sábado, 3 de janeiro de 2009

Uma réstia de esperança

Ílhavo. Hoje à tarde.

Um cão, com olhos de Husky, está enrolado no passeio, todo molhado, a tremer de sofrimento, com um olhar de quem pede ajuda. Talvez tenha sido atropelado.

Juntam-se pessoas. Uma arranja carne e água numa loja próxima. O animal devora rapidamente a carne e parece mais calmo. Outra corre à clínica veterinária ali perto. Está fechada, mas tem um número de contacto urgente. Telefona-se ao médico, que aparece passados alguns minutos. Entretanto alguém chamou também os serviços da Câmara Municipal, que não tardam.

Leva-se o corpulento cão na carrinha da Câmara para a clínica, onde é observado e medicado. O médico aconselha a que seja mantido em ambiente morno, pelo menos deitado sobre uma manta ou jornais, não havendo condições logísticas para que fique na clínica. Resta o canil camarário, mas os solícitos funcionários informam não haver mantas para o ter. Logo uma vizinha dá umas mantas velhas que tinha lá em casa. A carrinha leva-o, antes que acabe o efeito da anestesia que foi necessária.

Um dos presentes paga ao médico, que só aceitou o valor dos medicamentos aplicados.

Digam lá que, neste início de um ano que se prevê difícil, isto não é uma réstia de esperança!

À mesma hora a que, na Faixa de Gaza, homens, ainda parentes, se matavam barbaramente, em Ílhavo gera-se uma corrente de solidariedade em volta de um pobre cão. A Câmara e os moradores juntam os braços para minorar o sofrimento do "irmão cão", sem perguntar quem paga o quê ou a quem pertence o cão.

É este espírito que pode salvar o mundo. Vamos cultivá-lo!