quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Protocolo notável

A notícia http://www.asbeiras.pt/?area=coimbra&numero=47141&ed=02082007 refere um protocolo entre dois hospitais integrados no SNS, o que pode parecer perfeitamente normal e sem nada de notável.
No entanto, quem esteja por dentro dos problemas da Saúde, sabe que estamos perante um desmoronar de muros de "quintas", que é mesmo notável. Parabéns aos intervenientes!
Caso continuem por este caminho, terão de ter cuidado com o IPPAR. É que há "muros" tão vetustos que deve ser necessária a intervenção de arqueólogos para os demolir.
Quem esteja por fora, talvez desconheça a dificuldade para, dentro do mesmo hospital, mudar uma cama vazia de um serviço, onde está vaga, para o serviço contíguo, onde faz falta. É uma luta que pode demorar meses, tal o espírito de "quintinhas" criado desde há muitos anos.
Pude testemunhá-lo várias vezes ao longo da minha vida profissional. É mesmo uma das causas do descalabro financeiro do SNS. Duplicam-se equipamentos e exames, só porque cada director de serviço quer ter os "seus", muitas vezes sub-aproveitados.
Por exemplo, no tempo do ministro Gonelha, estive numa reunião dos responsáveis de hospitais e centros de saúde, onde o ministro propôs que o processo clínico acompanhasse o doente do centro de saúde para o hospital. Nada mais lógico, para quem pense em termos funcionais. Ouviu um rotundo NÃO da parte dos representantes dos centros de saúde, porque viam nisto uma supervisão do hospital ao seu trabalho.
Também durante um inventário nacional de equipamentos em que participei, agora no tempo da ministra Leonor Beleza, encontrei no "quintal" de um hospital do distrito de Aveiro, à chuva, um equipamento móvel de radiologia, novo, só porque não cabia nas portas. Quem o tinha comprado, não tinha estudado a adequação do equipamento ao local. Não me consta que tenha sido transferido. Pertencia àquela "quinta"!
Na mesma ocasião, encontrei num centro de saúde um conjunto de equipamentos para instalação de um laboratório de análises, encaixotado. Ainda lá deve estar, se não aproveitaram os caixotes para a lareira.
A ministra tentou rentabilizar os equipamentos, retirando-os de onde estavam inoperantes para os colocar onde faziam falta. O resultado é conhecido: patins na ministra.
Perante isto, digam lá que não é notável, digno de registo e dos maiores encómios, o protocolo entre dois hospitais, um geral e um psiquiátrico.