sábado, 29 de novembro de 2008

Vamos falar de avaliações e carreiras

Desde 2002 que os sucessivos governos se têm afadigado a injectar na população a "verdade oficial" de que anteriormente os funcionários públicos não eram avaliados e que agora surge a salvação da Pátria e, quem sabe, do próprio planeta, com o estabelecimento do sistema SIADAP, o sistema de avaliação dos professores e respectivas cotas (questão de fé!).

Ora vamos lá analisar a verdade dos factos. É que eu aprendi a não gostar de verdades oficiais.

Antes do governo do dr. Barroso, os funcionários eram já avaliados há muitos anos. Todos os anos as chefias preenchiam uma ficha de avaliação dos seus subordinados, onde eram avaliados os parâmetros qualidade de trabalho, quantidade de trabalho, aperfeiçoamento, assiduidade e pontualidade, responsabilidade, iniciativa e criatividade, relações com o público, relações humanas no trabalho, respeito pela segurança, conservação do material e capacidade de direcção, sendo retirados os parâmetros que não se aplicavam ao funcionário em concreto.
A cada parâmetro correspondiam 5 perguntas objectivas, que permitiam a classificação de 1 a 10. Ao fim, fazia-se a média das classificações, sendo que se classificava de BOM quem tivesse 6 ou mais e MUITO BOM acima de 9.

Só quem fosse classificado de BOM poderia progredir na carreira, tanto a nível de escalões (que substituíram as diuturnidades e a que asneaticamente chamam de promoções automáticas) quer de acesso a concurso para promoção. O MUITO BOM implicava diminuição de 1 ano no tempo na categoria para ter acesso a concurso de promoção.

Nesse tempo, que se teima em classificar de "balda", as promoções na carreira eram por concurso e não por cartão partidário ou simpatia das chefias.

Claro que se poderá arguir que 60% é pouco para se ser considerado BOM. Concordo plenamente com os que assim pensarem. Deveria ter-se criado a classificação de SUFICIENTE entre os 50 e os 70% e o BOM só daí para cima.

O governo do dr. Barroso, com a responsabilidade directa da dr.ª Ferreira Leite (que nunca esqueça!), na sua fúria privatista, impôs a aplicação de um sistema vindo da indústria e do comércio, o SIADAP, que nunca se conseguiu aplicar decentemente e duvido muito que se consiga. É que os objectivos de uma actividade privada, obviamente virada para o lucro e para fazer o cliente consumir o mais possível, não podem aplicar-se a serviços públicos, cuja função é servir as necessidades dos utentes com a máxima economia possível.

Por outro lado, com a finalidade óbvia de escolher quem progride na carreira, criaram-se as famigeradas "cotas" de avaliação, que introduzem logo à partida um enviesamento na seriedade do sistema. Quando se impõem limites à quantidade de determinada classificação, está-se logo a introduzir a mais abjecta injustiça.

Se à entrada de um exame um professor dissesse aos examinandos: "- Independentemente do que fizerem, só 25% é que podem ter mais que 16", que lhe chamavam? Eu chamava-lhe vigarista!

Argumentam os defensores de tão estranha coisa que, se não fosse assim, eram todos promovidos. Asneira! Todas as carreiras tinham determinado número de lugares em cada categoria. Como havia concursos, só os melhores eram promovidos, se e quando houvesse vagas.

Claro que concordo que todas as carreiras tenham diversas categorias, incluindo os professores, uma vez que, como é natural, as pessoas vão aumentando as suas competências com a experiência profissional. Não conheço nenhum exército só de generais...

Julgo ter contribuído para a reposição da verdade, sendo que os factos que relato podem ser verificados por qualquer um que o queira fazer. É só ir ver às leis.