domingo, 19 de janeiro de 2014

A máquina do tempo

Em 1991 um grupo de portugueses, principalmente professores, a trabalhar em Macau formou um grupo de música e danças tradicionais portuguesas e de Macau, que tomou o nome de Grupo de Danças e Cantares do Clube de Macau. À frente do movimento estiveram os professores Raul Ferreira, nos aspectos organizativos e Abel Moura nos aspectos musicais e artísticos. Com o decorrer do tempo outros interessados se foram associando ao grupo, gente das mais diversas profissões e origens étnicas, no fundo representando o mosaico social que se observa em Macau. Foram-se associando europeus, brasileiros, macaenses, goeses, chineses, africanos, timorenses e filipinos.
O governador de Macau considerou a ideia com interesse e o grupo passou a representar culturalmente Macau e Portugal em diversos eventos, tanto em Macau como na China, Japão, Tailândia, Coreia do Sul, Singapura, Malaca e Goa.
Claro que, como já dizia Fernão Mendes Pinto, quando há portugueses fora do país, logo alguns hostilizam os outros, e apareceram uns mete-nojo, que em Lisboa andavam de carro eléctrico e em Macau passaram a andar de carro preto oficial, a hostilizar os participantes, dizendo que eram gente a que fugia o pé para o chinelo e que representavam a cultura do pastel de bacalhau. Portuguesices...
Com a devolução de Macau a China o grupo passou a denominar-se Grupo de Danças e Cantares de Macau e lá se mantém, mantendo a sua diversidade social e étnica e o apoio do governo da Região Administrativa. A maioria dos portugueses, que estavam requisitados a serviços públicos de Portugal, regressaram à origem e hoje estão espalhados por todo o território, encontrando-se de vez em quando.
Foi o que aconteceu ontem em Quiaios. Tudo começou como todos os encontros do género, com abraços de amigos que não se encontram há anos, recordação de acontecimentos, etc. Como se trata de gente de bom comer e beber, há um verdadeiro pic-nic, onde cada um traz petiscos da sua região ou aquela iguaria que faz das terras onde fez mundo.
Entretanto o amigo Abel rapa do acordeão e começa a funcionar uma verdadeira máquina do tempo. Esquecem-se os mais de 60 anos, as gargantas afinam, as articulações rejuvenescem 20 anos e começa uma sessão de descantes e danças a recordar os velhos tempos. Este ano associou-se na festa o magnifico grupo coral da Figueira da Foz Canticus Camarae, que passará a fazer parte de futuros encontros. O Grupo da Figueira cantou belíssimas obras do seu repertório, acompanhadas ao piano e flauta transversal, a que nós respondemos com a macaense Bastiana, em Patuá, o Trigo Loiro e outras danças e cantares, tendo ainda em conjunto cantado A Banda do Chico Buarque.
Agradecemos ao Raul e a Jacinta o terem sido anfitriões com a simpatia que lhes é peculiar.
Foi lindo e para o ano há mais...