terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Burla estatística

Vai sendo moda resumir toda a discussão e justificação dos actos políticos à estatística, eleita como quase religião oficial. De facto, temos sido repetidamente vítimas de falácias estatísticas, que depois passam a ser verdades incontestáveis. Vejamos:

- Afirma-se que é escandaloso que a média dos vencimentos dos funcionários públicos seja muito superior à média dos vencimentos

dos privados, querendo passar a ideia de que cada funcionário ganha muito mais que o seu equivalente privado. Se se tratasse da mediana, valor médio entre o vencimento máximo e o mínimo em cada conjunto, não considerando o número de ocorrências (frequência) e considerando que as mesmas profissões estavam representadas nos dois conjuntos, seria aproximadamente verdade. Tratando-se de média, onde conta o número de ocorrências em cada caso, estamos perante uma falácia. O universo dos funcionários, cerca de 700.000, tem uma maioria de licenciados (professores, médicos, enfermeiros, técnicos, engenheiros, juristas, magistrados, militares, forças de segurança…) com vencimentos adequados à sua formação que, comparados com profissionais equivalentes do privado, auferem vencimentos geralmente menores. A média dos seus vencimentos terá obviamente que ser superior à dos outros 3.300.000, cuja maioria é de indiferenciados ou de formação muito inferior. Jogar com estes conceitos para suscitar ódios e justificar o saque aos vencimentos e pensões, não é política, é burla!

- Do mesmo modo, ainda ontem ouvimos o sr. Primeiro-ministro fazer o mesmo jogo em relação às pensões de reforma. Há, de facto, quem tenha altas e escandalosas reformas sem que tenha descontado o correspondente. São os senhores nomeados para gestores públicos que, no dia da posse contavam logo 15 anos de serviço, e saíam uns meses depois, devido a mudança dos governos, com alta indemnização e direito a uma reforma, somando vários destes casos. Também os senhores deputados que tinham reforma ao fim de 8 ou 12 anos de serviço.
Por outro lado, o Estado nunca pagou a sua parte de entidade patronal à CGA e houve desvio dos descontos dos contributivos para os não contributivos.
Concordo com as pensões dos não contributivos, muitos porque nem podiam contribuir, mas devia ser encargo do Estado através da redistribuição dos impostos e não dos que contribuíram.

Para demonstrar a realidade, vou expor o que se passou comigo.

Iniciei a carreira em 1969 com o vencimento de 5.000$00. Para termos uma unidade de medida padrão no tempo, vamos falar de valores materiais constantes. Como um café, em 1969, custava 1$00, digamos que eu ganhava 5.000 cafés. Descontando 10% para a CGA, descontaria 500 cafés. Actualmente, com o café a 0.65€, teria descontado 325.00€. Ora, a um desconto de 325.00€, corresponderia um vencimento 10 vezes maior, ou seja, 3.250.00€. Acontece que, no fim da carreira de 37 anos, me reformei com um vencimento de 1.500.00€ e uma pensão de 1.350.00€.

Afinal quem descontou menos do que devia?!
Onde está o meu dinheiro?