segunda-feira, 22 de junho de 2009

Emprego para a vida ou temporário?

Na edição da passada 3.ª feira, dia 16, do excelente programa "Sociedade Civil" da RTP 2, o tema era "2.º emprego", onde os participantes acabaram por pôr em confronto o velho conceito do emprego para a vida e o cada vez mais praticado trabalho temporário ou de contrato a termo certo. Nada mais "fracturante"!

Entre os participantes, como sempre de elevado nível, sobressaía um gestor de recursos humanos, acérrimo defensor do trabalho a termo.

Dizia o senhor que o emprego para a vida acabou, o que é sinal de progresso, uma vez que os trabalhadores inseguros produzem mais e trabalham mais horas, o que aumenta a produtividade. O senhor Taylor da teoria do chicote e da cenoura não diria melhor! Só que o senhor Taylor morreu em 1915 e está ultrapassadote...

Outra das afirmações do citado senhor foi que o facto de haver profissões, como os enfermeiros, onde há profissionais com 4 empregos e muitos outros desempregados, é sinal positivo: é o mercado a funcionar!

E o senhor gestor de recursos humanos dizia estas coisas com o ar empolgado do fanático religioso a citar os seus dogmas...

Ora tentemos comparar as duas situações, do ponto de vista da empresa empregadora e sem preconceitos ideológico-partidários, que enviesam sempre as coisas.

Quando há uns anos uma pessoa entrava para um emprego, considerava-o desde logo "para a vida". Era uma parte da empresa, trabalho comum de vários, ia deitando o olho ao que se passava à volta, avisava de situações que considerava menos boas para o objectivo comum. Enfim, criava-se uma simbiose entre a empresa e o trabalhador, que era e se sentia mais que uma peça da máquina ou um vendedor de tempo de trabalho. O trabalhador, com um sentimento de segurança, empregava o melhor das suas capacidades nas tarefas que realizava.

Testemunhei isto na instalação do Hospital da Figueira da Foz no actual edifício da Gala em 1975 e 1976. Um grupo de pessoas, que ia gradualmente aumentando, trabalhava com entusiasmo horas e horas, sem remunerações adicionais, só para fazer o "nosso hospital". Sentíamos que aquela era a nossa casa para a vida! Chegou-se mesmo a resistir a determinações governamentais.

Na actual situação dos contratados a prazo, o trabalhador sem qualquer esperança de futuro fica na condição de mercenário ou outros vendedores do tempo e do físico. Não tem nada a ver com a empresa em que trabalha, não apresenta propostas para não "fazer ondas", produz o estritamente contratado. Inseguro, realiza as suas tarefas com o pensamento de onde arranjar o próximo emprego quando este contrato acabar. Está-se nas tintas para os resultados da empresa, com que não sente qualquer afinidade. Se lhe pagam 10 porquê trabalhar 12? Quando compro maçãs também ninguém me dá mais do que eu paguei...

Também proliferam as empresas de trabalho temporário (antigamente chamavam-se negreiros...) que vendem e alugam trabalhadores às empresas que deles necessitam, ficando com parte do salário.

A empresa, em vez de uma família, é um sítio onde um grupo de desconhecidos vende umas horas. Será que isto incentiva a produtividade?

Será muito difícil ver isto?