sábado, 1 de agosto de 2009

Uma ajudinha ao sr. primeiro-ministro (2) - Saúde

Como prometido, cá vai uma ajudinha para perceber o que correu mal relativamente à saúde.

Neste caso temos duas situações principais, não falando dos casos dos médicos e enfermeiros enquanto funcionários, já tratados no post anterior: as maternidades e as urgências.

Desde já devo dizer que concordo com o encerramento de serviços sem condições e sem casuística que justifique a sua existência. O problema foi o método...

No caso das maternidades, nomeou-se uma comissão científica, como é de bom tom, que produziu um estudo onde se propunham as maternidades a encerrar e a manter-se, responsabilizando-se estas pelo trabalho das encerradas.

Acontece que, não pondo em causa o valor científico dos senhores professores doutores membros da comissão, falta ao trabalho uma característica fundamental para ser científico - não é repetível!
No trabalho não se discriminam as condições de cada maternidade, uma a uma, para se concluir estar ou não dentro dos parâmetros exigidos. Foi-se simplesmente pela casuística e localização, que se confundiu com qualidade, omitindo todo o resto.
Chegou-se ao facto incrível e ridículo de o sr. ministro entregar ao Serviço de Obstetrícia de um hospital o Prémio Educação 2005/06 pelo projecto Preparação Parental para o Nascimento e, no dia seguinte, o mesmo sr. ministro encerrar o mesmo serviço por, com base no tal trabalho "científico", não ter qualidade.
Esse serviço, que tinha laboratório permanente 2 pisos abaixo, bloco operatório na porta em frente e equipas de anestesia e cirurgia permanentemente disponíveis, encerrou. Ficou aberta uma maternidade, na capital de distrito, sem laboratório e sem equipa cirúrgica permanente.

Se houvesse a frontalidade de dizer que, em face da casuística, a análise custo-benefício era desfavorável à manutenção do funcionamento, toda a gente perceberia.
Se um restaurante com cerca de 30 trabalhadores só servir uma refeição por dia, toda a gente percebe que é insustentável e terá de fechar.

Por outro lado, houve a pressa arrogante de impor os encerramentos, sem cuidar antecipadamente de dotar as maternidades que se mantinham com os meios de instalações, equipamentos e pessoal necessários para assistir os novos utentes. Vi situações em que enfermarias para 2 camas tinham 4, devido ao novo afluxo.

Quanto às Urgências, o processo foi semelhante.
Neste caso, a comissão produziu um trabalho bem justificado e repetível. Só falhou em não atender a que 60 km na A1 às 23H00, não é o mesmo que 60 km nas estradas da Pampilhosa da Serra à mesma hora, com neve ou nevoeiro.

As populações e a comunicação social confundiam SAP com Urgência. Para quem nunca viu uma Urgência a sério, é fácil estar convencido que um SAP lhe pode salvar a vida.

Não houve o cuidado de informar as pessoas de que os médicos e enfermeiros dos SAP faziam "milagres" todos os dias para atenderem decentemente os utentes, em condições deploráveis de instalações, sem equipamentos e sem qualquer tipo de apoio profissional. Vi alguns onde o equipamento era um esfigmomanómetro, um estetoscópio e um "diagnostic set".
Nestas condições, nem o NOBEL da medicina tinha meios de diagnosticar fosse o que fosse...

Como nestas coisas da saúde o sentimento de segurança é fundamental, faltou fazer as transformações de modo gradual e colocar os meios alternativos nos locais antes dos encerramentos, dando assim confiança aos utentes.
Numa corrida de estafetas, o atleta que recebe o testemunho acompanha o companheiro que lho passa até que estejam à mesma velocidade. Assim deveria ter sido!