domingo, 23 de agosto de 2009

Sacrossanta estupidez!

Acabo de ver no noticiário das 22 horas da RTP 2 uma reportagem sobre o lamentável desastre da queda de uma arriba no Algarve, onde se entrevistavam algumas pessoas espapaçadas debaixo de uma arriba, mesmo junto a um sinal triangular de perigo de queda de pedras, com o aviso "Perigo de queda de pedras" escrito em português, inglês e outra língua que agora não me recordo.

Perguntados sobre se não tinham consciência do perigo que corriam, um respondeu "Também era muito azar que fosse cair agora. Nós portugueses somos assim! Também nas estradas há sinais de perigo e nós passamos na mesma...". Outra afirmava "A responsabilidade não é minha. O governo é que deve impedir que nós aqui estejamos!"

Perante estas respostas, só se pode concluir que os portugueses não precisam de inimigos. São um povo suicida e que gosta de chicote nas costas para andar direitinho na manada.

Claro que não me admira ver amanhã as mesmas pessoas queixarem-se de excessos de zelo da polícia, dos radares-armadilha, das câmaras de vigilância e outros atropelos à liberdade individual. A verdade é que não merecem outra coisa.

Espero que não representem a maioria do nosso povo, mas uma minoria aberrante.

Eu não me sinto representado!

sábado, 1 de agosto de 2009

Uma ajudinha ao sr. primeiro-ministro (2) - Saúde

Como prometido, cá vai uma ajudinha para perceber o que correu mal relativamente à saúde.

Neste caso temos duas situações principais, não falando dos casos dos médicos e enfermeiros enquanto funcionários, já tratados no post anterior: as maternidades e as urgências.

Desde já devo dizer que concordo com o encerramento de serviços sem condições e sem casuística que justifique a sua existência. O problema foi o método...

No caso das maternidades, nomeou-se uma comissão científica, como é de bom tom, que produziu um estudo onde se propunham as maternidades a encerrar e a manter-se, responsabilizando-se estas pelo trabalho das encerradas.

Acontece que, não pondo em causa o valor científico dos senhores professores doutores membros da comissão, falta ao trabalho uma característica fundamental para ser científico - não é repetível!
No trabalho não se discriminam as condições de cada maternidade, uma a uma, para se concluir estar ou não dentro dos parâmetros exigidos. Foi-se simplesmente pela casuística e localização, que se confundiu com qualidade, omitindo todo o resto.
Chegou-se ao facto incrível e ridículo de o sr. ministro entregar ao Serviço de Obstetrícia de um hospital o Prémio Educação 2005/06 pelo projecto Preparação Parental para o Nascimento e, no dia seguinte, o mesmo sr. ministro encerrar o mesmo serviço por, com base no tal trabalho "científico", não ter qualidade.
Esse serviço, que tinha laboratório permanente 2 pisos abaixo, bloco operatório na porta em frente e equipas de anestesia e cirurgia permanentemente disponíveis, encerrou. Ficou aberta uma maternidade, na capital de distrito, sem laboratório e sem equipa cirúrgica permanente.

Se houvesse a frontalidade de dizer que, em face da casuística, a análise custo-benefício era desfavorável à manutenção do funcionamento, toda a gente perceberia.
Se um restaurante com cerca de 30 trabalhadores só servir uma refeição por dia, toda a gente percebe que é insustentável e terá de fechar.

Por outro lado, houve a pressa arrogante de impor os encerramentos, sem cuidar antecipadamente de dotar as maternidades que se mantinham com os meios de instalações, equipamentos e pessoal necessários para assistir os novos utentes. Vi situações em que enfermarias para 2 camas tinham 4, devido ao novo afluxo.

Quanto às Urgências, o processo foi semelhante.
Neste caso, a comissão produziu um trabalho bem justificado e repetível. Só falhou em não atender a que 60 km na A1 às 23H00, não é o mesmo que 60 km nas estradas da Pampilhosa da Serra à mesma hora, com neve ou nevoeiro.

As populações e a comunicação social confundiam SAP com Urgência. Para quem nunca viu uma Urgência a sério, é fácil estar convencido que um SAP lhe pode salvar a vida.

Não houve o cuidado de informar as pessoas de que os médicos e enfermeiros dos SAP faziam "milagres" todos os dias para atenderem decentemente os utentes, em condições deploráveis de instalações, sem equipamentos e sem qualquer tipo de apoio profissional. Vi alguns onde o equipamento era um esfigmomanómetro, um estetoscópio e um "diagnostic set".
Nestas condições, nem o NOBEL da medicina tinha meios de diagnosticar fosse o que fosse...

Como nestas coisas da saúde o sentimento de segurança é fundamental, faltou fazer as transformações de modo gradual e colocar os meios alternativos nos locais antes dos encerramentos, dando assim confiança aos utentes.
Numa corrida de estafetas, o atleta que recebe o testemunho acompanha o companheiro que lho passa até que estejam à mesma velocidade. Assim deveria ter sido!