quinta-feira, 12 de março de 2009

O caso do comboio da Figueira

Depois de ler o post http://palavras-cruzadas.blogspot.com/2009/03/ligacao-ferroviaria-figueira-da-foz.html, tendo sido durante vários anos utente do mesmo vai-vem, não resisto a comentar.

Vejamos o que se passou:

Umas senhoras recolheram durante a viagem assinaturas para um abaixo-assinado de protesto contra os recorrentes atrasos na linha Figueira da Foz - Coimbra. O revisor chamou a polícia, que respondeu à chamada, identificando as senhoras à chegada à Figueira da Foz, como organizadoras de um movimento, pelos vistos uma infracção legal.

Claro que logo apareceram os comentadores com acusações de fascismo, acção pidesca, etc., que só podem ser fruto de mentes seguidoras de ideias comunistas, anarquistas e outras ideias subversivas, bem como de organizadoras de campanhas negras.

Vejamos do que, em minha opinião, se trata:

A CP ( ou lá como se chama agora a empresa dos comboios), conhecedora do estado deficitário do turismo da Figueira da Foz e sabendo o chamariz de multidões que são as reconstituições históricas, resolveu dar uma ajudinha.

Já imaginaram as multidões que se deslocarão à Figueira, vindas da Austrália, Canadá, quiçá do Burkina-Faso, para verem e andarem num comboio que consegue fazer os míseros 50 Km da Figueira a Coimbra no tempo de 1h 06m, à estonteante velocidade média de 45 Km/h?

Assim, resolveram dar essa prenda à Figueira, com um comboio de há 50 anos atrás.

Então acreditam que um revisor, em 2009, ia chamar a polícia por alguém andar a recolher assinaturas? Claro que é uma reconstitução de algum "bufo" de há 50 anos!

Acreditam que a PSP da Figueira da Foz, a braços com traficantes de droga e outra bandidagem às dúzias, ia perder tempo a atender uma denúncia de "organização de movimento"? Obviamente que não. Os senhores fardados eram figurantes da já referida reconstituição!

Estão esclarecidos?

domingo, 1 de março de 2009

Sexo, moral e bons costumes

Nas últimas semanas houve três acontecimentos que ocuparam as parangonas da comunicação social: as posições da Igreja sobre homossexualismo, a retirada das imagens de um carro de carnaval em Torres Vedras e a apreensão de livros em Braga por eventuais atentados à moral e aos bons costumes. Entre estes acontecimentos há uma coisa em comum - a censura do sexo e actividades relacionadas.

É fácil apontar o dedo ao polícia que apreendeu os livros ou à magistrada que proibiu as imagens de carnaval, mas temos de ir às causas profundas.

Sendo o sexo uma componente normalíssima do ser humano, dou comigo a reflectir o porquê deste anátema e do considerar-se tudo o que com ele se relaciona atentatório da moral e dos bons costumes.

Sabemos que a razão básica é da nossa tradição cultural e religiosa, mas, sendo o resumo da doutrina de Cristo "ama o próximo como a ti mesmo", e não sendo a actividade sexual, desde que consentida, agressiva para quem quer que seja, porquê a condenação?

Só encontro uma razão comum às chamadas religiões do "Livro" (Judaísmo e seus derivados Cristianismo e Islamismo) - o poder.

Os primeiros povos ligaram os fenómenos naturais a forças que não compreendiam e que relacionaram com "deuses". Nasciam as religiões e os homens que se arvoravam em intermediários entre os homens e essas divindades - os mágicos e sacerdotes, que tomaram logo um grande ascendente sobre os outros. Quando surgem indivíduos que se arrogam proprietários de terras e subjugam os outros pela força, aliam-se aos feiticeiros e sacerdotes para consolidação conjunta do poder.

Neste contexto, inventa-se um deus que tudo vê e fiscaliza permanentemente os actos dos humanos. Para controlo eficaz dos povos, nada melhor que controlar os seus instintos mais fortes, nomeadamente o da sobrevivência da espécie, o sexo, e o da sobrevivência pessoal, a alimentação. Talvez venham daí os preceitos religiosos, que depois se tornaram culturais, referentes às práticas sexuais e a certas dietas. É natural que inicialmente estes preceitos também tivessem intenções de saúde pública e controlo da natalidade.

Desta reflexão concluí que o sexo não pode ser atentatório da moral e dos bons costumes nem é minimamente razoável classificar e discriminar as pessoas pelas suas preferências nessa matéria. Alguém se lembraria de discriminar as pessoas por gostarem, ou não, de bacalhau ou por andarem, ou não, de patins? Então porquê o sexo?

O que é atentatório da moral e dos bons costumes é vermos que senhores que se apresentavam como exemplares modelos sociais não passam afinal de uma cambada de ladrões e vigaristas, é vermos "empresários" fecharem as empresas "à má fila" e deixarem os trabalhadores sem pão, é vermos o proliferar de "facadas nas costas" de colegas para subir nas carreiras.

Isso é que é atentatório da moral e dos bons costumes e não há notícia de "retiradas preventivas".

Estamos numa sociedade "sexófoba". É urgente mudar de paradigma.