quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um santo incómodo

Realizam-se no próximo domingo, dia 26, as cerimónias de canonização do Beato Nuno de Santa Maria, figura histórica Nuno Álvares Pereira.

A notícia passa despercebida, por não se tratar das notáveis celebridades da "Caras" nem das tertúlias da SIC. Claro que interessa muito mais ao país saber se uma dessas celebridades está ou não constipada.

Por outro lado, trata-se de uma personalidade incómoda aos poderes constituídos, tal como Aristides Sousa Mendes, pois deu-se ao desplante de ter coluna vertebral e obedecer a valores, o que constitui muito mau exemplo nos tempos que vão correndo.

Filho do prior do Crato (um dos 26 conhecidos...), tentou realizar sempre o melhor dos ideais da cavalaria medieval em que foi educado. Como chefe militar nunca permitiu que os seus homens se dedicassem às pilhagens e violações que eram normais por parte dos vencedores de batalhas.

Sendo descendente, não herdeiro primogénito, de um poderoso senhor feudal, não hesitou em se juntar e chefiar as massas populares famintas e os ainda incipientes burgueses contra o poder feudal representado por D. João de Castela e pelo seu próprio irmão.

Também não será muito simpático à Igreja mais tradicional, pois não se tratou de um dos santinhos apalermados com os olhos em êxtase para o céu que nos servem nos altares, mas de um homem vertical, com ideias muito firmes, que não se limitava a "adorar", antes a pôr em prática os valores da doutrina cristã.

Conta-se que, terminada a fase das guerras com Castela, entrou em dissidência política com o seu amigo rei D. João I e, havendo um almoço de estado para que não o convidaram, entrou na sala e simplesmente virou a mesa com tudo o que tinha em cima.

Digam lá se, para santo e para político, não é incómodo e mau exemplo!?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O S. João fez 50 anos...

Pois é. Já lá vão 50 anos!

Lembro-me perfeitamente do dia da inauguração daquele edifício que sempre tinha conhecido de ver das traseiras da minha casa e que me habituei a ouvir designar por "Hospital da Cidade".

Era uma coisa, para nós, digna de ficção científica. Tinha o luxo de uma travesseirinha com altifalante em cada cama, para que o doente pudesse ouvir cómoda e privadamente rádio ou música, a partir da emissão central do hospital. Também havia um sistema de antenas que circundavam o edifício e que permitiam chamar algumas pessoas, médicos e enfermeiros-chefes, através de um alarme tipo esferográfica que tinham no bolso da bata. Os assim alertados dirigiam-se ao telefone interno mais próximo a contactavam a central, que lhes transmitia a mensagem pretendida. Isto há 50 anos, era obra! Tinha um consumo de electricidade semelhante ao da cidade de Braga!

Passados alguns anos, tanto eu como a minha mulher iniciámos lá as nossas carreiras profissionais.

Nessa altura, o hospital era dirigido pelo provedor dr. João Rodrigues, que deu tanto de si ao novo projecto que lhe chamavam "hospital do João".

Foi uma autêntica revolução naquela zona de Paranhos. Abriram-se os acessos ao hospital. O autocarro da carreira E, que inicialmente se dirigia a Contumil, via Paranhos, passou a dirigir-se ao novo hospital. Também a carreira D, pelas Antas, passou a servir o hospital. Depois foi o L, para a Maia.

No próximo sábado vamos ter o prazer de participar numa parte da festa de aniversário daquela casa que também já sentimos nossa.

Como na cantiga dos parabéns, pr'ó "menino João" uma salva de palmas...!

domingo, 12 de abril de 2009

A guerra dos genéricos

Recentemente voltou às primeiras páginas da imprensa o conflito que envolve a Associação Nacional de Farmácias (ANF), a Ordem dos Médicos e o Governo acerca do fornecimento mais ou menos livre de genéricos pelas farmácias.

Como o tema envolve o dinheiro dos utentes, e do Estado, é fácil criar divisões demagógicas extremadas sobre o assunto. Uns dizem que os genéricos são a melhor coisa do mundo e fonte de enormes economias para as finanças do SNS. Outros, pelo contrário, diabolizam tais medicamentos só faltando dizer que são feitos atrás da porta nos acampamentos ciganos.

O Zé utente e pagante fica perfeitamente baralhado sem saber em quem acreditar, uma vez que já tem larga experiência de qualquer dos contendores lhe enfiar memoráveis barretes.

Pessoalmente, devo já dizer que defendo a utilização dos genéricos sempre que possível e em unidose.
Sabem que há países (por exemplo a Tailândia) onde as farmácias só existem nos hospitais, onde termina o circuito do doente, e em sistema uniodose? Vi isso em hospitais de empresas multinacionais do ramo, não se tratando portanto de delírios socialistas.

Com alguns anos de experiência na Saúde, vou tentar explicar a situação.

Todos sabemos que a indústria farmacêutica constitui um dos potentados mundiais, chegando a pôr e depor governos, e que fica prejudicada com a entrada no mercado dos genéricos, que não são mais que os seus produtos cujo prazo de registo reservado já expirou. Os sucessivos governos, desde há mais de 30 anos, deixaram que esta indústria se apoderasse do sistema de saúde, dominando actualmente os equipamentos de análises e a quase exclusividade da formação contínua dos médicos, para além de ser credora de muitos milhões de euros ao Estado.

Por outro lado, as farmácias comerciais, também credoras de milhões de euros ao Estado, seu maior cliente, estão interessadas na venda dos genéricos (diz-se que a ANF é sócia de uma produtora de genéricos), até para aumentarem as vendas devido à baixa de preço. Nem a indústria nem as farmácias parecem particularmente interessadas na unidose, que lhes baixaria substancialmente os lucros.

A ministra da Saúde tem a infelicidade de estar, neste caso, na situação do fiambre na sande. De um lado, a toda poderosa indústria, a quem deve milhões e que a pode deixar de um dia para outro sem análises e sem medicamentos. Por outro lado, as farmácias, a quem também deve milhões, e que têm toda a facilidade de conquistar a simpatia dos utentes (são votos!), com a promessa de preços mais baixos. Aqui as farmácias estão numa situação mais fraca, uma vez que, sendo o Estado o seu maior cliente, se não lhe venderem fecham a porta.

Claro que os genéricos, devidamente controlados e em unidose fazem parte de uma solução para baixar os custos do SNS.

Em defesa do SNS temos o dever de apoiar a ministra nesta situação.