domingo, 12 de abril de 2009

A guerra dos genéricos

Recentemente voltou às primeiras páginas da imprensa o conflito que envolve a Associação Nacional de Farmácias (ANF), a Ordem dos Médicos e o Governo acerca do fornecimento mais ou menos livre de genéricos pelas farmácias.

Como o tema envolve o dinheiro dos utentes, e do Estado, é fácil criar divisões demagógicas extremadas sobre o assunto. Uns dizem que os genéricos são a melhor coisa do mundo e fonte de enormes economias para as finanças do SNS. Outros, pelo contrário, diabolizam tais medicamentos só faltando dizer que são feitos atrás da porta nos acampamentos ciganos.

O Zé utente e pagante fica perfeitamente baralhado sem saber em quem acreditar, uma vez que já tem larga experiência de qualquer dos contendores lhe enfiar memoráveis barretes.

Pessoalmente, devo já dizer que defendo a utilização dos genéricos sempre que possível e em unidose.
Sabem que há países (por exemplo a Tailândia) onde as farmácias só existem nos hospitais, onde termina o circuito do doente, e em sistema uniodose? Vi isso em hospitais de empresas multinacionais do ramo, não se tratando portanto de delírios socialistas.

Com alguns anos de experiência na Saúde, vou tentar explicar a situação.

Todos sabemos que a indústria farmacêutica constitui um dos potentados mundiais, chegando a pôr e depor governos, e que fica prejudicada com a entrada no mercado dos genéricos, que não são mais que os seus produtos cujo prazo de registo reservado já expirou. Os sucessivos governos, desde há mais de 30 anos, deixaram que esta indústria se apoderasse do sistema de saúde, dominando actualmente os equipamentos de análises e a quase exclusividade da formação contínua dos médicos, para além de ser credora de muitos milhões de euros ao Estado.

Por outro lado, as farmácias comerciais, também credoras de milhões de euros ao Estado, seu maior cliente, estão interessadas na venda dos genéricos (diz-se que a ANF é sócia de uma produtora de genéricos), até para aumentarem as vendas devido à baixa de preço. Nem a indústria nem as farmácias parecem particularmente interessadas na unidose, que lhes baixaria substancialmente os lucros.

A ministra da Saúde tem a infelicidade de estar, neste caso, na situação do fiambre na sande. De um lado, a toda poderosa indústria, a quem deve milhões e que a pode deixar de um dia para outro sem análises e sem medicamentos. Por outro lado, as farmácias, a quem também deve milhões, e que têm toda a facilidade de conquistar a simpatia dos utentes (são votos!), com a promessa de preços mais baixos. Aqui as farmácias estão numa situação mais fraca, uma vez que, sendo o Estado o seu maior cliente, se não lhe venderem fecham a porta.

Claro que os genéricos, devidamente controlados e em unidose fazem parte de uma solução para baixar os custos do SNS.

Em defesa do SNS temos o dever de apoiar a ministra nesta situação.