quarta-feira, 4 de julho de 2007

Desfibrilhadores

Nos dias seguintes ao infeliz falecimento do inditoso Feher toda a gente falava e opinava sobre desfibrilhadores, mesmo aqueles para quem a palavra era totalmente nova.
Eram os clubes que deviam ter, os bombeiros que deviam ter, e até havia quem opinasse que se deveria ter um em casa para qualquer eventualidade.
Enfim, apareceu do desfibrilhador a ideia, que ainda perdura em alguns, de que se trata de um aparelho milagroso que livra as pessoas de morrer.
Par desfazer tal ideia e demonstrar que se trata de um equipamento extremamente perigoso, que não deve andar nas mãos de qualquer um, vamos ver como funciona.
As contracções cardíacas, que ocasionam o funcionamento do coração, são provocadas por um impulso eléctrico gerado pelo próprio coração, com determinado ritmo, gerando uma onda eléctrica que pode ser vista nos electrocardiogramas e nos monitores cardíacos. Para os menos versados nestas coisas, é aquela linha mais ou menos em dente de serra que se vê naqueles aparelhos que aparecem junto às camas nos filmes que metem hospitais.
Quando os batimentos deixam de ter um ritmo certo, temos uma arritmia, que às vezes só se resolve com intervenção do desfibrilhador.
O desfibrilhador dá um choque de cerca de 2.000 Volts no coração, provocando, por vezes, que este retome o seu ritmo normal. É uma espécie de "reset".
Também nos casos de paragem cardíaca, por vezes e se actuado a tempo, se pode conseguir que o coração volte a trabalhar.
Para isto, o aparelho tem dois modos de funcionamento: síncrono e assíncrono.
No modo síncrono, utilizado quando existe onda cardíaca, dá-se ordem de disparo e o aparelho só dispara de facto quando a onda cardíaca está no máximo (ponto R). No método assíncrono, utilizado quando não há onda cardíaca, o aparelho dispara logo que se dá a ordem.
Aqui é que reside o perigo. É que, se houver disparo fora do ponto R, podemos com muita probabilidade matar o doente. Infelizmente, não são casos tão raros como seria desejável.
Acresce saber-se que muito poucos médicos e enfermeiros sabem utilizar este equipamento. Sabem especialmente os anestesistas, cardiologistas e emergencistas (INEM).
Está explicada a razão porque no post anterior não me mostrei favorável à existência destes equipamentos nos SAP. Se nem um simples electrocardiógrafo têm!
Há pouco tempo surgiram no mercado equipamentos totalmente automáticos, que tomam as decisões pelo Homem. Parece que estes são mais seguros.
Por outro lado, são equipamentos que requerem manutenção cuidada e especializada.
Por exemplo, sei de clubes de futebol que, dentro da onda, têm um desfibrilhador muito arrumadinho num armário. Como para funcionar necessita das baterias carregadas, o que leva várias horas, o mais certo é que não funcione quando for necessário. Portanto, é inútil. E custa mais de 10.000 €!