quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Ainda o acidente da A-23

De tudo aquilo que foi noticiado acerca do acidente, há um aspecto que, embora não tenha impacto mediático, deve ser realçado - o funcionamento do sistema de socorro.

Os socorros apareceram em tempo útil e quantidade e qualidade suficientes. A PSP e GNR abriram corredores de emergência até aos hospitais de evacuação. Nos hospitais foram tomadas as medidas adequadas, afastando os meios de comunicação social para local onde não estorvassem a actividade assistencial.

Há um aspecto, noticiado por uma das TVs, que não deve passar em claro: os funcionários do Hospital de Castelo Branco (os mesmos que os governos, desde 2002, querem demonstrar serem uma malandragem que não quer trabalhar e que só com "chicote e cenoura" funciona) apresentaram-se voluntariamente nos seus locais de trabalho para tornarem possível a eficácia da assistência. Certamente que não estavam em regime de prevenção e duvido que exijam o pagamento do trabalho prestado.

É uma coisa que os senhores políticos nunca serão capazes de perceber. Há quem tenha sentimentos e não trabalhe exclusivamente por dinheiro!

Não sendo caso para parabéns, uma vez que não se trata de um acto festivo, devemos prestar o nosso reconhecimento a todos que prestaram o socorro e aos que o coordenaram e que prepararam os planos de emergência, já que uma acção destas não resulta de improvisos.

Legalidades....

Foi noticiado que a GNR de Oliveira de Frades notificou os Bombeiros Voluntários locais de que não poderiam tocar a sirene de alerta durante a noite, porque infringia a lei do ruído, tendo havido queixas de habitantes.

Os bombeiros não têm outra maneira de alertar os voluntários para uma emergência. Pode ser o sucedâneo do medieval sino a rebate, mas é o que há!
Pessoalmente, defendo que os bombeiros devem ser estatais, como a PSP ou a GNR, sendo os voluntários, a existirem, meramente complementares.

A GNR cumpre o seu dever, aplicando estritamente os preceitos legais. Há uns anos, um capitão da BT da GNR opinou para uma TV que a "tolerância zero" não era solução para a sinistralidade rodoviária. Logo o ministro da Administração Interna da época veio dizer que "um capitão da GNR é pago para cumprir a lei e não para pensar". Ficamos esclarecidos...

Não me admira que a lei fosse traduzida automaticamente de um país onde nem se admita a hipótese de os bombeiros serem voluntários. Recentemente, perante as constantes emendas ao Código do Processo Penal, com expressão em Francês e Inglês, fico com as mais sérias dúvidas...

Consequências do "estado de direito"....

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A greve na Função Pública

Quando já se anuncia mais uma greve, como expressão do mais que justificado protesto dos funcionários perante um governo prepotente e insensível, venho fazer uma reflexão sobre a utilidade desta forma de luta no caso da Função Pública e de outros sectores de serviços de utilidade social.

Se procurarmos perceber qual a génese da greve como forma de luta dos trabalhadores, somos levados à era industrial, como forma de pressionar o patronato.
Os lucros do patrão são resultado da venda da produção. Se não produzirmos, o patrão vê os seus lucros diminuídos e tentará um acordo com os trabalhadores que, embora lhe diminua eventualmente os lucros, ainda lhe deixa alguns.
Em resumo, a greve prejudica o patrão, mas poderá trazer benefícios aos trabalhadores.

Vejamos agora o caso das greves de serviços públicos. Embora o "patrão" seja o Povo, a greve é contra o "feitor da quinta", isto é, o governo.
Neste caso, os utentes dos serviços não são atendidos, o que lhes poderá acarretar grandes prejuízos. Estou a ver as pessoas de aldeias que se levantam de madrugada para irem à consulta a uma cidade, gastam uma importância considerável em transportes e vêem os seus propósitos gorados. Claro que não culparão o governo, mas sim os grevistas.
O governo, com a habitual insensibilidade social, está-se nas tintas e até poupa uns trocos em energia eléctrica e papel.
Os grevistas não ganham os dias de greve. O governo arrecada uns milhões de euros.
Resumindo, neste caso, a greve não afecta aqueles que se querem afectar, mas os próprios grevistas e o Povo, que não merece, embora possa dar um grande espectáculo na comunicação social.

É portanto necessário arranjar uma forma de luta que "doa" ao governo e não prejudique os utentes.
Que tal, se em determinada semana se cumprissem estritamente as leis e os regulamentos? Como muitos são contraditórios e desadaptados da actualidade e da realidade, iria criar-se um "nó cego" que, esse sim, iria doer muito ao governo.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A outra vertente do acidente

Hoje a notícia é o acidente da A-23, com todo o rol de desgraças que envolve e que a comunicação não deixa esquecer, aproveitando todos os pormenores para ganhar audiências, o mesmo se prometendo com a romaria dos políticos.

No entanto, há um aspecto de que ninguém fala e que demonstra o verdadeiro drama de centenas, ou milhares, de pessoas que diariamente se arriscam a estar envolvidas em acontecimentos destes, como foi o caso.

Refiro-me à condutora do veículo ligeiro envolvido no acidente: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=13&id_news=303121

Uma jovem professora, com um filho de 9 meses, colocada a 137 km de casa, que tem de percorrer diariamente para garantir o seu ganha-pão.

Esta gente não aufere ajudas de custo nem subsídios de risco e, se protesta, ouve a senhora ministra, com a sensibilidade que lhe é conhecida, dizer que comecem a pensar noutra profissão.

Claro que não interessa falar nisto, parece que nem ao respectivo sindicato....

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Falta de vergonha

Três notícias recentes fazem sobressair a falta de vergonha reinante no país, muito embora em estrito cumprimento da legalidade.

Não vou falar daquele livre que deu a vitória ao Benfica no jogo com o Paços de Ferreira. Esse, além de vergonha, foi um atropelo grosseiro à legalidade.

1 - Um professor, acusado de 20 crimes de abuso sexual de menores, mantém-se olimpicamente a dar aulas http://jn.sapo.pt/2007/11/04/policia_e_tribunais/professor_musica_pedia_sexo_a_alunas.html.
Diz-se que foi avisado pela DREN para ter cuidado. Como parece que durante os actos de que é acusado não contou anedotas sobre os governantes, tudo bem!

2 - Um senhor deputado do PS por Braga está muito indignado por ter sido nomeado, sem concurso, para um cargo de chefia num hospital um senhor que foi candidato do PSD a uma junta de freguesia http://jn.sapo.pt/2007/11/04/norte/nomeacao_hospital_levanta_duvidas_ps.html
Claro que não está indignado com a nomeação pelo PS, pelo PSD e pelo CDS, sem concurso, de elementos para cargos de direcção nos restantes hospitais. Deve ser distraído!

3 - Uma funcionária de uma junta de freguesia, visivelmente incapacitada, foi considerada apta para o serviço por mais uma junta médica da CGA. http://jn.sapo.pt/2007/11/05/norte/piaes_contesta_alta_funcionaria_junt.html
Segundo o "Primeiro Jornal" de hoje, da SIC, o sr. Ministro das Finanças, que tutela o assunto, com a atitude humanitária que lhe é peculiar, afirmou que o assunto estava em análise, mas que "a lei tinha sido estritamente cumprida". Pode a senhora em causa estar descansada. O facto de a lei estar a ser "estritamente cumprida" vai fazer com que não tenha dores e fique imediatamente apta para o trabalho. Quem sabe se ainda não irá a tempo para as competições de ginástica nos olímpicos de Pequim?

P.S. : Horas depois de escrever este post, vi no noticiário das 18H00 da SIC Notícias o sr. Ministro das Finanças afirmar que tinha dado ordens à CGA para rever a situação da senhora e à ADSE para manter a senhora em baixa médica até nova junta. Atitude acertada. Só acho estranho que seja o sr. ministro a determinar quem está de baixa médica. Que dirá a isto a sempre atenta Ordem dos Médicos?

Será que esta gente não tem vergonha na cara?