superioridade rácica ou pessoal num mundo minimamente decente. Só não lhes chamo bestas quadradas para não ofender os pobres animaizinhos que devem ter princípios superiores aos deles.
- A PSP descarta-se atrás do "Estado de Direito", argumentando com as referências jurídicas do costume.
- A ofendida perguntará, como eu ou qualquer outro menos versado nos insondáveis mistérios dos códigos jurídicos: então para que serve a Polícia?
- É óbvio que a culpada é a senhora guineense, que devia ter lido todos os Diários da República (e antes os Diários do Governo) desde o n.º 1 e ser, pelo menos, licenciada em Direito.
- Tenho vergonha!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Professores, espiritismo e espaço-tempo

De há uns meses para cá, temos tido notícias de factos verdadeiramente extraordinários, envolvendo os professores.
Tais factos, por estarem muito fora do que seria de considerar normal nos dias de hoje, merecem que os analisemos.
Comecemos por enumerá-los:
- Caso de bufaria na DREN;
- Atitude feudal da sr.ª ministra e demais dirigentes do Ministério da Educação;
- Atitude corporativa e retrógrada do Sindicato dos Professores, ao não aceitar como normal que a carreira docente tenha uma estrutura hierárquica, como todas as outras da Função Pública incluindo os docentes do ensino superior, confundindo igualdade com igualitarismo, como se estivéssemos no PREC de 1975;
- Declarações do sr. Primeiro-Ministro, considerando todos os que não concordam com ele como comunistas;
- Visita preventiva da PSP ao Sindicato dos Professores, na Covilhã;
- Justificação da sr,ª Governadora Civil de Castelo Branco, afirmando que aquela visita era perfeitamente normal em véspera de visita de membros do governo.
Analisando estes factos, surgem-me, como em qualquer estudo, duas hipóteses que mutuamente se excluem:
- HIPÓTESE A: Os membros do governo em questão não são democratas e defendem atitudes próprias de regimes totalitários e a direcção do Sindicato dos Professores é composta por pessoas totalmente fora da realidade de um estado democraticamente organizado.
- HIPÓTESE B: Estamos perante fenómenos de mediunismo e de enrugamento do contínuo espaço-tempo.
A hipótese A deve obviamente ser rejeitada, por absurda, ridícula e sem qualquer relação com a realidade.
Já a hipótese B é muito mais plausível. De facto, tudo leva a crer que haja fenómenos de mediunismo (possessão por espíritos) e perigoso enrugamento do contínuo espaço-tempo. Se não, vejamos:
MEDIUNISMO- As declarações do sr, primeiro-ministro em Montemor-o-Velho, atribuindo a qualidade de comunistas a todos os que mostravam desagrado pela governação. Pelo que foi dito, não era certamente o responsavel máximo pelo P.S. que estava a falar. Devia estar possuído pelo espírito daquele senhor de Santa Comba, cujo espírito deve pairar pelas margens do Dão e do Mondego, e que dizia a mesma coisa.
Também os polícias que foram visitar o Sindicato na Covilhã deviam estar possuídos por espíritos de antigos agentes da PIDE, que por ali andavam quando a Covilhã era um importante centro operário, com a perigosa vizinhança do Jornal do Fundão.
ENRUGAMENTO DO ESPAÇO-TEMPO - Aqui cabem os casos de bufaria, atitudes feudais da sr.ª ministra da Educação e demais dirigentes do ministério, atitude retrógrada do Sindicato dos Professores e justificação da sr.ª Governadora Civil de Castelo Branco e todos os factos obviamente fora do tempo actual. Não há dúvida que o contínuo espaço-tempo deve estar enrugado como um papel que se enruga na mão, fazendo coincidir pontos da folha que normalmente estariam muito afastados.
Não sei se Einstein previu esta hipótese, mas parece-me merecer ser tema de uma tese de doutoramento (há piores...).
Como tal estudo exigirá cientistas do mais alto gabarito, proponho desde já licenciados pelas universidades Independente, Moderna e Internacional.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Os professores e os incentivos à natalidade

Aquilo que disse no post "Educação feudal" caiu-me em casa.
A minha nora, educadora de infância com um filho de 12 meses de idade, foi colocada num Jardim de Infância numa freguesia, de cuja existência nem desconfiava, a 120 km da residência.
Até aqui nada de anormal, dentro da "normalidade" do nomadismo dos professores.
Quando ela, dada a grande dificuldade, risco e custo de deslocação diária de 240 km, se preparava para alugar um alojamento lá na terra e colocar o filho numa creche, chegou à conclusão de que a creche mais próxima fica a 16 km e pertence a uns senhores a quem a A.S.A.E. já encerrou uma outra creche por falta de condições de higiene. Resumindo, não há creche.
Em 2 períodos de 6 horas que passei nessa localidade percebi porque é que não há nem haverá creche. Falta "massa crítica". Não há bebés!
Para solucionar o problema, uma vez que, com a aproximação do Inverno, cada vez o acesso à localidade será mais difícil, solicitou superiormente autorização para levar o filho para o Jardim de Infância. Foi-lhe negada a autorização.
Perante esta situação, solicito que alguém me responda às seguintes questões:
- O Ministério da Educação pertence ao mesmo Governo que alardeia recentes incentivos à natalidade?
- Depois de se aproveitarem os incentivos, que se faz aos bebés filhos de professoras? Metem-se num saco e deitam-se ao poço, como faziam aos gatos?
- Será que é o modo de se livrarem das professoras, que poderão ter de acabar por se demitir, contribuindo assim para a "reforma da Administração Pública"?
- Ainda haverá neste país algum político com um mínimo de coerência e vergonha na cara?

A A.S.A.E. e os hospitais

Hoje foi notícia de manchete o encerramento das cozinhas de 3 hospitais pela A.S.A.E..
Não ponho minimamente em causa as razões dos encerramentos que, certamente, só pecarão por defeito.
As causas são a extinção compulsiva, há mais de 10 anos, das cozinhas hospitalares, entregues à exploração de privados, cujo objectivo óbvio e natural é a obtenção das maiores receitas com as menores despesas, aliada a décadas de falta de investimento em tudo o que não dê notícia de abertura de telejornal.
Interessante é o facto de, tanto a A.S.A.E. como a Inspecção do Ambiente, só actuarem sobre os hospitais depois de passarem a empresas e não enquanto serviços da Administração Central.
Isto é, passaram-se os hospitais a empresas para desorçamentar as respectivas despesas (sempre o sacana do défice!) e agora aplicam-se-lhe coimas para ainda sacar mais uns trocos para as receitas do orçamento.
Não me lembra de ver noticiado que as inspecções tenham actuado sobre quartéis ou estabelecimentos prisionais, onde certamente encontrariam sobejas razões de acção.
Porque será que , tanto os edifícios militares como os da segurança, ficaram isentos das obrigações da nova legislação da certificação energética?
A defesa da saúde pública e do ambiente é só parcial?

sábado, 15 de setembro de 2007

As contas dos hospitais S.A./E.P.E.

Antes de mais, e em jeito de declaração de interesses, quero afirmar que não nutro o mínimo de simpatia pela figura dos hospitais S.A./E.P.E., cuja instituição arruinou as minhas aspirações de progressão na carreira e de vir para a reforma com mais uns "trocos" na pensão.
Com a instituição dessa nova modalidade, o descaramento partidário, que já vinha dos tempos da ministra Beleza, tomou novo alento, tendo o poder nos hospitais sido ocupado pelos afilhados partidários, alguns com curriculum de levarem empresas à falência, e distribuindo lugares por quantos "jotas" apareciam, com ultrapassagem de funcionários de carreira com algumas décadas de serviço.
Na semana passada esteve muito em destaque o facto de alguns hospitais E.P.E. apresentarem lucros.
Não posso acreditar!
O último caso de hospital estatal com lucros de que me recordo foi há cerca de 25 anos, um hospital que transferia todos os doentes que apareciam na Urgência (nem saíam das ambulâncias) e imputava tratamentos na Urgência a todos. Como os financiamentos eram "à peça", tinha lucros.
Acredito que tenham reduzido bastante as dívidas.
Seja dito em abono da verdade que nos hospitais da Administração Central nunca se fizeram contas devidamente. A contabilidade analítica era, em grande parte, feita "a olho", interessando que, no final, o número correspondente às receitas fosse rigorosamente igual ao correspondente às despesas, não interessando como nem porquê. Julgo que esta situação se mantenha na maioria dos serviços públicos. Quem avalia se reparar uma cadeira é mais caro que comprar uma nova?
Também é verdade que a legislação das despesas, feita ainda em grande parte pelo dr. Salazar, há 70 anos, para um país, um regime e um mundo que existiam na altura, empurra muitas vezes para situações absurdas em termos económicos.
Por exemplo, se um serviço público necessita urgentemente de uma viatura, não pode comprar sem inscrição no PIDDAC, levando a aquisição para um prazo de cerca de 2 anos, se correr bem. Resta a hipótese de tentar o recurso a uma viatura do parque de apreendidos da P.J., alguns com anos de abandono. Obtido o carro, procede-se às reparações necessárias para que possa circular. Chega a gastar-se 5.000 € numa viatura que comercialmente não vale 2.000. Mas cumpriu-se a lei e os regulamentos e ficaram todos muito contentes com a poupança!
Se os serviços públicos funcionassem como empresas (não necessitam de o ser), haveria quem fizesse as contas mínimas, com poupanças efectivas e melhoria do malfadado défice.
Por isso acredito na diminuição das dívidas dos hospitais E.P.E..
Essa diminuição poderia ainda ser maior se pagassem aos seus fornecedores a 30 dias efectivos (cerca de 30% de poupança), embora isso estragasse o negócio parasita das empresas de facturing.
Outra consequência, nefasta e delapidadora dos dinheiros públicos, das dificuldades do processo de aquisição de equipamentos, foi o deixarem estabelecer, na década de 1990, o sistema de instalação de equipamentos de laboratório contra-consumo. Como o sistema não permitia que se renovassem os equipamentos de análises clínicas ao ritmo das necessidades da medicina, decorrentes do aparecimento de novos exames a um ritmo similar ao do desenvolvimento da informática, os laboratórios fornecedores de reagentes propuseram o fornecimento "gratuito" dos equipamentos sempre os mais modernos, calibrados para só funcionarem com os reagentes deles, com um contrato de fornecimento de reagentes aos hospitais, ao preço que o laboratório determinava e com quantidades mínimas de consumo. Espartilhados entre a infracção das sacrossantas leis de aquisição de bens e a transformação dos laboratórios em museus, os hospitais aceitaram.
Hoje, só pertencem aos hospitais os equipamentos de análises que não utilizam reagentes e não é possível adquirir equipamentos "abertos" (que utilizem reagentes de qualquer marca).
Posso afirmar que uma lâmpada de halogéneo, que custa 5 € em qualquer supermercado, passou a custar 500 €, porque vem inserida num suporte calibrado para determinado equipamento.
Começam a perceber donde vem o défice da saúde?
Isto são só algumas pontas de muitos "icebergs" existentes e decorrentes do facto de, na Administração Pública, não se fazerem contas, a ponto de os fornecedores estranharem quando alguém lhes demonstra por a+b que nos estão a tentar enganar. Já me responderam: Mas ninguém faz essas contas!!!!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Educação feudal

O Ministério da Educação acabou de dar mais uma prova de actuação com desprezo pelos professores, numa atitude que só pode classificar-se de feudal. A Senhora dispõe e os servos (atentos, veneradores e obrigados) executam.
Aconteceu com o concurso de colocação de professores, cujos resultados saíram cerca das 21H00 do dia 31 de Agosto, sexta-feira. Os professores deveriam apresentar-se nos locais que lhes foram destinados na manhã do dia 3 de Setembro, segunda-feira seguinte.
Muitos teriam de se deslocar muitas dezenas, até centenas, de quilómetros das suas residências, para terras de cuja existência provavelmente nem desconfiariam.
Trata-se de gente, provavelmente com família, cuja deslocação implica procura de alojamento, colocação dos filhos em escolas e creches, etc.
Claro que nada disto afecta os dirigentes do Ministério da Educação, residentes em Lisboa (os que são da "província" nem querem que lhes lembre!), para quem o país só existe entre a Ota e Alcochete. Dentro deste espaço, dada a proximidade, não existem os problemas citados.
Por outro lado, os professores são uma classe perigosa, que apresenta o risco de alguns quererem ensinar os alunos a pensar.
Sabemos que foi o pensamento do Renascimento que acabou com o feudalismo.
Assim, estas atitudes autoritárias e prepotentes do Ministério da Educação parecem ser uma reacção de auto-defesa de uma classe política que se imagina a viver nos tempos feudais.

domingo, 26 de agosto de 2007

Medievalices....

Por todo o lado estão e realizar-se festas medievais, desde as que são a cargo de profissionais, com muita qualidade e dimensão, àquelas produto de esforço de alunos de escolas e associações que, com muito estudo e dedicação, lá vão fazendo o que lhes parece mais próximo do que terá sido a vivência da sua terra na Idade Média.

Todas elas têm o seu mérito cultural e até turístico, mas devem ser vistas com a distância de um museu interactivo, sem nos deixarmos envolver por uma realidade virtual, que pode não ter retorno.

É que me parece que alguns políticos se deixaram influenciar demasiado pelo ambiente medieval, a ponto de quererem impor procedimentos que terão sido aceitáveis há 600 anos, mas hoje são perfeitamente inaceitáveis.

Foi o caso dos funcionários dos hospitais que passaram a S.A. em 2002, que alguns dos novos "patrões" afirmavam publicamente tratar-se de uma espécie a abater, tratados como servos da gleba, transaccionados com a instituição sem que ninguém se preocupasse com as suas legítimas aspirações e expectativas de carreiras e realização profissional. Ainda há poucos meses, num caso de conflito laboral, o Tribunal Administrativo não aceitou o caso por se tratar de uma empresa e o Tribunal do Trabalho também não aceitou por se tratar de funcionários do Estado. Ou seja, nem têm a dignidade de funcionários do Estado nem a dignidade de trabalhadores por conta de outrem. São simples "servos da gleba", que só merecem existir enquanto forem úteis ao "senhor".

Agora, um senhor que sempre se julgou dotado da infalibilidade papal, vem defender que o Estado não deve indemnizar aqueles a quem cause danos, em nome das sacrossantas finanças públicas.

Lembra os direitos feudais de vida e morte dos senhores sobre os servos e respectivos bens.

Só falta agora que apareça outro a reclamar o "direito de pernada"!

Acordem senhores!

Estamos no ano 2007, época em que as pessoas decentes indemnizam os aqueles a quem causam dano.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Ecologia e transparência

O concurso a que se refere a notícia http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/50ZnIIZQGv9oayIsf4D3RQ.html é um bom exemplo de saudável humor, isenção e transparência. Parece que não haverá grandes possibilidades de influenciar o árbitro - a vaca. Por outro lado, é muito ecológico.
Dirão que é uma grande porcaria, mas comparado com a história dos financiamentos partidários para adjudicação da A17, até me parece muito limpinho.

domingo, 19 de agosto de 2007

Energúmenos e milho trangénico

Antes de mais, quero esclarecer que sou adepto da agricultura biológica (o mais possível), da ecologia, da gastronomia tradicional e que fico mal disposto só de passar à porta do McDonald (salvo seja!).

Ontem um grupo de cerca de uma centena de energúmenos, auto-intitulados de ecologistas, destruiu um campo de milho trangénico devidamente licenciado.

Uma patrulha da GNR (2 elementos?) assistiu aos acontecimentos sem intervir, afirmando-se que identificou alguns, portugueses, não tendo identificado a maioria por serem estrangeiros sem identificação.

Eu compreendo que poucos elementos da GNR de uma aldeola não tenham meios para fazer frente a uma centena de energúmenos profissionais, mas o Comando geral tem obrigação de dar uma explicação minimamente inteligente. Se eu estiver num bar à noite e entrar uma rusga da GNR, se não tiver identificação fico detido até que ela apareça. Parece que ser português em Portugal é um handicap.

Também se diz no comunicado do Governo que foram cumpridos todos os trâmites legais para possibilitar uma acção criminal posterior e que, tratando-se de um crime semi-público, a GNR só poderia intervir após queixa formal da vítima. Isto é, se alguém me agredir em frente a um agente da autoridade, ele só pode intervir após queixa formal minha.

De minha parte, depois de morto podem meter os polícias onde melhor lhes aprouver!

Confirma-se o que se disse no meu último post: a legislação não pretende evitar os crimes, mas puni-los (se os advogados deixarem!).

Os organizadores da destruição, armando-se em heróis defensores da nossa saúde e bem-estar, não passam de um bando de cobardolas com actuações comuns aos nazis, Ku Klux Klan, Talibans e outros que pretendem impôr ao mundo a "sua" verdade.

Se não concordam com a autorização de plantação do milho trangénico (eu também tenho dúvidas!) e querem destruir alguma coisa, vão destruir quem autorizou - o Ministério da Agricultura. Mas aí são capazes de enfrentar polícias de intervenção, GOE, etc. e, para isso, falta-lhes um produto agrícola fundamental: TOMATES!

Já agora, só uma dúvida. Não se tratará de uma "guerra" de vendedores de sementes de milho trangénico?

É que, de esquerdistas de BMW estou farto!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Segurança faz-de-conta

A leitura das notícias http://jn.sapo.pt/2007/08/15/porto/morte_menina_realca_lacunas.html e http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=50516 levam-me a pensar que a legislação portuguesa, que se diz defender a segurança, assegura sim que seja fácil assacar responsabilidades a alguém por qualquer acidente, a quem se aplicam as respectivas sanções.
Para mim, segurança, seja "safety" ou "security", implica principalmente evitar as ocorrências, muito mais que as punir. A punição só terá efeito dissuasor, mas não evitará, de facto, as ocorrências.
A primeira notícia refere-se à ocorrência infeliz da morte de uma criança electrocutada numa pista de carrinhos de choque. Não interessa discutir agora as causas da electrocussão, nem para tal tenho elementos. O que quero pôr em causa é a ligeireza do licenciamento e a falta de fiscalização.
O decreto-lei 309/2002, que regula o assunto, é tão vago e impreciso que mais parece um esboço de projecto de decreto-lei. Diz que os equipamentos devem ser objecto de uma inspecção por uma entidade certificada, que não diz qual é, acreditando-se depois num termo de responsabilidade do proprietário.
Como ficou demonstrado pelos factos, no meio de toda esta indefinição, ninguém tecnicamente responsável vistoria os equipamentos, isto é, embora em teoria se pretenda assegurar a segurança do funcionamento, na prática nada se faz para impedir acidentes.
Quanto às coimas, já a legislação é cuidadosa e precisa.
A segunda notícia refere-se a uma coisa que considero extraordinária: toda a gente sabe que tanto o alcool como as substâncias psicotrópicas são perigosas no acto da condução. A legislação diz, e muito bem, que um condutor apanhado com excesso de alcoolémia seja impedido de conduzir durante um período de segurança. Só não consigo perceber porque é que um condutor apanhado com substâncias psicotrópicas não é impedido de continuar a conduzir, aguardando-se 30 dias por decisão judicial, que será de prisão se foram postos em perigo os restantes utentes da via pública.
Ou há perigo na condução sob efeito de psicotrópicos e o condutor deve ser impedido de prosseguir, ou não há perigo e a aquisição de todos aqueles equipamentos foi um desperdício inútil de dinheiro.
Em qualquer dos casos que citei, parece-me que não há grande preocupação com a segurança (evitar ocorrências desagradáveis), havendo sim com as punições.
Este conceito de segurança não coincide com o meu.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Lição de ecologia

Fui passar o fim de semana a um terreno (não sei se tecnicamente é uma quinta) que um familiar comprou no concelho de Póvoa de Lanhoso, um pouco a Sul da barragem da Caniçada. Talvez já seja serra do Gerês.

O terreno tinha as ruinas de uma velha casa (4 paredes de granito ao alto) encaixada num recanto de um grande afloramento granítico redondo, com cerca de 20 m de diâmetro, no meio de uma floresta de pinheiros, eucaliptos e carvalhos.

Pode imaginar-se, há vários séculos, um abrigo de pastores feito com uns paus ao alto cobertos a colmo, que depois evoluiu para uma pequena casa de granito rústico, com dois pisos de pouco mais de 20 m2 cada um, o superior para as pessoas e o inferior para os gados (possivelmente caprinos e ovinos).

O meu familiar reconstruiu essa casa, mantendo todo o rústico existente, e alargando a construção, mas sem ferir a pedra existente. Resultou uma casa com algumas paredes interiores em granito rústico à vista, aproveitando até o rochedo existente, salas com uma rocha a sair de um canto, etc.. O telhado assente em vigas de madeira integra-se perfeitamente no ambiente.

Fora, num pequeno aterro suportado por muro de pedra rústica, construiu uma piscina com todos os necessários.

Na base da grande pedra há o espaço para a horta.

Quando ali estamos, sentimos estar realmente na natureza, já que a casa pouco sobressai daquela serrania majestosa.

Poderá dizer-se que não há aqui nada de notável. Eu acho que há.

Em face dos atentados paisagísticos e ecológicos a que assistimos todos os dias, temos aqui um exemplo de como se pode fazer uma coisa com qualidade sem ferir a paisagem, continuando simplesmente o que outros tinham feito no mesmo local.

Outras pessoas, teriam derrubado a casa existente, rebentado com a penedia para criar espaço e construído uma casa modernaça.

O meu familiar não é arquitecto e muito menos paisagista. É um homem que sente e compreende o apelo da terra e da natureza.

Um grande abraço de agradecimento para ele.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Protocolo notável

A notícia http://www.asbeiras.pt/?area=coimbra&numero=47141&ed=02082007 refere um protocolo entre dois hospitais integrados no SNS, o que pode parecer perfeitamente normal e sem nada de notável.
No entanto, quem esteja por dentro dos problemas da Saúde, sabe que estamos perante um desmoronar de muros de "quintas", que é mesmo notável. Parabéns aos intervenientes!
Caso continuem por este caminho, terão de ter cuidado com o IPPAR. É que há "muros" tão vetustos que deve ser necessária a intervenção de arqueólogos para os demolir.
Quem esteja por fora, talvez desconheça a dificuldade para, dentro do mesmo hospital, mudar uma cama vazia de um serviço, onde está vaga, para o serviço contíguo, onde faz falta. É uma luta que pode demorar meses, tal o espírito de "quintinhas" criado desde há muitos anos.
Pude testemunhá-lo várias vezes ao longo da minha vida profissional. É mesmo uma das causas do descalabro financeiro do SNS. Duplicam-se equipamentos e exames, só porque cada director de serviço quer ter os "seus", muitas vezes sub-aproveitados.
Por exemplo, no tempo do ministro Gonelha, estive numa reunião dos responsáveis de hospitais e centros de saúde, onde o ministro propôs que o processo clínico acompanhasse o doente do centro de saúde para o hospital. Nada mais lógico, para quem pense em termos funcionais. Ouviu um rotundo NÃO da parte dos representantes dos centros de saúde, porque viam nisto uma supervisão do hospital ao seu trabalho.
Também durante um inventário nacional de equipamentos em que participei, agora no tempo da ministra Leonor Beleza, encontrei no "quintal" de um hospital do distrito de Aveiro, à chuva, um equipamento móvel de radiologia, novo, só porque não cabia nas portas. Quem o tinha comprado, não tinha estudado a adequação do equipamento ao local. Não me consta que tenha sido transferido. Pertencia àquela "quinta"!
Na mesma ocasião, encontrei num centro de saúde um conjunto de equipamentos para instalação de um laboratório de análises, encaixotado. Ainda lá deve estar, se não aproveitaram os caixotes para a lareira.
A ministra tentou rentabilizar os equipamentos, retirando-os de onde estavam inoperantes para os colocar onde faziam falta. O resultado é conhecido: patins na ministra.
Perante isto, digam lá que não é notável, digno de registo e dos maiores encómios, o protocolo entre dois hospitais, um geral e um psiquiátrico.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Políticas de emprego e apoio á natalidade

Foi hoje publicado no D.R. o D.-L. 276-A/2007 http://www.dre.pt/pdf1sdip/2007/07/14601/0000200003.PDF
Pode ver-se que se proíbem os contratos para além do total de 1 ano para cada pessoa, e só para os considerados "da saúde". É que, por muito estranho que pareça, todos aqueles que não trabalham directamente com o doente não são considerados trabalhadores da saúde.
Gostava de saber como é que os iluminados que fazem as leis imaginam um hospital ou outra qualquer unidade de saúde a funcionar sem todo o apoio logístico dos "estranhos à saúde".
É como um carro a trabalhar sem motor!
Este exemplo de sacrossanta ignorância já vem expresso na legislação que institui os hospitais S.A., em 2002. Como as cabeças não são muito diferentes, não admira...
Este diploma só vem dar razão ao meu post de 24 deste mês sobre o despedimento de uma enfermeira.
Já é mania das grandezas! Não era preciso um decreto-lei. Bastava um comentário no blog!

domingo, 29 de julho de 2007

Será que li bem?

Depois de ler a notícia http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/9YzSI3IzI0e1iAY4rSot6w.html, fico perplexo e com uma dúvida fundamental:
A directora da DREN depende da hierarquia do Ministério da Educação ou das estruturas do aparelho do PS?
É que, se depende das estruturas partidárias, estamos muito próximos da Roménia do sr. Ceausescu e da Albânia do sr. Enver Oxa e muito longe do Portugal de Abril.
E não digo isto por se tratar do PS. Defendo que, num país decente, a Administração Pública, abaixo de Director-Geral, é independente das estruturas partidárias.
De outro modo, corremos o risco de ter um analfabeto, mas muito obediente a um partido qualquer, como director da DREN, da DREC ou de um hospital.

A tasca de Osaka

Estas coisas das memórias são como as cerejas; encadeiam-se umas nas outras.

A propósito do prestígio dos portugueses no Oriente, veio-me agora à memória de um episódio muito significativo numa tasca de Osaka, Japão.

Em 1993, o Grupo de Danças e Cantares do Clube de Macau, que já referi, foi convidado a deslocar-se ao Japão e Coreia para participar, com o presidente Mário Soares, nas comemorações dos 450 anos de relações de Portugal com aqueles povos.

Integrado no grupo ia um dos portugueses que, sem dúvida, muito contribuiram para o prestígio de Porugal e dos portugueses no mundo, embora nunca estivesse em qualquer ribalta e fosse o mais discreto possível - o meu saudoso Amigo Leonardo. Foi um jurista de grande qualidade em Portugal, Angola e Macau, tendo sido um dos seus últimos trabalhos a reunião o organização de toda a legislação publicada em Macau, com vista à eleboração da base de dados jurídica LEGISMAC. Era ainda um virtuoso tocador de bandolim e lídimo representante do espírito tradicional da Academia de Coimbra.

Enfim, daqueles que, no lugar do personagem do Eça, poderiam intitular-se "português d'aquém e d'além-mar". Um Homem com valor máximo e arrogância nula, como imagino o representante do meu povo.

Sendo cerca da seis e meia da tarde, em Osaka, alguns de nós, mais amantes de conhecermos as terras pelo convívio real com os habitantes e não pelos rótulos do turismo, resolvemos ir tentar comer qualquer coisa a uma tasca vulgar. Estava cheia! Muita gente com ar eufórico, indício de não estarem propriamente a beber refrescos.

Acercámo-nos do balcão e logo alguém de uma mesa próxima quis saber a nossa nacionalidade.

Somos portugueses.

Logo se gerou em toda a tasca um borborinho danado, cada um querendo mostrar-se mais hospitaleiro que o vizinho. Sabiam que os portugueses eram um povo extraordinário, que tinha iniciado as relações do Japão com o resto do mundo em 1543 e que muito tinha contribuído para a construção do Japão moderno. Tivemos de comer e beber com eles e saímos de lá já bastante "quentes " do saké, mas com o "ego" do tamanho do universo.

Então nós, que só íamos beber uns copos e comer uma bucha, saíamos dali armados em deuses, sem saber muito bem porquê!

Analisando isto a frio, não se tratou daqueles discursos inflamados, muito preparados, dos meios diplomáticos. Era mesmo o "Zé-povo", com a sua autenticidade, a homenagear, em nós, 450 anos de história comum. Somos mesmo um grande povo!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Coisas da memória...

Desde há uns dias que, não sei porquê, não me sai da cabeça a memória de uns acontecimentos passados em 1973. Parece que pedem que os publique. Cá vai!
Na altura, chefiava eu as Oficinas de Quelimane dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), com cerca de 200 trabalhadores, quando chega a notícia da visita de alguém muito importante, não sei já se o governador se o ministro do Ultramar.
Claro que se organizou logo uma manifestação espontânea, com comboios vindos do interior com milhares de pessoas ávidas de conhecer e vitoriar tão ilustre visitante, devidament enquadrados pelos Chefes de Posto e respectivos cipaios. Houve também ordem de fechar as oficinas nesse dia.
Acontece que a maioria dos trabalhadores eram eventuais pagos por obras, isto é, eram pagos pela imputação à obra em que trabalhassem e só do tempo em que o fizessem.
Como havia um encerramento compulsivo das oficinas, pôs-se-me o problema de como actuar. Não podia pagar-lhes pelas obras em que não estavam a trabalhar porque isso iria ultrapassar os orçamentos iniciais. Também não era justo não lhes pagar, pois o encerramento era compulsivo e não tinham culpa da visita do sr. importante. Por outro lado, se não lhes pagasse para vitoriarem o sr. importante, podia ter problemas com a polícia política.
Como já sabia que, nestas coisas, quem se lixa é o mexilhão e que as ordens orais são repentinamente esquecidas, solicitei instruções por escrito.
Passados dias tinha 2 agentes da PIDE, desculpem, DGS, a convidar-me para beber uma cerveja.
Esta confusão da designação vem de que a PIDE tinha acabado há pouco tempo, sendo substituída pela DGS. Isto é, mudaram o rótulo à garrafa, mas o conteúdo era o mesmo. Parece que a culpa era dos madeirenses. É que, com a maneira peculiar de pronunciarem os "ii", o nome da prestimosa organização prestava-se a dichotes jocosos nos recônditos mais escondidos das casas. Nesse tempo, ainda não havia este excesso de liberalismo de também se poder brincar com estas coisas nos cantinhos dos cafés!
Lá tive de beber uma Manica média com eles e explicar-lhes a situação, que pareceram compreender.
Passados alguns meses, tive a resposta oficial de que não era oportuno dar instruções sobre o assunto.
Mas por que será que, nos últimos dias, não me sai isto da memória? Deve ser da idade....

Portuguesismos - 2

Antes de mais, quero deixar muito claro que a ideia de portuguesismo presente nestes meus escritos nada tem a ver com o patrioteirismo barato das bandeiras do sr. Scolari ou das cantadelas do Hino do sr. Paulo Portas, e muito menos com o pseudo-nacionalismo racista duns palermas que para aí andam a fazer a barba na cabeça.
Trata-se, antes, do sentido, por vezes mítico, de pertença a um povo feito de muitos povos e criador de alguns outros.
Em 1993, o Grupo de Danças e Cantares do Clube de Macau, de que eu fazia parte, deslocou-se a Singapura para participar na Shinghai Parade (Desfile etnográfico internacional por altura do Ano Novo chinês), levando a incumbência do governador de Macau de contactar uma associação chamada Eurasian Association, à qual se entregariam cassetes áudio e vídeo de música portuguesa.
Chegados à sede da associação, num velho aeroporto desactivado, fomos recebidos como velhos familiares. É que a Eurasian Association associa descendentes dos portugueses que andaram naquelas paragens há 300 anos, e qua ainda se assumem como portugueses, embora juridicamente não o possam ser.
Aquela gente, bem colocada nos negócios e com lugar no Conselho Social do Governo, ainda fala um dialecto português, o Papiar Kristang, misto do português o sec. XVII e do malaio, que os velhos ensinam semanalmente aos jovens. Quem tenha lido o português antigo (Fernão Lopes, por exemplo) consegue manter uma conversa com eles.
Também têm um grupinho folclórico mais ou menos português, mas com particularidades locais - os rapazes e as raparigas não dançam juntos - e que acaba sempre as danças, imitação das nossas, com "olé!".
Na sede da associação têm quadros com as árvores genealógicas das diversas famílias, sempre encimadas pelo português do sec. XVII.
Fiquei com o ego do tamanho de um estádio. Eu pertencia ao povo a que aquela gente prestava tais homenagens!
Quando disseram que a razão de levarmos as cassetes era que, andando há mais de 10 anos a pedir uma cassete de música portuguesa pelas embaixadas e consulados de Portugal em toda a região e mesmo em cartas para o governo em Lisboa, sem qualquer resposta, tiveram então a ideia de pedir ao bispo de Macau, chinês, amigo deles, para intervir junto do governador, fiquei envergonhadíssimo. Se tivesse um buraco no chão, escondia-me lá.
Então eu pertencia ao povo que tinha eleito para governos os imbecis que não tinham arranjado uns míseros 700 paus para mandarem uma cassete áquela gente tão generosa?!
Se fosse para comprar um porta-aviões certamente tinham aparecido uns trocos!!
Entregámos as cassetes e cantámos e dançámos com eles numa almoçarada de comida também luso-malaia de estalo.
"Digam lá qual é mais excelente...."

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Portuguesismos - 1

A propósito das recentes declarações do sr. José Saramago acerca da integração de Portugal numa Ibéria (eufemismo de Espanha), talvez fruto de um misto de megalomania e senilidade, quero deixar aqui a memória e a minha homenagem ao português mais português que eu conheço.
Se não conhecesse pessoalmente os intervenientes, não acreditaria na história que passo a contar.
Em meados da década de 1980 apareceu nos Serviços de Identificação de Macau um pedido da embaixada de Portugal em Pequim a pedir a confirmação de identidade de determinado indivíduo.
Um funcionário macaense dos Serviços de Identificação telefonou a um amigo de infância, inspector da P.J., dizendo: "Há aqui um ofício da embaixada em Pequim a pedir a confirmação da identidade de um chinês que diz que é filho do teu pai".
O inspector ficou passado. Ele, que já tinha cinquenta e tal anos, nunca tinha ouvido falar da simples hipótese de ter um irmão chinês. Resolveu investigar...
Pediu a um outro amigo de infância, que residia na China, que tentasse entrar em contacto com o tal chinês, residente e mecânico dos autocarros em Hainão. A resposta chegou dias depois: "O gajo é a cara do teu pai!".
Mal refeito da quase certeza de ter um irmão que desconhecia, reuniu com outro irmão e resolveram ir a Hainão conhecer o novo irmão. Então, souberam da história:
O pai tinha tido um caso com uma chinesa, nos anos 30. Como nessa época era impensável o casamento de um português com uma chinesa, como se pode ler em "A trança feiticeira" de Henrique Senna Fernandes, embora o português assumisse a paternidade do filho, a chinesa teve de fugir para a China e levou a criança e respectivos documentos.
Só que disse sempre ao filho que não era chinês, mas português, como atestavam os documentos. E o rapaz assumiu a nacionalidade portuguesa como ponto de honra, a ponto de se recusar a ir para a tropa em plena revolução cultural maoista, pois afirmava que não era chinês.
Como resultado, esteve preso e em trabalhos forçados durante vários anos. Podemos imaginar as condições prisionais da época e no contexto da revolução cultural. Não eram propriamente as de um hotel...
Só depois de acalmada a "febre" da revolução cultural maoista e do estabelecimento da embaixada de Portugal em Pequim, tentou fazer chegar os documentos à embaixada, para conseguir a comprovação da nacionalidade portuguesa, o que conseguiu, já com a ajuda dos irmãos, por meados dos anos 90.
Em 1999 tive o prazer de os receber na minha casa da Figueira da Foz. Ele vinha sozinho, porque a mulher estava à espera de autorização para se deslocar de Hainão, há 4 anos...
Qual de nós teria a coragem de enfrentar o que este homem enfrentou, só pelo orgulho de ser português?

terça-feira, 24 de julho de 2007

A A14 e os incentivos à natalidade

Não. Não vou fazer outra vez o choradinho dos nascimentos nas estradas. Acontece, sempre aconteceu e não há modo de impedir que aconteça.
Vou contar a história de uma jovem enfermeira, vamos chamar-lhe A14 porque a A17 ainda não está acabada, a trabalhar a contratos a termo certo num hospital, há cerca de dois anos e meio.
Esteve sempre num serviço onde trata com a maior dedicação de equipamentos extremamente sensíveis, no valor de vários milhares de euros, cujas avarias custam, no mínimo, 3 mil euros.
À custa dela, sempre procurou melhorar os conhecimentos relacionados com o serviço e os seus equipamentos, frequentando, a seu encargo, todas as formações e congressos possíveis.
Na sua condição de contratada a prazo, chegou a ser obrigada, com ameaças de não renovação do contrato, a trabalhar muito para além do horário normal, só porque era o horário possível para o médico com quem trabalhava.
Todo este interesse e dedicação teve a contrapartida normal na Administração Pública actual: FOI DESPEDIDA!
Perdão. Não foi despedida porque não tinha vínculo ao hospital. A verdade é que não lhe foi renovado o contrato com o argumento, publicado num jornal lá da terra, de que nenhum contratado a termo certo pode fazer 3 anos de contrato.
Se fizesse, tinham de a contratar sem termo...
Ah! Parece que também não tem cartão partidário...
Para além da estupidez de se perder todo o "know how" adquirido ao longo deste tempo e da dificuldade de transmitir esse conhecimento a uma nova pessoa, com possíveis repercussões no estado dos equipamentos, temos uma flagrante contradição com as apregoadas boas intenções do sr. Primeiro-Ministro.
Então prometem-se incentivos à natalidade, com aumentos de subsídios, e nega-se a segurança de emprego essencial a quem queira ter filhos?
É que, sem segurança no emprego, só um irresponsável se arrisca a ter filhos.
E a qualidade de "irresponsável" deve aplicar-se aos juizes (é da Constituição), mas nunca aos enfermeiros.
Claro que esta história é um "mix" de vários casos de que vou tendo conhecimento.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Fidelidade, lealdade e avaliações

O sr. Primeiro-Ministro confessou-se chocado ao saber do caso dos dois professores a que foi negada a reforma por juntas médicas da CGA. Já a ministra da Educação afirmou hoje 11/07/07) já saber do caso há algum tempo.
Acredito que o sr Primeiro-Ministro não soubesse do caso, porque está rodeado de "fiéis" e os fiéis só dizem ao chefe o que ele quer ouvir.
Na Administração Pública confunde-se muito lealdade com fidelidade.
O funcionário, no termo de posse , aceitação ou como queiram chamar-lhe, compromete-se a desempenhar com lealdade as funções que lhe são confiadas.
A lealdade é para com a função. Por exemplo, se o funcionário recebe uma ordem e vê que as consequências não serão as melhores, tem o dever de lealdade de o dizer a quem lhe deu a ordem.
Pelo contrário, a fidelidade implica nunca contrariar o chefe. É o caso dos "yes-men".
O funcionário fiel, que desistiu de pensar há muito tempo por temer o perigo de chegar a conclusões diferentes das do chefe, nunca terá boa classificação num concurso que não seja controlado pelo respectivo chefe, pois é incapaz de interpretar um diploma legislativo.
Será por isso que acabaram com os concursos?
O funcionário fiel é nomeado por escolha e, nas avaliações, cabe naqueles tais 25%!
Já o funcionário leal, diz ao chefe o que pensa melhor para o serviço, embora o possa contrariar, e discute a própria interpretação da legislação na aplicação à realidade.
Claro que, quando chega a hora das avaliações, o funcionário leal é preterido, fica nos 75% da ralé e nunca avançará na carreira porque, ainda que mude o chefe, por mudança da "cor" governamental, os chefes gostam sempre dos fiéis, que são muito flexíveis.
Por minha parte, jogo nos leais.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Da Figueira ao TGV

Li a notícia da promessa de ligação por caminho de ferro do porto da Figueira da Foz à rede nacional, através da linha da Beira Alta (Pampilhosa).
Felizmente que alguém pensou para a frente em termos de transportes e deu utilização à via que já existe no porto da Figueira há cerca de 5 anos e nunca foi utilizada.
Digo pensar para a frente, porque, em Portugal, falar em transporte ferroviário de cargas é pensar muito à frente, quase uma heresia. Nos países desenvolvidos, já se concluiu que é a melhor solução há mais de 50 anos...
O caminho de ferro nasceu em inglaterra, nos finais do século XVIII, para transporte das cargas das minas e desenvolveu-se sempre na perspectiva do transporte de cargas. O comboio de passageiros é um aproveitamento posterior e pouco rentável se separado das cargas.
Nos Estados Unidos, onde há várias companhias ferroviárias, só uma, a estatal Amtrak, faz transporte de passageiros. As outras, só cargas. Um economista americano do sec. XIX dizia mesmo que "um comboio de passageiros é uma nódoa na paisagem".
De facto, o transporte ferroviário é o mais económico e, numa época em que se faz questão das economias energéticas e de poluição, é o energéticamente mais eficiente, permitindo tirar das estradas milhares de camiões, nomeadamente com o sistema "roll-on; roll-off", em que a galera de um camião TIR é carregada no comboio na origem e descarregada num destino intermédio por um tractor, que a leva ao destinatário final.
Vamos pois ter o porto da Figueira ligado à Europa por caminho de ferro. É uma perspectiva de desenvolvimento do porto e da cidade.
O problema é que a "Europa" de que falei termina actualmente na fronteira entre a Espanha e a França. As bitolas das vias (distancia entre carris) não são compatíveis e, assim, um vagão não pode passar a fronteira sem mudar de rodados, o que não é prático.
É que, aquando da construção dos caminhos de ferro ibéricos, no sec. XIX, ainda estavam frescos os horrores das invasões francesas e fez-se uma linha não compatível para impedir uma nova invasão com o meio de transporte mais moderno da época - o comboio.
Para utilizarmos os benefícios da carga ferroviária em termos europeus, temos pois que construir nova via férrea compatível com as restantes da Europa e, a construir, não vamos construir uma via para o passado, mas para o futuro - os comboios muito rápidos. O TGV.
É esta a justificação que encontro, e defendo, para a construção do TGV. Claro que defender o TGV de passageiros para permitir a um senhor gastar menos meia hora de Lisboa ao Porto é um disparate como justificar a construção de uma auto-estrada para uns senhores "esticarem" o Ferrari.
Defendo, sim, a construção de uma linha TGV (não confundir com comboio de passageiros), que permita a nossa ligação à Europa em termos de transportes ferroviários de carga muito rápidos, que compitam com vantagens com a camionagem, podendo a linha ser também utilizada por outros comboios de várias gamas de velocidade.
De outro modo, ficaremos sempre emparedados em termos de desenvolvimento.

domingo, 8 de julho de 2007

A maravilha das maravilhas

Depois de assistir ao extraordinário espectáculo das 7 maravilhas, dos raros momentos de cultura que podemos partilhar, não posso deixar de exprimir o que senti ao assistir à actuação daquele grupo de percussões.
Era o lado bom da globalização! Gente de todo o mundo a tocar em conjunto sem desafinar e sem "estrelas".
Afinal, é possível andarmos lado a lado, ombro a ombro, como bons amigos!
Certamente, no pricípio, era assim...
Depois, apareceram os interesses, a soberba, os políticos...
Não tenho dúvidas de que, à mesma hora, quiçá a poucos metros, alguém conspirava para mais uma guerrezita em que vendesse armas, outros na forma de abrir mais um corredor da droga, outros em dar um golpe de bolsa para ganhar milhões. Também não é absurda a hipótese de tudo ao mesmo tempo....
Outro aspecto que nos dá que pensar e deixa os defensores da "supremacia da raça caucasiana" da cara à banda, o que me dá grande gozo, é o facto de, das 7 maravilhas eleitas, só uma se situar na Europa, e mesmo assim, no Sul. As outras, todas construídas antes da chegada dos "caucasianos".
Então os outros não eram selvagens a que os "caucasianos" foram fazer o favor de dar civilização?
O meu agradecimento aos organizadores e a minha homenagem aos Maias, aos Aztecas, aos Incas, aos Chineses, aos Indianos, aos Jordanos e aos Romanos, que não tinham preconceitos raciais.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Parabéns à Câmara da Figueira da Foz

Não estranhem. Depois de ler a notícia
http://jn.sapo.pt/2007/07/06/pais/mar_acessivel_a_todos_praia_buarcos.html,
temos de valorizar o que está correcto.
Disponibilizar um equipamento que proporcione aos deficientes motores o prazer de um banho de mar a que todos os outros têm direito é um acto que deve ter o aplauso de todos.
Esperemos que outras câmaras de localidades que têm praia imitem o gesto. Copiar o que está bem não é plágio; é inteligência.
Já agora, deixo uma dica.
Por que não os passeios para deficientes visuais? Vi isto em Taiwan e fiz parte da equipa que aplicou em Macau.
Trata-se de deixar nos passeios uma faixa com pavimento diferente, detectável pela bengala do invisual, que o vai guiando até à passadeira mais próxima, de preferência com semáforos sonoros. Não custa mais um cêntimo que um passeio normal e é muito útil.
Claro que esta faixa tem de estar livre de obstáculos (automóveis, bancas de venda, etc.). Implica ainda que os passeios tenham uma largura aceitável.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

A vergonha das juntas médicas

Hoje, cerca das 11H30, quando ouvia um forum da Antena 1 sobre juntas médicas, a propósito do recente caso dos professores doentes de cancro que tiveram de trabalhar até à morte, ouvi declarações do sr. Bastonário da Ordem dos Médicos, que me deixaram estupefacto. Dizia o sr. dr, que as juntas médicas da Caixa Geral de Aposentações (CGA) são constituídas por médicos e um funcionário administrativo, cuja decisão é determinante em função da oportunidade financeira, para a Caixa, da aposentação e que não é necessária a presença do doente, uma vez que os médicos só avaliam os relatórios que lhes metem na mão, não interessando o estado real do doente.
Se me dissessem que isto se tinha passado na Coreia do Norte, na Roménia do sr. Ceausescu ou na Albânia do sr. Enver Oxa, não me tinha admirado muito.
Como acontece, em 2007, no país que está todo ufano porque preside à União Europeia, fico INDIGNADO e ENVERGONHADO!
Então os srs. drs. médicos assinam por baixo uma decisão "médica" de um administrativo?
Então um senhor que não é médico tem legalmente de estar presente num acto médico? E a privacidade do doente?
Onde estão a ética e a deontologia médicas? Só servem para defender privilégios e horas extraordinárias nas urgências?
E a tão zelosa Ordem dos Médicos ainda não proibiu os profissionais de entrar nesta palhaçada, porquê?
Diz o sr. bastonário que vão fazer formação específica para médicos das juntas. Não me digam que é mais uma especialidade, com internato e tudo....
O governo, lava as mãos do problema, dizendo que é um assunto interno da CGA. E de quem é a tutela da CGA? Do sr. Pinto da Costa? Já agora, aproveitem...
Escusam as carpideiras políticas do costume de vir agora mostrar a sua indignação, porque todos os partidos parlamentares, excepto o Bloco de Esquerda, já estiveram no governo e, portanto, são coniventes na situação.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Desfibrilhadores

Nos dias seguintes ao infeliz falecimento do inditoso Feher toda a gente falava e opinava sobre desfibrilhadores, mesmo aqueles para quem a palavra era totalmente nova.
Eram os clubes que deviam ter, os bombeiros que deviam ter, e até havia quem opinasse que se deveria ter um em casa para qualquer eventualidade.
Enfim, apareceu do desfibrilhador a ideia, que ainda perdura em alguns, de que se trata de um aparelho milagroso que livra as pessoas de morrer.
Par desfazer tal ideia e demonstrar que se trata de um equipamento extremamente perigoso, que não deve andar nas mãos de qualquer um, vamos ver como funciona.
As contracções cardíacas, que ocasionam o funcionamento do coração, são provocadas por um impulso eléctrico gerado pelo próprio coração, com determinado ritmo, gerando uma onda eléctrica que pode ser vista nos electrocardiogramas e nos monitores cardíacos. Para os menos versados nestas coisas, é aquela linha mais ou menos em dente de serra que se vê naqueles aparelhos que aparecem junto às camas nos filmes que metem hospitais.
Quando os batimentos deixam de ter um ritmo certo, temos uma arritmia, que às vezes só se resolve com intervenção do desfibrilhador.
O desfibrilhador dá um choque de cerca de 2.000 Volts no coração, provocando, por vezes, que este retome o seu ritmo normal. É uma espécie de "reset".
Também nos casos de paragem cardíaca, por vezes e se actuado a tempo, se pode conseguir que o coração volte a trabalhar.
Para isto, o aparelho tem dois modos de funcionamento: síncrono e assíncrono.
No modo síncrono, utilizado quando existe onda cardíaca, dá-se ordem de disparo e o aparelho só dispara de facto quando a onda cardíaca está no máximo (ponto R). No método assíncrono, utilizado quando não há onda cardíaca, o aparelho dispara logo que se dá a ordem.
Aqui é que reside o perigo. É que, se houver disparo fora do ponto R, podemos com muita probabilidade matar o doente. Infelizmente, não são casos tão raros como seria desejável.
Acresce saber-se que muito poucos médicos e enfermeiros sabem utilizar este equipamento. Sabem especialmente os anestesistas, cardiologistas e emergencistas (INEM).
Está explicada a razão porque no post anterior não me mostrei favorável à existência destes equipamentos nos SAP. Se nem um simples electrocardiógrafo têm!
Há pouco tempo surgiram no mercado equipamentos totalmente automáticos, que tomam as decisões pelo Homem. Parece que estes são mais seguros.
Por outro lado, são equipamentos que requerem manutenção cuidada e especializada.
Por exemplo, sei de clubes de futebol que, dentro da onda, têm um desfibrilhador muito arrumadinho num armário. Como para funcionar necessita das baterias carregadas, o que leva várias horas, o mais certo é que não funcione quando for necessário. Portanto, é inútil. E custa mais de 10.000 €!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Urgências

Ainda não tinha acabado a barulheira acerca das maternidades, já outra estalava. Agora a das urgências.
No entanto há uma diferença fundamental. O relatório que serve de base ao estabelecimento da nova rede de urgências é um documento bem elaborado, repetível e que apresenta, para cada caso, as razões do fecho, manutenção ou criação. Faz ainda o cálculo dos tempos de percurso em ambulância.
Se há ponto de controvérsia razoável é este. É que se calculam os tempos de percurso com a velocidade média de 60 km/h, independentemente do local. Ora, todos sabemos que há diferenças entre andar na A1 à 1 da manhã, no IC19 às 8H00 ou nas estradas da Pampilhosa da Serra com nevoeiro.
Há ainda a considerar o estado das estradas, sendo que algumas mais parecem "off road".
Pelos motivos já indicados no post anterior, gerou-se agora uma grande confusão entre SAP e urgência.
Que eu saiba, um SAP é um posto de atendimento permanente, que resolverá os problemas dos 85% de utentes que entupem as urgências sem motivos realmente urgentes e que consta de gabinetes de consultas e o que se poderá considerar uma sala de pensos mal equipada. Não tem qualquer apoio radiológico nem de análises clínicas, nem um simples electrocardiógrafo.
Realmente, de comum com as urgências "a sério" só terá o facto da disponibilidade permanente.
Não duvido do factor apoio psicológico para as populações, mas é um apoio enganoso.
Se houver uma crise cardíaca, por exemplo, ir ao SAP é uma perda de tempo precioso, pois, para além da indiscutível boa vontade, não dispõem de mais quaisquer meios para actuar.
Ainda na semana passada vi anunciado um estudo que concluira que uma grande parte dos SAP não tinha desfibrilhador. Graças a Deus que não têm e devemos todos rezar para que não venham a ter. Em post posterior explicarei porquê.
Quero esclarecer que não sou contra os SAP, desde que não os confundam com urgências, e que tenho o maior respeito pelo pessoal dos Centros de Saúde, que, com dificuldades de meios inimagináveis, todos os dias faz autênticos milagres e "filhozes de água" para atender os seus utentes.
Na minha opinião, o que faz falta para bom funcionamento da nova rede de urgências é uma rede INEM mais apertada e dotada de mais ambulâncias medicalizadas.

Maternidades - A minha posição

Do meu post anterior sobre o assunto, poderão tirar-se conclusões erradas, dada a confusão existente à volta do assunto. Quero pois esclarecer.
Gerou-se polémica porque ninguém se dignou explicar o que se passava.
O governo, do alto do seu autoritarismo e incapacidade explicativa - julgo ser critério básico para ser membro do governo a incapacidade de explicar a um tasqueiro para que serve um copo - arranjou uma trapalhada que ninguém percebeu.
A oposição, aproveitou-se dos bairrismos e falta de informação das pessoas para criar uma onda contra o governo.
Claro que, quando o partido do governo passar à oposição, se invertem as posições sobre o assunto, como é exemplo o, agora, defensor acérrimo dos funcionários públicos, dr. Marques Mendes.
A comunicação social, aproveita-se sempre destas confusões para vender papel e encher tempos de antena com "especialistas".
O Zé Povo, crédulo e ludibriado como sempre, foi levado a acreditar ser possível a existência de uma maternidade e uma urgência devidamente equipadas à porta de cada um.
Vou tentar dar uma explicação que toda a gente perceba:
Uma maternidade de 30 camas exige, em termos de pessoal, uma equipa mínima de cerca de 35 pessoas (médicos, enfermeiras, auxiliares), sendo que a maioria tem vencimentos superiores a 1.000 €. Acrescem ainda os custos de toda a logística de rectaguarda associada.
Embora se diga, em termos teóricos, que "a saúde não tem preço", as verbas dos nossos impostos devem ser bem administradas e criteriosamente aplicadas em prol do bem comum.
Assim, terá que haver números de partos mínimos para manter uma maternidade aberta a funcionar correctamente, que rentabilize e justifique as verbas dispendidas.
Se tivermos 1 parto por dia, basta fazer umas contas simples para perceber que esse parto fica extraordinariamente caro.
Isto não é econimicismo. É gestão.
Considero pois justificados os encerramentos das maternidades que não tivessem um número de partos considerado minimamente rentavel.
Claro que isso implica que as maternidades para onde os partos foram transferidos tenham as condições mínimas de acolhimento e equipamento para esta nova carga de trabalho, o que me parece que não foi devidamente acautelado. Algumas até têm condições técnicas inferiores às das que fecharam....
Como algumas grávidas têm de se deslocar distâncias consideraveis, devem ter instalações para aguardarem calmamente a sua hora, sem andarem a fazer estrada até que o parto aconteça onde é mais inconveniente.
Também, para os casos de emergência, deve haver uma rede de ambulâncias devidamente equipadas, que efectuem o transporte em tempo útil.
Julgo que, se isto tivesse sido explicado desta maneira, toda a gente percebia e se tinham evitado muitas complicações.

Parabéns aos Figueirenses

Li no "Figueirense" (http://www.ofigueirense.com/seccao.php?id_edi=22&id_sec=3), que foi assinado um protocolo para a criação de um serviço de apoio domiciliário (PCADI) entre o Hospital, o Centro de Saúde, a Câmara, a Segurança Social e 21 IPSS.
Não é necessário sublinhar o interesse deste serviço, sucessor tardio do PAII.
O que me parece de sublinhar é a possibilidade de juntar todas estas "quintinhas" num projecto comum. O projecto já tinha sido tentado há 5 anos, mas aparece sempre o problema da "ribalta".
Oxalá desta vez se esqueçam do "podium" e dos interessezinhos partidários e tratem realmente de quem necessita.
Parabéns a quem conseguiu este feito realmente notavel!

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Ainda as maternidades

Todos nos recordamos das polémicas do encerramento de maternidades em hospitais do SNS, algumas ainda em curso.
Os encerramentos foram feitos com base no relatório de uma Comissão Científica, que determinou as condições de funcionamento, tanto para as maternidades estatais como para as privadas, embora mais liberais para estas últimas. Tudo isto em nome da defesa das mães e dos bebés.
Embora o relatório nada tivesse de científico, pois não era repetível, não indicando para cada caso, item a item, as causas do encerramento ou manutenção, ao contrário do das Urgências, foi aceite como instrumento fundamental.
Numa sessão de esclarecimento sobre o assunto, na Figueira da Foz, o sr. presidente da Comissão, director da Maternidade Alfredo da Costa, ao tentar justificar os encerramentos, deixou-nos dados para concluirmos que a primeira a fechar por falta de condições seria a dele.
Deixou também descair que o problema era a falta de médicos e enfermeiros especializados para cobertura de todas as maternidades. Nesta conformidade, claro que fechavam as situadas nas localidades menos "importantes", independentemente das condições técnicas das que encerravam e das que se mantinham. Não afirmou isto, mas parece óbvio.
Aparecem agora a notícia e entrevista seguintes:
Então onde está a preocupação com a saúde das mães e dos bebés para não se encerrarem imediatamente as maternidades não conformes?
Onde está a coerência do Ministério da Saúde?

Excelentes!!!!!

Depois de ler esta inacreditavel notícia http://jn.sapo.pt/2007/06/27/porto/ambulancia_retida_ipo_causa_15_centi.html, só reforço a minha ideia sobre alguns dos gestores hospitalares actuais.
Certamente são considerados "excelentes", por terem estas ideias sobre gestão económica e de espaços. Só não têm o Prémio Nobel, por ser pequena recompensa para tão grandes cabeças...
Também as justificações são dignas de qualquer prémio de humor.
Não me admira que os intervenientes passem a fazer parte das comissões científicas, técnicas ou de peritos dos estudos governamentais, que tão belos produtos nos têm proporcionado.

Declarações ministeriais

Depois de ler esta notícia: http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/AZNmNUM7kVEXhVuxxCxQXA.html, só posso concordar com o sr. Ministro.
Se fosse um histórico de esquerda, como ele, e visse transcritas algumas das afirmações que faz, com aquele jeito especial que tem para dar tiros nos pés, certamente me sentiria ofendido e apoucado.

terça-feira, 26 de junho de 2007

O S.João do Porto

Este ano fui finalmente participar no S. João do Porto, o que não fazia há mais de 20 anos.
Portuense com muito orgulho, por razões profissionais estive afastado durante muitos anos, embora celebrando sempre a festa, nos mais diversos locais, como Quelimane, Macau ou Figueira da Foz.
Digo que fui participar, porque é impossível ir ao Porto "ver" a festa, como quem vê um filme ou as marchas de Lisboa.
No Porto, quem está, seja quem for, participa. Ao sorrir quando apanha com o martelo ou com o alho, já está a participar.
Esta festa do solestício, muito anterior ao nascimento do santo que ficou com a culpa, é de facto algo de telúrico. De união do Homem com a Natureza.
Como não participava, no Porto, há mais de 20 anos, quero transmitir as diferenças que encontrei:
  • Há 20 anos estávamos no auge dos martelos de plástico, sendo muito raros os alhos porros e, ainda mais, os balões.
  • Este ano, vi com muito agrado a volta do velho alho, em quantidades consideraveis, e uma quantidade de balões como nunca tinha visto.
  • Há 20 anos, a festa era da cidade do Porto. Hoje, já não há razão para a existência de duas cidades separadas pelo rio. Vi que há uma grande cidade composta de duas partes ligadas pelo rio. O entusiasmo em Gaia era tanto como no Porto.

Um grande e grato abraço ao pessoal do Porto e de Gaia.

Deixei de fumar

Depois de mais de 40 anos a fumar cerca de maço e meio por dia, decidi deixar de fumar.
Julgava ser muito difícil, mas com a ajuda do medicamento "Champix" (não ganho nada pela publicidade) consegui deixar de fumar no dia 10 de Abril, até hoje.
A princípio tinha, ocasionalmente, vontade de dar umas "puxas", mas nada de inultrapassavel, como resistir aqueles camarões que se estão a rir para nós, ou a dar dois murros no chefe em ocasiões mais conturbadas.
Não quero dar o testemunho de "convertido fundamentalista", mas dar informação a quem também queira deixar.
O tratamento é de 3 meses e custa omesmo que 1 maço de tabaco por dia (cerca de 250 €).

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Como começou

Leitor de blogs com alguma assiduidade, tive de criar este para comentar um post de outro blog.
Como acho graça à ideia, como escrever, meter numa garrafa e atirar ao mar esperando que alguém leia, e parecia mal um blog vazio, vou tentar escrever qualquer coisa de vez em quando.
Pretendo ainda compartilhar ideias e experiências.
Se alguém ler isto, diga qualquer coisinha....