terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Do Natal e suas mensagens

Estamos naquela época do ano em que quase todos os povos do hemisfério Norte festejam o solstício de Inverno e consequente renovação da Natureza com os dias a crescerem. É a festa do Sol e da luz.

A Igreja Cristã escolheu esta época para situar o nascimento de Cristo, associado à nova luz do mundo. É irrelevante a data exacta do nascimento. O importante é a sua mensagem e os seus actos.

Também é a época em que tradicionalmente se festejam a família e a solidariedade, desdobrando-se os políticos em apologias dos velhinhos, a que não ligaram peva todo o ano, dos desempregados, cujo desemprego não quiseram evitar a bem da economia, e dos meninos coitadinhos, mas a cujos pais não se dão as condições para deles cuidarem.

De entre todas as já fastidiosas, por repetidas, mensagens, sobressaiu uma, curiosamente de um "inimigo" do cristianismo, o islâmico fundamentalista presidente do Irão, que pôs a pergunta que todos os que se intitulam cristãos deveriam pôr a cada hora do dia: "Se Cristo vivesse agora, que posição tomaria perante os problemas actuais?"
Por uma pergunta semelhante foi S. Francisco de Assis considerado herético, escapando por pouco à correspondente execução.

Sim. Que posição tomaria ao ver a sua doutrina transformada em Igreja institucional pelo imperador Constantino para servir de cimento agregador do império a desmoronar-se. Não seria "dar a César o que é de Deus"?

Que posição tomaria ao ver praticar em seu nome os roubos, violações e atrocidades dos cruzados medievais que, em nome da religião, só pretendiam o saque e as honrarias cavaleirescas?

Que posição tomaria ao ver, em seu nome, os genocídios da Santa Inquisição?

Que posição tomaria perante empresários que se intitulam seus fervorosos servidores e não esitam em roubar escandalosamente aqueles que neles confiam?

Certamente apoiaria homens como Francisco de Assis, António Vieira e os padres da "Igreja da Libertação" da América do Sul.

Pensemos nisto e certamente contribuiremos para um melhor 2009.

FELIZ ANO NOVO!

sábado, 29 de novembro de 2008

Vamos falar de avaliações e carreiras

Desde 2002 que os sucessivos governos se têm afadigado a injectar na população a "verdade oficial" de que anteriormente os funcionários públicos não eram avaliados e que agora surge a salvação da Pátria e, quem sabe, do próprio planeta, com o estabelecimento do sistema SIADAP, o sistema de avaliação dos professores e respectivas cotas (questão de fé!).

Ora vamos lá analisar a verdade dos factos. É que eu aprendi a não gostar de verdades oficiais.

Antes do governo do dr. Barroso, os funcionários eram já avaliados há muitos anos. Todos os anos as chefias preenchiam uma ficha de avaliação dos seus subordinados, onde eram avaliados os parâmetros qualidade de trabalho, quantidade de trabalho, aperfeiçoamento, assiduidade e pontualidade, responsabilidade, iniciativa e criatividade, relações com o público, relações humanas no trabalho, respeito pela segurança, conservação do material e capacidade de direcção, sendo retirados os parâmetros que não se aplicavam ao funcionário em concreto.
A cada parâmetro correspondiam 5 perguntas objectivas, que permitiam a classificação de 1 a 10. Ao fim, fazia-se a média das classificações, sendo que se classificava de BOM quem tivesse 6 ou mais e MUITO BOM acima de 9.

Só quem fosse classificado de BOM poderia progredir na carreira, tanto a nível de escalões (que substituíram as diuturnidades e a que asneaticamente chamam de promoções automáticas) quer de acesso a concurso para promoção. O MUITO BOM implicava diminuição de 1 ano no tempo na categoria para ter acesso a concurso de promoção.

Nesse tempo, que se teima em classificar de "balda", as promoções na carreira eram por concurso e não por cartão partidário ou simpatia das chefias.

Claro que se poderá arguir que 60% é pouco para se ser considerado BOM. Concordo plenamente com os que assim pensarem. Deveria ter-se criado a classificação de SUFICIENTE entre os 50 e os 70% e o BOM só daí para cima.

O governo do dr. Barroso, com a responsabilidade directa da dr.ª Ferreira Leite (que nunca esqueça!), na sua fúria privatista, impôs a aplicação de um sistema vindo da indústria e do comércio, o SIADAP, que nunca se conseguiu aplicar decentemente e duvido muito que se consiga. É que os objectivos de uma actividade privada, obviamente virada para o lucro e para fazer o cliente consumir o mais possível, não podem aplicar-se a serviços públicos, cuja função é servir as necessidades dos utentes com a máxima economia possível.

Por outro lado, com a finalidade óbvia de escolher quem progride na carreira, criaram-se as famigeradas "cotas" de avaliação, que introduzem logo à partida um enviesamento na seriedade do sistema. Quando se impõem limites à quantidade de determinada classificação, está-se logo a introduzir a mais abjecta injustiça.

Se à entrada de um exame um professor dissesse aos examinandos: "- Independentemente do que fizerem, só 25% é que podem ter mais que 16", que lhe chamavam? Eu chamava-lhe vigarista!

Argumentam os defensores de tão estranha coisa que, se não fosse assim, eram todos promovidos. Asneira! Todas as carreiras tinham determinado número de lugares em cada categoria. Como havia concursos, só os melhores eram promovidos, se e quando houvesse vagas.

Claro que concordo que todas as carreiras tenham diversas categorias, incluindo os professores, uma vez que, como é natural, as pessoas vão aumentando as suas competências com a experiência profissional. Não conheço nenhum exército só de generais...

Julgo ter contribuído para a reposição da verdade, sendo que os factos que relato podem ser verificados por qualquer um que o queira fazer. É só ir ver às leis.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Integracionismo, multiculturalismo e interculturalismo

Acontecimentos de um passado relativamente recente envolvendo indivíduos de origens culturais diferentes, principalmente na região da Grande Lisboa, trouxeram a terreiro defensores dos mais variados conceitos, que podemos agrupar nos três que constituem o título desta reflexão: integracionismo, multiculturalismo e interculturalismo.

Vou tentar analisar a viabilidade e utilidade prática de cada um.

Os integracionistas radicais defendem que todos os indivíduos de origem cultural diferente da da maioria estabelecida, devem integrar-se totalmente na prática, usos e costumes dessa maioria, com abandono, e até repúdio, da sua herança cultural. Em extremo, todos deveriam passar a gostar de bacalhau com batatas e couratos e ser cristãos. Foi o exemplo pouco edificante da Santa Inquisição e é a prática, não mais edificante, dos regimes ditatoriais, portanto a rejeitar.

Por outro lado, os defensores radicais do multiculturalismo defenderão que cada um actue de acordo com a sua origem cultural. Para isto ser possível e não termos de aceitar, por exemplo, que os cidadãos ingleses conduzissem pela esquerda em Portugal, teríamos de ir para as soluções também nada edificantes do apartheid, dos guetos ou das reservas de índios das Américas. Rejeito totalmente.

Se estudarmos a história do povoamento desta terra onde hoje vivemos, chegaremos à conclusão de que os descendentes daquele povo que deixou a região onde hoje é o triste Darfur há 150.000 anos foram chegando aos poucos a este território, uns via Mediterrâneo, outros via Pirineus. Já vejo alguns a arrepiarem os cabelos (rapados) porque o avô era negro! Naturalmente que um povo que chegava não ia integrar-se imediatamente na cultura, usos e costumes dos que já cá estavam há séculos. Para coexistirem, certamente estabeleceram procedimentos comuns, independentemente de continuarem com as sua práticas culturais, obviamente na parte que não ofendesse esses procedimentos, e foram dando contributos para a criação gradual de uma nova cultura. Eles mostram-nos o caminho!

Defendo que a solução está no interculturalismo, que consiste em se estabelecer uma plataforma de coexistência comum, com a contribuição de todos, mantendo cada um a sua liberdade religiosa e cultural, com excepção das práticas que ofendam essa plataforma de coexistência plasmada nas leis.

É a tradição deste povo de Portugal, descendente das mais variadas culturas e que contribuiu em muito para o enriquecimento de muitas outras. Disso podemos e devemos orgulhar-nos!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Mais explicações esfarrapadas...

Divirto-me a ouvir e ver alguns dos diversos debates políticos apresentados na rádio e TV. Podem crer que são um valioso contributo para o anedotário nacional, rivalizando alguns com os mais cotados humoristas.
Ora vejam só estes primores:

Um senhor, com alto cargo no ministério da Educação, explicava o facto de os miúdos hoje saírem do 4.º ano de escolaridade a saber muito menos que nós à saída da 4.ª classe, com o prolongamento da escolaridade obrigatória. Esclarecia o senhor que, como antigamente a maioria ficava somente com a 4.ª classe, tinham de aprender o mais possível até essa altura. Hoje, com a escolaridade até ao 9.º ano, têm mais 5 anos para aprender.

Não é notável?

Segundo a teoria exposta, com o prolongamento da escolaridade obrigatória não se pretende ensinar mais aos jovens. Pretende-se ensinar o mesmo em mais tempo!!!!

Quem teve esta ideia, deve ter ficado cheio de dores...nos pés.

Outra conclusão extraordinária prende-se com o facto de os aposentados da Função Pública descontarem para a A.D.S.E. sobre os subsídios de Natal e 14.º mês, ao contrário dos funcionários do activo que não descontam. Em Abril passado, em frente às reportagens televisivas, o sr. Ministro das Finanças, posto perante esta desigualdade, declarou que o assunto se iria resolver.

Apareceu agora a resolução. Não só se mantém o desconto para os aposentados, como se estenderá aos funcionários que entrem de novo.

Um senhor com sorriso alvar, que julgo ser Secretário de Estado, argumentava que se tratava de uma recomendação do senhor Provedor de Justiça e que, descontando os funcionários do activo 1,5% para a A.D.S.E. e os aposentados 1%, 1% x 14 é menos que 1,5% x 12, pelo que os aposentados ainda estavam em vantagem.

Brilhante matemático!

A lei que determinou o desconto dos aposentados para a A.D.S.E. estabelece que o desconto se inicie por 1% em 2007, aumentando progressivamente 0,1% ao ano até atingir os 1,5% dos funcionários do activo. Assim, o desconto actual é de 1,1%. A partir de 2010, já os reformados passam a descontar mais que os colegas do activo, excepto os que entrem de novo.

O senhor do sorriso alvar, ou ignora a lei, ou está a enganar deliberadamente as pessoas.

Se ignora a lei, merece a designação adequada. Se está a enganar deliberadamente as pessoas, isso também tem nome...

Quanto à recomendação do sr. Provedor de Justiça, acredito que fosse no sentido de acabar com a desigualdade de tratamento. O Governo nivela por baixo...

No entanto, surge deste triste facto uma nova teoria:

Se tiver um furo num pneu do carro, não repare esse pneu. Fure os outros 3!

Igualdade Teixeira-style!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Vida de enfermeiro

Os meus amigos Celso e Alcina enviaram-me, em forward, um texto que relata o dia de um enfermeiro em visita domiciliária.

Considero o texto um testemunho exemplar da dedicação, abnegação, profissionalismo e respeito pelo "outro" que tantas vezes testemunhei ao longo de 37 anos de trabalho ombro-a-ombro com aqueles profissionais tão maltratados e vilipendiados que nem o seu grau académico é devidamente reconhecido pelo mesmo Estado que lho conferiu.

É que, embora o texto se refira a visitas domiciliárias, as situações nos hospitais, e sentimentos correspondentes, não são diferentes. Lembra-me de ver algumas enfermeiras a chorar perante a impotência de manterem a vida ao seu doente.

Os locais descritos são, infelizmente, a imagem real de grande parte do País, que se esconde atrás dos hiper-centros comerciais, dos hotéis de luxo e do que se considera publicável pela comunicação social.

Como defendo que as pessoas devem ser melhor informadas do que se passa atrás das batas brancas e outros aspectos visíveis das instituições de saúde, não resisto a transcrever o texto recebido, com a minha homenagem a tão abnegados profissionais. Cá vai:

A casa dos outros

A D. Maria tem 47 anos... e um cancro do ovário. O marido, já reformado, quis satisfazer-lhe o desejo de não morrer no hospital.
Têm uma filha, a acabar o curso na universidade: boa aluna, em altura de exames... precisa de estudar e a sua mãe está a terminar os seus dias de vida no quarto ao lado.
A D. Maria está em cuidados paliativos... e sabe disso! Já não quer comer, bebe apenas alguns goles de água. Tem um soro para que lhe possamos dar a medicação. Tem uma perfusão permanente de morfina, cuja eficácia não é total. A barriga... como descrever? Tem uma colostomia,que mal funciona... está inchada, como um balão que vai rebentar... e de facto, começa a rebentar: abrem-se fístulas espontaneamente e as fezes saem por todo o lado. O cheiro? Não consigo descrever! O corpo? Pele e osso, para ser mais exacta! Há metástases no fígado, no pulmão... a respiração é ofegante... já lá vão 5 semanas...
Diariamente desloco-me a casa da D. Maria, duas ou três vezes: para dar medicação, para cuidar daquela barriga... para falar com ela, para dar o apoio possível ao marido que tenta fazer o que sabe e o que pode. O sofrimento? É grande... de todos!
Mas eu sou enfermeira: não é suposto que me seja difícil ver sofrimento dos outros!
Tudo se torna mais difícil quando estou a sós com a D. Maria, que me agarra na mão e me pede insistentemente... que termine com a vida dela! Os apelos são cada vez mais frequentes, mais desesperados: 'Por favor! Se tem compaixão de mim, injecte-me qualquer coisa para terminar de vez com esta agonia! Pela sua felicidade, por favor, acabe com a minha vida...'
E eu tenho compaixão... mas nada posso fazer! A dor não se consegue controlar, é impossível cuidar dela sem lhe provocar ainda mais dores? O que faz uma enfermeira? Vai-se embora, para casa, a sentir-se inútil... A sentir-se incapaz... Ao ouvir repetidamente aquele apelo... e a desejar, embora lhe custe muito, que a eutanásia fosse possível! Mas, se fosse possível... e a praticasse, como iria para casa?

Mas para quê falar disto?... Os enfermeiros não têm sentimentos!

Saio dali, continuo o meu trabalho domiciliário: agora entro numa barraca, onde chove dentro, onde há ratos, pulgas, lixo... onde o cheiro nos faz perder o apetite...
O Sr. José tem 87 anos e vive sozinho. Tem uma úlcera varicosa. Tenho que fazer o penso. Não há água... nem sequer as mãos posso lavar. Passo-as por álcool à saída e lavo-as na casa do próximo utente.Chove desalmadamente. Volto para o carro, pelo meio da lama. Carrego as malas do material para os cuidados.

Mas para quê falar disto?... A minha profissão não é penosa!...

Próxima paragem: D. Joaquina, 92 anos, vive numas águas furtadas, 5ºandar, sem elevador. Subo as escadas de madeira, apodrecidas,obscuras, com medo que alguma tábua se parta. Carrego com as malas do material...
A D. Joaquina vive com uma irmã, naquele espaço exíguo. Teve uma trombose.Tem úlceras de pressão. O tecto é baixo, inclinado, a cama está encostada à parede. Para lhe prestar cuidados tenho que me pôr de joelhos no chão e ficar inclinada.
Quando me tento endireitar as minhas costas doem... tenho as pernas dormentes... pego nas malas, desço as escadas... continua a chover...procuro o carro que tive que estacionar a 500 metros!

Mas, para quê falar disso? Os enfermeiros não se queixam...

Próximo desafio: a Helena! Toxicodependente... tem SIDA, continua a consumir... com sorte, ainda lá encontro o traficante em casa... mas as enfermeiras não têm medo!

Continuo: o Sr. Manuel é diabético, divorciado, tem 50 anos, foi amputado de uma perna, vive sozinho num 3º andar. Há 2 anos que não sai de casa: como fazer? Das poucas pessoas, com quem convive, são as enfermeiras! Precisa de conversar... como lhe dizer que ainda tenho mais 4, ou 8 pessoas e que não tenho tempo para estar ali a ouvi-lo?

Mas para quê falar disso? Os enfermeiros só dão injecções e fazem pensos... tudo o resto é supérfluo!

Para quê falar da solidão do outro, da minha impotência, do pedido da eutanásia, da chuva, do frio, do sol, do calor, do mau cheiro, das minhas dores nas pernas, do material do penso a conspurcar o meu carro (a seguir vou buscar a minha filha à escola!), das dores nas costas,do medo, da insegurança, do ventre desfeito, da tristeza, da compaixão...

Não, a penosidade e o risco devem ser uma ilusão minha...

Não, as enfermeiras não choram!

Mas sabem?... as lágrimas que mais doem são aquelas que não correm!'

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Da pena de lousa ao Magalhães

Hoje, bombardeado pelas referências noticiosas ao Magalhães, o computador para os miúdos da primária, dei comigo a recordar os tempos da minha escola primária e a evolução dos meios de escrita e de cálculo desde aí.

Sim, porque continuo a afirmar que o computador é uma ferramenta, como a esferográfica, que pode ser benéfico ou maléfico conforme o uso que se fizer dele. Não faz milagres nem substitui o professor.

Mas entrando nas recordações, quando entrei para a primária, em 1953, as escolas também não tinham aquecimento nem espaços desportivos, nem transportes, nem cantina, só que ninguém as fechava por causa disso. Escrevia-se nos cadernos e nas provas (havia várias sem que ficássemos psicologicamente afectados) com canetas de molhar no tinteiro, que fazia parte da carteira de madeira. As coisas temporárias de acompanhamento das aulas (principalmente contas) faziam-se num pequeno quadro de ardósia- a lousa -, onde se escrevia com um pedaço do mesmo material - a pena de lousa -, sendo que duas custavam 1 tostão.

Reprovava-se (ficava-se retido) em todas as classes, só se avançando se se soubesse mesmo a matéria.

Passado para o liceu, em 1956, já se escrevia com caneta de tinta permanente, o que nos conferia um ar "importante".

Quando, talvez por 1958, apareceu a esferográfica, foi considerada objecto pernicioso, sendo proibida nos pontos (testes), exames e documentos oficiais. Todos estes escritos tinham de ser feitos a tinta líquida azul. O regime abominava "modernices". Não obrigarem à pena de pato, já era um grande salto tecnológico e demonstração de modernidade!

Mais tarde, 1963, no ensino superior, já se podia utilizar a régua de cálculo, ferramenta utilíssima e bastante rápida para a realização de cálculos complexos. Nessa época, um computador ocupava um andar e não tinha maior capacidade que a mais barata das nossas calculadoras de bolso actuais. Não se vendiam. As empresas de informática - IBM, NCR - alugavam-nos aos bancos e outras empresas do género.

Hoje, nas discussões e comentários sobre o assunto, ainda lá estavam os que consideram o computador pernicioso - já aceitaram a esferográfica! - e causador de os meninos não saberem nada. Outros, no extremo oposto e com a mesma dose de ignorância, acham que ficam resolvidos todos os problemas da educação. Como se a ferramenta ensinasse alguém a trabalhar!

Se queremos formar os jovens para o futuro, claro que temos de os habituar a utilizar os meios do mundo moderno, o que não impede, pelo contrário, que saibam fazer os cálculos e a escrita de modo manual, até para programarem o computador.

Benvindo, Magalhães!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Há cada explicação....

Há dias, a propósito da polémica das grandes melhorias na performance do ensino, que alguns ligaram ao "aconselhamento" aos professores para que não houvesse retenções (agora não se chama chumbo por razões ecológicas relacionadas com a nocividade dos metais pesados...), um senhor ministro, que se intitulou professor catedrático, veio negar quaisquer interferências do governo em tais matérias, mas defender o fim das retenções.

Dizia o senhor ministro haver um estudo que demonstrava que os alunos que estavam num ano escolar correspondente à sua idade eram melhores alunos que aqueles que estavam num ano escolar atrasado em relação à idade, concluindo-se que os segundos não eram bons alunos por terem sido retidos, colocando-os em anos atrasados.

BRILHANTE!!!!! Os alunos que estão em anos escolares correspondentes à sua idade não estão lá por serem bons alunos. São bons alunos porque estão lá!!!!!

Concluía o senhor ministro que, se evitássemos as retenções, colocando todos os alunos nos anos correspondentes à sua idade, acabaríamos com o insucesso escolar. Notável!!!

Seguindo o raciocínio do senhor ministro, se dermos a um licenciado em direito um certificado de doutoramento em física nuclear, corremos o risco de ter um prémio Nobel da física.

Para ajudar a dar-nos um nó na inteligência, vêm agora os senhores das petrolíferas explicar que os combustíveis aumentaram imediata e brutalmente devido ao aumento dos preços do petróleo, sendo irrelevante para o caso a queda livre do dólar em relação ao euro. Já quando os preços do petróleo baixam drasticamente, os combustíveis não podem baixar imediatamente devido à pequena subida do dólar em relação ao euro.

Então em que ficamos? A fórmula só funciona num sentido? A relação euro-dólar só é relevante para baixar os preços?

Para rematar as explicações esfarrapadas, parece que o governo não quer considerar na carreira de técnicos superiores (licenciados) os enfermeiros e técnicos de diagnóstico e terapêutica, cujos cursos são de licenciatura.

Porquê? Será por causa do título genérico de "doutor", usado abusivamente pelos licenciados em geral? Depois haveria confusões com os médicos, farmacêuticos e outros? Então e o "respeitinho"?

Será que há licenciaturas de 1.ª e de 2.ª?

Desculpem estes desabafos, mas tenho a sensação de que, ou me andam a tentar vigarizar ou estou atacado com o síndroma da PDI.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Grandes lições...

Ontem, a propósito de uma experiência inédita no campo da física das partículas, que se diz ir dar uma ideia aproximada do que se passou imediatamente a seguir ao big-bang, tivemos oportunidade de assistir nos diversos canais de televisão a memoráveis lições de ciência e humildade.

Desde logo eminentes físicos explicaram a complexa experiência de modo a toda a gente perceber. Todos afirmaram não se tratar do fim das pesquisas científicas, mas do início de uma nova fase de investigação. Isto é, quanto mais se sabe, mais consciência se tem do que há ainda para saber. Posta perante o problema do início de tudo, uma cientista disse mesmo que se supõe que o big-bang foi o resultado do choque de partículas. Mas onde estavam as partículas? De onde vieram? Início?

Também proeminentes representantes da Igreja Católica se pronunciaram a favor dos progressos científicos, classificando as teorias criacionistas do "Génesis" de mitologia que nada tinha de científico.

Enfim, um dia memorável de humildade, onde se viu que as pessoas que realmente têm valor e saber o exprimem com simplicidade.

Grandes lições para todos nós, especialmente para aqueles que julgam que complicar as explicações os tornam credores de grande admiração.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Seguranças, inseguranças e outras andanças

Desde há cerca de um mês que vimos sendo bombardeados com notícias de criminalidade violenta a níveis a que não estamos habituados.

Os responsáveis políticos tentam demonstrar-nos, com a eterna estatística, que nada de anormal se passa, tratando-se de factos normais empolados pela comunicação social. Claro que os assassinados, gravemente feridos e roubados são meros "danos colaterais"... Onde é que eu já ouvi isto?!

Os polícias queixam-se de que arriscam a vida para prender um criminoso, que será imediatamente libertado pelo tribunal, saindo até antes do polícia, e de que só podem usar a força depois de mortos.

Os juízes dizem que a culpa é dos legisladores, pois apenas lhes compete cumprir escrupulosamente a lei.

Os governantes, e legisladores, acusam os juízes de não interpretarem correctamente os textos legislativos (onde chega a iliteracia...!).

Alguém, que mantém o mau hábito de pensar, perguntou-me: "Já reparaste que no ano anterior a eleições há grandes surtos de criminalidade, incêndios florestais e outros factos que tentam pôr a nu as fragilidades dos governos e do sistema"?

Claro que não posso concordar com a desconfiança implícita, que toca as raias da aleivosia (ai a influência das feiras medievais...) e das teorias da conspiração. Pero, que las hay, hay!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Um país de campeões

Desde há vários anos que somos diariamente injectados com o modelo social a que o prof. Cavaco, enquanto primeiro-ministro, chamou de "sociedade de sucesso" e que não é mais que a sociedade dos "winners" e dos "loosers" e relativos "taxpayers".

Os portugueses, que se sentem "taxpayers", exigem a todos aqueles que tenham algum subsidiosito do Estado, portanto dos seus impostos, que sejam indiscutivelmente "winners". Afinal não passam de seus "empregados" com a obrigação de serem os melhores nas funções que lhes são confiadas, mesmo que o subsídio mais mereça a designação de esmola.

Da selecção de futebol não se exige menos que serem campeões da Europa e do Mundo. Os "patrões" já fizeram a sua parte, contribuindo para o subsidiosito e pondo a bandeirinha na janela.

Agora dos atletas olímpicos exige-se que traga uma medalha de ouro cada um. Caso contrário, são uma cambada de calaceiros que andam a passear à nossa custa. Não interessa se anteriormente, fruto de muito esforço pessoal, têm resultados muito acima do que seria de esperar das condições de que dispõem, tendo até já sido campeões do mundo.

Claro que para quem está sentado a ver as provas na televisão enquanto trinca uns tremoços e escoa umas bejecas tudo é muito fácil e só não ganham porque não querem.

É que os portugueses gostam muito de falar de desporto, assunto em que se julgam muito entendidos. Quanto a praticá-lo, ficam-se pelo levantamento do copo e lançamento da perisca.

Quando essas modalidades passarem a disciplinas olímpicas, haverá certamente chuva de medalhas de todos os metais!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Um Grupo impar

Em 1991, um grupo de portugueses a trabalhar em Macau, alguns com experiências em grupos de música tradicional, decidiu formar um grupo para dançar e cantar umas coisas lá da Terra, sempre bom pretexto para um são convívio. Assim nasceu o GDCCM, Grupo de Danças e Cantares do Clube de Macau.

Como a rapaziada gostava mesmo daquilo e o Mestre era dos melhores, atingiu-se um nível que levou ao apoio do governo do general Rocha Vieira como a imagem de marca da cultura portuguesa naquelas paragens.

E lá foram eles por tudo quanto era sítio, de Pequim a Wuxi (inauguração da réplica da Torre de Belém à escala 3/4), de Kagoshima e Osaka a Seul e Taejon (Expo 93 e lançamento, com o dr. Mário Soares, da Expo 98), de Bangkok e Ratchaburi a Singapura e muitos outros lugares das partes do Oriente, e até em Portugal.

Com a devolução de Macau à China, em 1999, grande parte dos elementos voltou aos seus lugares dos quadros em Portugal e o Grupo como que entrou em hibernação, tendo deixado em Macau um "filho", que se denomina Grupo de Danças e Cantares de Macau.

De vez em quando a hibernação é interrompida com o apelo de um ou mais elementos para um encontro. Faz-se um "refresh" do repertório, dão-se uns abraços e lá se entra em outro período hibernatório até à próxima.

Foi o que aconteceu no passado sábado, a convocatória para casa do Mestre Abel. Depois dos abraços de amigos daqueles que já vão rareando, que não se viam há vários anos, e do magnífico almoço, começou o "refreshment". Não me refiro só ao "branco", digno do próprio Baco.

Ouviu-se o inconfundível acordeão do Abel, que já acompanhou a "Menina" do Pedro Barroso e a "Ópera do Bandoleiro". Aquilo é magia! Parece que recuámos 10 anos no tempo! Esquecem-se os mais de 60 anos, as danças e as cantigas voltam à memória e vá de dançar e cantar de modo que nos espantou. Embora sem ensaios, certamente não nos envergonharíamos numa volta aos palcos... É que, com o Abel, o impossível já se fez no ano passado....

E com este sentimento de rejuvenescimento, já com a noite bastante avançada, lá nos despedimos para mais uma hibernação.
Obrigado, Abel!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A culpa é do computador....

Esta utilíssima feramenta que é o computador passou a ser o bode espiatório de muita incompetência e cobardia no nosso país.

Devo esclarecer que considero o computador uma ferramenta, como a esferográfica, com potencialidades abissalmente maiores, embora em termos de inteligência seja tão dotado como um carro de bois. É uma simples peça de ferramenta e mais nada!

O que nos dá depende do que nós introduzirmos e do programa.

O que se passa é que, desde que se vulgarizou a sua utilização, se aparece uma conta de 1.000 € de portagens da Via Verde a um cidadão que nunca teve carro, logo se diz que a culpa é do computador e que o cidadão terá de pagar, reclamando depois no exercício dos seus direitos (?) democráticos e civis, etc., etc., etc. Ninguém assume que se trata de uma crassa asneira de quem introduziu os dados, ou do programa, e corrige imediatamente o erro.

Se uma professora quer emendar um formulário de concurso porque necessita de estar próximo de um filho gravemente doente, respondem-lhe que não pode porque o computador não permite essa alteração. Ninguém assume a responsabilidade de alterar uma situação humana, talvez para obter o tal "excelente" dos "yes-people".

Se alguém cometeu um erro, por má interpretação das instruções, no preenchimento do IRS, é condenado a pagar milhares de euros, sem ser ouvido e, quando esclarece e emenda a situação e solicita o não pagamento, é-lhe respondido que tudo é feito em computador, que terá de pagar no curto prazo dado (não interessa se pode ou não!) e depois de um longo processo se decidirá se lhe é devolvido ou não. Ninguém quer arriscar pensar, talvez em busca do tal "excelente"....

Se se extingue um serviço público (DGV), se dispersam os funcionários experientes e se criam 2 organismos com pessoal inexperiente e, neste movimento, se cria uma enorme confusão em que se perdem 42.000 processos de cartas de condução, obviamente que a culpa só pode ser do computador....

Em resumo, muita gente abdicou de pensar, passando as responsabilidades para o computador.

Sendo assim, poderíamos substituir alguns ministros e altos funcionários por computadores, talvez com ganhos em termos de sensibilidade humana, seguramente em termos de economia e possivelmente ainda de inteligência!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ajudemo-nos

Cá vai um pedido para nos ajudarmos a nós próprios, poupando o ambiente e ajudando o projecto AMI.

Só espero que o governo, com a coerência que lhe é reconhecida, não lhes aplique uma multa por concorrência ao petróleo. Nunca se sabe....

Talvez não saiba, mas o óleo alimentar que já não serve para si pode ainda ajudar muita gente. Em vez de o deitar fora, entregue-o nos restaurantes aderentes para que este seja recolhido. Além de diminuir a poluição do planeta, cada litro de óleo será transformado num donativo para ajudar a AMI na luta contra a exclusão social. Dê, vai ver que não dói nada.

Para participar neste projecto da AMI:

- Junte o óleo alimentar que usa na sua cozinha numa garrafa de plástico e entregue-a quando estiver cheia num dos restaurantes aderentes. Os restaurantes estão identificados e a lista completa está disponível aqui;

- Distribua folhetos pelos seus colegas. Solicite estes materiais, enviando um e-mail para reciclagem@ami.org.pt;

- Divulgue esta informação no seu site ou blog, incluindo o anúncio de rádio ;

- Encaminhe este e-mail para os seus colegas.

Press release:

Pela primeira vez, vai passar a existir em Portugal, uma resposta de âmbito nacional para o destino dos óleos alimentares usados. A partir de dia 15 de Julho, a AMI lança ao público este projecto que conta já com a participação de milhares de restaurantes, hotéis, cantinas, escolas, Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais.

A AMI dá com este projecto continuidade à sua aposta no sector do ambiente, como forma de actuar preventivamente sobre a degradação ambiental e sobre as alterações climáticas, responsáveis pelo aumento das catástrofes humanitárias e pela morte de 13 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.

Os cidadãos que queiram entregar os óleos alimentares usados, poderão fazê-lo a partir de agora. Para tal, poderão fazer a entrega numa garrafa fechada, dirigindo-se a um dos restaurantes aderentes, que se encontram identificados e cuja listagem poderá ser consultada no site www.ami.org.pt.

Os estabelecimentos que pretendam aderir, recebendo recipientes próprios para a deposição dos óleos alimentares usados, deverão telefonar gratuitamente para o número 800 299 300.

Este novo projecto ambiental da AMI permitirá evitar a contaminação das águas residuais, que acontece quando o resíduo é despejado na rede pública de esgotos, e a deposição do óleo em aterro. Os óleos alimentares usados poderão assim ser transformados em biodiesel, fornecendo uma alternativa ecológica aos combustíveis fósseis, e contribuindo desta forma para reduzir as emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE). Ao contrário do que por vezes acontece com o biodiesel de produção agrícola, esta forma de produção não implica a desflorestação nem a afectação de terrenos, nem concorre com o mercado da alimentação.

São produzidos todos os anos em Portugal, 120 milhões de litros de óleos alimentares usados, quantidade suficiente para fabricar 170 milhões de litros de biodiesel. Este valor corresponde ao gasóleo produzido com 60 milhões de litros de petróleo, ou seja, o equivalente a cerca de 0,5% do total das importações anuais portuguesas deste combustível fóssil. A AMI dá assim a sua contribuição para favorecer a independência energética do país, conseguindo atingir este objectivo de forma sustentável e com uma visão de longo prazo, não comprometendo outros recursos igualmente fundamentais para o desenvolvimento da sociedade e para o bem-estar da população.

Segundo a União Europeia, o futuro do sector energético deverá passar pela redução de 20% das emissões de GEE até 2020, assim como por uma meta de 20% para a utilização de energias renováveis. Refere ainda uma aposta clara na utilização dos biocombustíveis, que deverão representar no mínimo 10% dos combustíveis utilizados.

A UE determina ainda que os Estados-Membros deverão assegurar a incorporação de 5,75% de biocombustíveis em toda a gasolina e gasóleo utilizados nos transportes até final de 2010 e o Governo anunciou, em Janeiro de 2007, uma meta de 10% de incorporação de biocombustíveis na gasolina e gasóleo, para 2010.

As receitas angariadas pela AMI com a valorização dos óleos alimentares usados serão aplicadas no financiamento das Equipas de Rua que fazem acompanhamento social e psicológico aos sem-abrigo, visando a melhoria da sua qualidade de vida.

Fundação AMIRua José do Patrocínio, 49 1949-008 Lisboa Tel. 218 362 100 Fax 218 362 199E-Mail: reciclagem@ami.org.pt Internet: www.ami.org.pt

terça-feira, 15 de julho de 2008

Despiques pacíficos

Enquanto num bairro de Loures se desenrolava um conflito de que tivemos as tristes notícias que pontificam na comunicação social, eu assistia a um outro saudável conflito, que há uns séculos seria mais grave que o de Loures, mas que hoje, felizmente, é de natureza oposta.

Era dia de feira em Vila Nova de Cerveira e a vila estava cheia de espanhóis, pois é a feira mais próxima para os lugares do outro lado do rio Minho. Depois de almoço, tomavam digestivos nas esplanadas e mitigavam o calor com umas cervejolas.

No interior de um dos cafés, um moço tocava modas do lado de cá do Minho num acordeon. Quando acabava uma moda, respondiam os espanhóis da esplanada com uma canção galega em coro. Como as gargantas estavam bem lavadas, o coro saía afinadinho.

E lá continuaram pela tarde fora naquele saudável "conflito".

Bem sei que não há problemas étnicos, porque o povo é o mesmo, embora pertença a paízes diferentes, mas que é um bom exemplo, lá isso é!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Exemplos...

Esta noite fui alertado pela notícia de que a um reformado da Força Aérea que tinha reclamado sobre os Serviços de Saúde daquele ramo das Forças Armadas, foi respondido que os Serviços de Saúde eram preferencialmente para os elementos do activo e só depois para os reformados.

Ou seja: um militar que deu o melhor de dezenas de anos da sua vida à instituição militar e ao país é relegado como um trapo velho para a caixa das inutilidades, talvez em nome da eficiência de gestão, da moral desta sociedade de "sucesso" e outras baboseiras que nos impingem todos os dias.

Mal vai um país que trata assim aqueles que lhe deram o seu melhor!

O indivíduo que deu tal resposta, a que não chamo "senhor" por respeito a muitos SENHORES que conheço, esquece-se que, se lá chegar, vai para a mesma situação, onde certamente os do "activo" o tratarão, merecidamente, como eu não trato um cão.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Sociedade de sucesso

O noticiário das 13 horas de hoje, da SIC, mostrou um vídeo de câmara de vigilância de uma cidade dos EUA, onde se vê um homem ser atropelado por dois carros, à vista de muitos passantes que não fazem um gesto para ajudar, o mesmo acontecendo com os ocupantes de vários carros que continuam a passar.

Revoltante, mas esclarecedor exemplo do individualista "american way of life", que nos estão a impingir desde os governos do prof. Cavaco, com a designação de "sociedade de sucesso".

Infelizmente caso semelhante já aconteceu em Lisboa com um cidadão romeno.

Se para ter sucesso é necessário perder qualquer resquício de solidariedade, esquecer a camaradagem e entrar no vale-tudo, no momento de escolher, se ainda for possível votar, EU VOTO CONTRA!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Cartel nos combustíveis?

Ontem fomos brindados com as conclusões de mais uma comissão de inquérito, não sei se "científica", sobre a cartelização, ou não, dos preços dos combustíveis.

A conclusão foi de que não há evidências de combinação de preços, embora haja alguns paralelismos.

Claro que houve logo aqueles mal intencionados que sublinharam as conclusões com uma sonora gargalhada.

Não vejo razões para duvidar e passo a explicar:
  • Não houve evidência de concertação de preços, porque as empresas petrolíferas não lavraram um acordo nesse sentido, com assinaturas reconhecidas notarialmente, o que certamente aconteceria em caso de cartelização;
  • Os paralelismos são certamente devidos ao facto de os gestores das petrolíferas terem frequentado as mesmas universidades (seriam as tais...?), com os mesmos professores, o que os levou a tomar soluções semelhantes nos valores e no tempo.

Qual é a admiração?

Como fica demonstrado, com boa-fé tudo se explica, até aquela brilhante e lapalissiana conclusão de os nossos impostos não serem altos; os espanhóis é que são humilhantemente baixos.

Os espanhóis devem estar envergonhadíssimos!!!!

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Pena de morte

A notícia http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=95024, que ilustra bem a irreparabilidade de um erro judicial, em caso de aplicação da pena de morte, é mais um trunfo irrefutável contra tão primitiva e hedionda forma de "justiça".

Muito embora a aplicação da pena de morte e da pena de Talião tenham sido práticas ao longo de vários séculos, até por povos que se diziam defensores da Fé Cristã, incluindo a própria Igreja, não há dúvida de que contrariam e ofendem gravemente a doutrina libertadora de Cristo.

Ninguém tem o direito de tirar deliberadamente a vida a um ser humano. É punir um suposto crime com outro!

Por outro lado, onde está o castigo em acabar com o sofrimento do condenado?

Se querem um castigo exemplar para quem se considera irrecuperável (acredito que os há), têm o recurso a prisão por longo tempo com trabalhos forçados. Isso tira a vontade de voltar à prisão e serve de exemplo aos outros.

sábado, 17 de maio de 2008

Fumaças e notícias

Todos os órgãos de comunicação gastaram enormes espaços de página e tempos de emissão com a notícia de umas fumaças do sr. Primeiro-Ministro num avião fretado, querendo salientar a evidente incoerência do mesmo senhor como legislador e como (não) cumpridor da mesma lei.

Oh senhores jornalistas! Então a incoerência dos políticos agora também é notícia? Tinha a ideia de que notícia era só o que saía da normalidade, tipo "o homem mordeu o cão".

Vou dar exemplos do que poderia ser notícia:
  • A legislação de higiene e segurança no trabalho está a ser escrupulosamente aplicada em todos os organismos do Estado, incluindo forças armadas e de segurança;
  • Na ASAE há alguns elementos que pensam;
  • Nos tribunais está a ser aplicada Justiça, para além do simples Direito.

Outro bom exemplo de não noticiar factos normais:

Um senhor, presidente de um clube de futebol que, tendo um grande nome, vai participar na Champions League na realidade virtual, acompanhado de um capanga agrediram barbaramente um cidadão no interior de uma agência bancária.

A notícia foi dada por 2 jornais, não tendo tido importância de publicação nos restantes órgãos de comunicação social. Correcto! Atendendo à pessoa que é, nada de anormal que mereça notícia. Foi o cão que mordeu no homem.

Já se fosse o presidente de qualquer outro clube dos chamados grandes, o facto teria honras de abertura de telejornais. Correctíssimo! Nesse caso tratava-se de uma anormalidade, já que não se trata de gente do mesmo jaez.

Perceberam a diferença?

terça-feira, 13 de maio de 2008

Os dicionários da droga

Ontem, 12 de Maio, a rubrica Frente-a-Frente do Jornal das Nove da SIC-Notícias, apresentou um interessante debate entre os deputados prof. Fernando Rosas, pela esquerda, e dr.ª Teresa Caeiro, pela direita.

A dr. Teresa Caeiro mostrou-se escandalizada com a publicação num site do IDT (http://www.tu-alinhas.pt/InfantoJuvenil/displayconteudo.do2?numero=19221) de dicionários referentes ao calão actual relacionado com a droga, interpretando essa publicação com um incentivo ao consumo.

Eu, que nem sonhava com a existência de tais dicionários, não resisti a uma visita. Agradeço ao IDT a possibilidade de actualização do vocabulário. É que, para compreendermos o mundo que nos rodeia temos que compreender a sua linguagem e confesso que já estou um pouco desactualizado!

Não vejo dramatismo algum na publicação daqueles dicionários, que não são diferentes do que seriam os de gíria médica ou dos dialectos Patuá ou Minderico: um contributo para a cultura.

A discussão caiu depois nos métodos de luta contra a droga, com as posições que são conhecidas dos dois interlocutores. A direita defende o processo repressivo do consumo, enquanto a esquerda tem uma posição mais moderada.

A meu ver, o caminho seria o seguinte:
  1. Porque há incentivos ao consumo de drogas? Porque é um bom negócio.
  2. Então o caminho não é reprimir os consumidores, vítimas do processo, mas estragar o negócio. Aqui começa o problema. É que grande parte da economia, não só nacional, mas mundial, passa pelo tráfico de droga e quem domina a economia domina o mundo.
  3. Para estragar o negócio, poderia aproveitar-se a ideia das "casas de chuto", com fornecimento gratuito de droga e tratamento para os viciados. Se a droga é gratuita estraga-se o negócio. Ao mesmo tempo atraem-se os doentes para processos de tratamento.
  4. Quanto aos traficantes, agravamento das penas e diminuição das garantias de defesa. Com o fim do campo de tiro de Alcochete, a Força Aérea podia treinar nas lanchas rápidas dos traficantes. Só se perdem as que caírem no mar!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Correcção

No dia 10 de Janeiro escrevi um post a agradecer ao sr. Primeiro-Ministro o facto de só ter 1.65% de aumento, o que muito contribuiria para a salvação da minha alma.

Estranhando não ser aumentado até Abril, fui ao site da C.G.A., onde li a legislação o concluí que afinal o meu aumento este ano é zero, nada, népias, a ponta dum corno.

Vi ainda que não se trata de um decreto-lei, da responsabilidade do governo, mas de uma lei, da responsabilidade da Assembleia da República, dos tais senhores a que bastam 12 anos de trabalho para terem a reforma por inteiro.

Agradeço-lhes muito o terem estabelecido que os pensionistas e reformados só têm aumento a partir do segundo ano após a aposentação e, mesmo assim, com um processo tão complicado que depende dos valores de inflação e PIB que o governo queira publicar e, ainda assim, se não prejudicar o princípio da estabilidade orçamental, o que se poderá arguir a qualquer momento....

Assim, não só terei um desconto mais substancial nos meus pecados, como me arrisco mesmo à santidade!

Queria agradecer pessoalmente, mas não sei quem foi a mente iluminada (eu não disse o cabrão!) que teve a ideia....

Publico o link do site da C.G.A. para que não haja dúvidas....

http://www.cga.pt/FAQ_Aumentos_2008.pdf

terça-feira, 29 de abril de 2008

Moralidades...

Está na moda alguns políticos que se dizem herdeiros do anticlericalismo da 1.ª República afirmarem: "A moral da República é a Lei!" Como se a moral fosse exclusivo de determinada religião, em contraponto com a lei civil.

Esta afirmação pode significar que a moral fica cativa da vontade dos legisladores, o que pode resvalar perigosamente para uma moral oficial, familiar próxima das "verdades oficiais", próprias de regimes que não são propriamente democráticos.

Poderá ainda querer dizer que a moral se esgota estritamente na lei, isto é, que só o que está na lei é moral e que tudo o que está na lei é moral.

Ora vejamos exemplos:
  • Um agente da PSP ou da GNR persegue um criminoso e tem um acidente com a viatura. É sabido que é responsável pelos danos causados, uma vez que as viaturas das forças de segurança não têm seguro. Poderá ser muito legal, mas será minimamente moral?
  • O Estado, por interpostos institutos "autónomos", expropria terrenos para construção de auto-estradas e outros PIN e não paga atempadamente aos expropriados, a quem foi imposta a expropriação, ordenando até cargas policiais contra os que se opõem à ocupação. Será isto legal? Moral não é certamente!
  • Ouviu-se há dias a história de um cidadão a quem foi comunicado pelo tribunal que teria de pagar as custas de um processo de reivindicação de paternidade movido contra ele por um outro indivíduo e relativamente a uma criança de 4 anos que julgava ser sua filha e de sua mulher. Tinha-se demonstrado que a filha era do outro. Como o outro ganhou o processo, concluiu-se que ele o perdeu e, portanto, teve de pagar as custas. Pode ser muito legal, mas não me parece que seja muito moral.

Temos que a diferença entre lei e moral é a mesma que existe entre direito e justiça. Nada de confusões!

Quanto a moralidades e verdades oficiais, faço minhas as palavras do José Mário Branco: Nesse peditório o pessoal já deu!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Finalmente uma alternativa!

É público e notório que o actual governo é um acérrimo defensor dos funcionários públicos, sobressaindo a sr.ª ministra da Educação pelo desvelo verdadeiramente maternal que dedica aos professores.

Do lado da oposição, o dr. Menezes, contrariamente aos seus antecessores, também não regateia demonstrações de carinho pelos funcionários públicos, tendo até apoiado a manifestação dos professores.

Claro que é esta situação a causa de todos os males do país.

Não desanimem, que vem aí a alternativa! A dr.ª Manuela vai concorrer a líder da oposição e, consequentemente a chefe do governo. Essa sim! Como ministra das Finanças desancou nos funcionários públicos e, como ministra da Educação, dizia não falar com professores nem com alunos.

Finalmente vai ser posta na ordem a cambada dos funcionários e a chusma dos professores.

Chamam alternativa a cada coisa!....

terça-feira, 8 de abril de 2008

Tenho vergonha....

Nos noticiários de hoje da RTP-1 (a tal dos "fretes" ao governo...) mostraram uma notícia da televisão espanhola sobre a continuação das multas aos trabalhadores (médicos, enfermeiros e outros) que residem em Espanha e trabalham em Portugal, por andarem naturalmente com os seus carros de matrícula espanhola.

Lembra-me de, em Janeiro passado e durante uma cimeira luso-espanhola em Braga, o sr. primeiro-ministro, com ar de muito admirado, ter considerado essa situação inadmissível e que iria legislar devidamente na próxima reunião do governo. Disse e cumpriu. No comunicado do Conselho de Ministros lá estava a anulação da medida.

Ficámos todos muito convencidos de que as multas tinham acabado.
A notícia de hoje diz-nos que, para além de as multas se manterem, a GNR faz "emboscadas" nos acessos aos hospitais para apanhar os "infractores".
Ficámos ainda a saber que a resolução foi para a Assembleia da República, onde não se sabe quando será discutida.

Não culpo a GNR por, na qualidade de força militar, fazer emboscadas para melhor neutralizar o "inimigo".

Que o respeito pela palavra dada e contratos feitos não tem qualquer valor para alguns políticos, sabem-no sobejamente os funcionários públicos, que o sentiram na carne.

No entanto, num contexto internacional, era de esperar que se suspendesse imediatamente a aplicação da norma e se envidassem todos os esforços para cumprir a palavra dada.

Como vejo que os exemplos internacionais de gente séria como Egas Moniz de Ribadouro ou Afonso de Albuquerque não são seguidos, venho declarar ter vergonha dos políticos do meu país e pedir desculpa aos profissionais espanhóis.

domingo, 6 de abril de 2008

Campeões da gestão

A 5 jogos do fim do campeonato, o F.C. Porto é novamente campeão. Mai' nada!

Os que não têm capacidades para perceber porquê, inventam logo mil argumentos do seu cardápio de actuações, desde corrupção da arbitragem, a compadrios políticos, a Carolinas, a Marias, cafés com leite e outras especialidades de cafetaria, não conseguindo chegar ao obviamente principal - boa gestão.

Vê-se de facto em campo uma EQUIPA, sem constelações estelares, mas onde todos jogam com todos e para todos, isto é, cada um sabe exactamente o que anda lá a fazer, bem como os papéis dos outros. A isto chama-se ORGANIZAÇÃO!

Qualquer empresa, começando pelo Estado, que trabalhe nos mesmos moldes, só poderá ter êxito, mesmo sem recurso aos iluminados "excelentes", que muitas vezes desaparecem quando falta a "luz", leia-se cobertura dos padrinhos políticos.

Estamos pois, como é evidente há muitos anos, perante um caso de êxito por boa gestão.
Não percam tempo a culpá-los. Basta imitá-los!

Parabéns aos CAMPEÕES!

domingo, 30 de março de 2008

O engenheiro do hospital

Quando em 1969, terminados os estágios de fim de curso, procurava o primeiro emprego, soube da existência de uma vaga no Hospital de S. João e fiz a pergunta: Engenheiro num hospital?! A fazer o quê?!
Do pouco que conhecia dos hospitais só sabia da existência de uns senhores e senhoras de bata branca e que tratavam da saúde à gente. Não via a ligação das engenharias a tal ambiente.
Como tinha de arranjar emprego, lá concorri e entrei. Só então é que encontrei as respostas à minha pergunta.

A pergunta perseguiu-me durante toda a vida profissional. Quando dizia a alguém que trabalhava num hospital, lá vinha a pergunta: Engenheiro num hospital?! A fazer o quê?!

Vou tentar explicar, até porque já encontrei pessoas ligadas aos Recursos Humanos do Ministério da Saúde (princípio da década de 1980) que não sabiam, embora estivessem a elaborar quadros de pessoal para hospitais.

No caso dos Hospital de S. João, trata-se de um edifício com milhares de portas, dezenas de quilómetros de canalizações eléctricas, de águas, de esgotos, de gases medicinais, milhares de aparelhos de toda a ordem, desde os enormes aparelhos de raios X ao agrafador da secretaria. Alguém tem de tratar daquilo tudo! Terá de haver uma equipa técnica, onde cabe sem dúvida a função de engenheiro. Nos hospitais mais pequenos, tudo se mantém, evidentemente na sua devida escala.

Dizia o Prof. Eng.º Eduardo Caetano, autoridade mundial no assunto, que o funcionamento do hospital assenta em 4 "pilares": o pessoal, o material (de consumo), as instalações e os equipamentos, considerando-se instalações o edifício e tudo que lhe é solidário e equipamentos todos os artefactos que se ligam, ou não, às instalações.

Temos portanto que caberá à equipa técnica tratar de 2 dos 4 "pilares" do hospital: das instalações e dos equipamentos.
Para tal existe um serviço que tem exactamente esse nome - Serviço de Instalações e Equipamentos - cuja função é fazer a gestão e manutenção desses 2 "pilares".

Aqui começam os problemas com que os profissionais se debatem diariamente. É que se trata de uma função não existente expressamente na lei, Estatuto Hospitalar, cuja última actualização é de 1964, quando a realidade era muito diferente. Nessa altura falava-se muito vagamente de "manutenção do património", dependente dos Serviços de Aprovisionamentos e verdadeiramente um apêndice.
Era frequente, nos velhos hospitais da Misericórdia, que a função fosse exercida pelo jardineiro "jeitoso", não raramente semi-analfabeto.

Com a passagem dos hospitais das Misericórdias a públicos, decorrente do 25 de Abril, criaram-se em todos eles equipas técnicas com engenheiros, embora se mantivesse a omissão legal das respectivas funções, o que levou a que os engenheiros tivessem uma função fundamental nos hospitais - serem os culpados. Como não estão definidas as funções, não podem argumentar que qualquer problema não é com eles, desde a avaria de um equipamento até ao facto de a sopa estar fria... Logo, são os culpados!

Para além das funções de gestão da manutenção e exploração das instalações e dos equipamentos, cabem ainda ao engenheiro, sempre informalmente, funções de colaboração na escolha e aquisição de equipamentos, processos relacionados com obras, questões ambientais, etc....

Espero ter levantado um pouco o véu sob o qual estes funcionários têm vivido, numa profissão sem dúvida aliciante e exigente - estão a suportar vidas - , embora muitas vezes incompreendida, e deixo uma homenagem a todos esses meus colegas, esperando que tenha contribuído para o seu reconhecimento a nível dos restantes cidadãos.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Avaliações

O tema avaliações está indubitavelmente na moda. No entanto, parece-me que lhe dão um significado parcial e, a meu ver, menor.

A meu ver, avaliação é aquele acto através do qual analisamos a nossa actuação, ou a de outros, no sentido de determinarmos o que está bem, o que está menos bem e o que está errado, com vista a emendar o que esteja mal e menos bem para melhorar a actuação. Passada esta fase, a avaliação também pode servir para distribuir os avaliados numa tabela de mérito.

Este acto é tão importante para o desempenho profissional, que os cursos de enfermagem têm uma disciplina chamada "Prática Reflexiva", que trata de uma auto-avaliação contínua dos profissionais em todas as suas actuações.

Temos, portanto, que a auto-avaliação é um exercício próprio dos profissionais competentes.

Parece-me que o governo esqueceu o aspecto de valorização profissional da avaliação, para lhe dar só o aspecto de pontuar os avaliados para acções de promoção ou castigo. Trata-se de trocar um valor de ética profissional pela concorrência, sem dúvida mais actual. É como no futebol: não interessa se a equipa joga bem ou não; interessa é passar a eliminatória.

As televisões mostraram o porta-voz do P.S., dr. Vitalino Canas, perguntado se na reunião do partido tinham analisado o que tinha corrido mal nos 3 anos de governo, afirmar em jeito de quem nunca se engana e raramente tem dúvidas: - "Quando se fazem balanços é, certamente, para realçar aquilo que se fez bem. E, foram tantas as coisas que fizemos bem, que não temos de perder tempo com o que fizermos mal"!

Já tinhamos concluído que a auto-avaliação é um exercício próprio dos profissionais competentes.....

quinta-feira, 6 de março de 2008

Associações de ideias

A senhora Ministra da Educação acaba de afirmar, em entrevista à RTP 1, que os professores não têm grande razão de queixa no caso das avaliações, pois basta terem BOM para progredirem na carreira, ao contrário dos restantes funcionários que, se tiverem BOM, nunca mais progridem e, os que tenham classificação superior a BOM, só progridem se houver verba.
A afirmação foi da senhora ministra, não foi da Ana Avoila. Ela lá saberá os meandros destas coisas!

A propósito de avaliações, foi hoje noticiado que um funcionário (desculpem, agora diz-se "trabalhadores do emprego público" - Lei 12-A/2008, de 27 de Fevereiro) que tenha duas classificações negativas será sujeito a uma acção de formação e, se não tiver aproveitamento, será objecto de inquérito e processo disciplinar tendente ao despedimento.
Lembrou-me o que se passou em Moçambique logo após a independência: quem não alinhasse activamente com os novos governantes, ia para um campo de reabilitação (trabalhos forçados). Se após o tratamento continuasse a não alinhar, era fuzilado.
Afinal os trabalhadores do emprego público não se podem queixar muito. Ainda não se fala em fuzilamentos!

Também foi hoje noticiado que passa a constituir falta grave o facto de um trabalhador não denunciar erros de um colega, o que poderá levar à situação do parágrafo anterior.
Lá me veio à ideia aquela cena dos colaboracionistas durante a guerra 39-45. Até o pai denunciavam!
Foi aí que percebi porque é que os dirigentes dos hospitais que passaram a S.A./E.P.E. começaram a tratar os funcionários por "colaboradores". Já deviam saber desta proposta!

A nossa cabeça faz cada associação!!!!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Upgrades à portuguesa

Significando "upgrade" melhoramento ou subida de categoria, quero falar de alguns destes actos que testemunhei e de outros que faço votos não venha a testemunhar.

Na década de 1950 os comboios ainda tinham 3 classes - 1.ª, 2.ª e 3.ª - indicadas nas carruagens por 1, 2, 3 ou I, II, III (a chamada primeira entre parêntesis). A 1.ª classe tinha bastante conforto, com estofos macios e instalações sanitárias. A 2.ª tinha estofos mais duros, como os comboios urbanos actuais, e também instalações sanitárias, enquanto a 3.ª tinha bancos de madeira e, na maioria dos casos, não tinha instalações sanitárias.

Como apontamento sociológico, esta divisão dirigia-se às três grandes divisões da sociedade - classe alta, média e baixa - a ponto de, enquanto militares, os oficiais só poderem andar em 1.ª classe, os sargentos em 2.ª e as praças em 3.ª.

Nos anos 60, considerou-se que esta estrutura era digna de países primitivos e decidiu-se actualizar o país, acabando com a 3.ª classe. Claro que, com a nossa proverbial argúcia empresarial, não se atiraram as velhas carruagens para a sucata. Pintou-se um 2 ou apagou-se um I, onde estava um 3 ou um III, fazendo-se assim uma considerável melhoria (upgrade) na qualidade dos comboios e na vida dos portugueses.

Anos mais tarde, foi a febre da promoção de aldeias a vilas e de vilas a cidades. Em dezenas de casos, passou-se como nos comboios. Muitas dessas terras têm as mesmas condições - e cada vez menos - que anteriormente, mas somos um país tão desenvolvido, que quase não tem aldeias.

Agora, fala-se na "promoção" das pensões e motéis a hotéis. Claro que "pensão", é de país atrasado. E depois é de difícil tradução para os turistas. A designação é muito diferente da inglesa. Simplifica-se, e melhoram-se as condições (?) com o nome de "hotel".

O que temo é que se esteja a passar um processo semelhante com o ensino.

É que, o banco ser de madeira, a terra mudar de nome só porque se chamava Vila ou a chafarica chamar-se hotel, só é anedótico. Aldrabar no ensino é trágico para o futuro de todos nós.....

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O carnaval do Porto

Não achando graça nenhuma aos arremedos foleiros do carnaval brasileiro que vai sendo prática realizar em Portugal, vi anunciado um carnaval "à moda antiga" no Porto, e lá fui eu.

Comecei por almoçar na incortornável Travessa dos Congregados, onde tive a recordação duma tradição da casa dos meus pais, de que já não me lembrava: no carnaval come-se orelheira fumada com feijão branco. Claro que não resisti, nem às papas de sarrabulho (qualquer dia, lembram-se que ofendem as directivas da CE), rematando com um pudim francês bastante parecido com o que a minha mãe fazia.

Cumprida a primeira parte da tradição, lá fomos para a festa na Avenida. Uma peça de teatro, com actores e humor do Porto, talvez na linha da velha "Voz dos Ridículos". Um texto que o Gil Vicente não desdenharia de assinar! Actores com um desempenho que se via que era por gosto e não por "frete profissional". Gente bem disposta e que transmitia alegria à imensa plateia.

Demonstrou-se que um acto cultural não tem de ser chato nem elitista e que, para ser do agrado popular, não é necessário ser ordinário nem populista.

Parabéns aos autores, aos actores e aos organizadores!

Se para o ano houver mais, lá estarei...

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Jornalismo de investigação

Um jornal que se considerava sério e de referência publicou ontem uma notícia que o coloca ao nível dos mais notáveis pasquins tabloides a nível mundial: a história dos projectos do eng.º Sócrates, há 25 anos.

Devo dizer que tenho pelo eng.º Sócrates a mesma consideração que ele teve por mim, na qualidade de funcionário e reformado: enganado, desprezado e altamente prejudicado. Só que fico com dores no fígado em presença da nacional-mesquinhice-cusquice.

O escrevente pode atacar o homem como político e, certamente, terá muito por onde....

Já que pretendem fazer jornalismo de investigação, podem começar por investigar as denúncias do sr. bastonário da Ordem dos Advogados e mais umas dicas que lhes deixo aqui.

Há um político que se diz ter fanado uma galinha, quando vivia numa república em Coimbra. Outro, que também estudou em Coimbra, apanhou uma homérica bebedeira no cortejo da queima das fitas. Outro ainda, este de Porto, andou "de gunas" no eléctrico, quando andava no liceu. Diz-se ainda que o Presidente não pagou um café que tomou, há 40 anos, em Portimão.
Para finalizar, uma "caixa" que pode valer o prémio Pulitzer: consta que o Papa se masturbou quando tinha 13 anos...

Boas investigações e... tenham vergonha!

sábado, 26 de janeiro de 2008

A montante de Alijó

Antes de mais, quero esclarecer que a última vez que estive em Alijó, foi com o meu pai, há mais de 50 anos. Não tenho, portanto, qualquer interesse pessoal no que vou dizer.

Qualquer português que tenha ouvido as gravações, passadas na comunicação social, da conversa entre o call center do CODU do INEM e o telefonista dos bombeiros de Alijó, ficou estarrecido. Os habitantes das grandes cidades e desconhecedores do que se passa no restante país, certamente duvidaram estar-se a falar do Darfur ou dos confins do Afeganistão. Os que conhecem a triste realidade, só constataram que tudo continua como sempre...

A triste realidade é que, na maior parte do território nacional, a protecção civil e assistência pré-hospitalar estão entregues a voluntários, de inequívoca boa vontade, mas sem meios para resposta atempada e eficaz. Principalmente nos meses de verão pode ver-se a revoltante imagem dos bombeiros a fazerem barragem nas estradas aos carros, para pedirem uma "esmola" para comprar umas mangueiritas, pois as que têm estão podres, ou para substituir o UNIMOG oferecido pelo Estado, que já fez a guerra de África e foi oferecido aos bombeiros em vez de ser abatido. Andam aí muitos!

O Estado, que deveria cobrir as necessidades de protecção das populações, descansa nas boas vontades e altruísmo dos voluntários, que dão o físico, e não lhes dá os meios mínimos para actuarem. Uma vergonha!

Claro que os bombeiros de Alijó, como os outros voluntários, não têm possibilidades de manter uma equipa nocturna de resposta imediata. Os voluntários trabalham durante o dia e necessitam naturalmente da noite para descansar. Para ter uma equipa nocturna, teriam de lhes pagar, como é natural. Quem dá o dinheiro?

O voluntariado faz parte das nossas tradições e é um forte contributo para a coesão e sentido de identidade locais, mas deverá ser complementar de um sistema profissional de protecção das populações, obviamente pago pelo Estado. O sistema de Protecção Civil (chamem-lhe o que quiserem) deve ser uma força de segurança como qualquer outra e integrado em rede com todas as outras. Não estou a inventar nada. Em Macau, administração portuguesa, era assim.

Claro que a situação não é nova e escusam as carpideiras políticas do costume de vir chorar. Todos têm culpas!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Agradecimento

Foi hoje publicado o decreto-lei que estabelece os aumentos de vencimentos dos funcionários públicos no activo e das pensões dos reformados da C.G.A.

Vi que, como reformado, sou aumentado 1.65% enquanto os meus colegas do activo são aumentados 2.1%.

A princípio estranhei, mas, depois de pensar melhor, vi que o sr. primeiro-ministro me estava a dar uma oportunidade de fazer o BEM, contribuindo assim para o aumento dos meus créditos nas contas finais com o Criador.

Digo fazer o BEM, porque certamente a diferença entre o meu aumento de reforma e os fabulosos 2.1% dos meus colegas do activo, servirão para compensar a falta de contribuições daqueles pobres nomeados para as administrações de certas empresas públicas onde, por estatuto, entram logo a contar com 15 a 25 anos de descontos.
Também devo estar a contribuir para os vencimentos daqueles desgraçados que não sabem nem nunca fizeram a ponta dum corno, se filiaram num partido e são nomeados para altos cargos, onde exercem o que sempre fizeram.
Pode ainda dar-se o caso de estar a contribuir para a atribuição de um carrito de alta gama a algum nomeado que, devido ao baixíssimo vencimento, não pode andar no carro dele.

Por me ajudar a ter esta contribuição para a salvação da minha alma, muito obrigado sr. primeiro-ministro!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Parabéns sr. primeiro-ministro

Hoje foi um dia memorável para o sr. primeiro-ministro. Muito mais que o do "porreiro, pá!".

Tomou três atitudes absolutamente certas.

A primeira foi recuar naquela intenção idiota da divisão dos 9.8 € de aumento das reformas em 14 prestações. Fica sempre bem reconhecer os erros e emendá-los. Disse o sr. primeiro-ministro que se tratava de uma decisão do Conselho de Concertação Social. Como não me recordo de votar para a constituição de tal conselho, não me sinto minimamente representado por eles. Por mim, estão despedidos!

A segunda foi evitar-nos a chatice e a despesa de ir votar em mais um referendo.
Referendo para quê?
Qual a percentagem dos presumíveis votantes que sabe o que é o Tratado de Lisboa?
Da esmagadora maioria que não sabe, qual a percentagem dos que têm capacidade para perceber a linguagem hermética do tratado?
Claro que viriam logo os políticos dos dois lados (sim e não) tentar, em exercício de caciquismo, explicar o que se passa.
Qual a percentagem dos portugueses que ainda acredita nos políticos?
Teríamos assim que a grande maioria dos poucos que se dispusessem a ir votar não saberia muito bem o que estava a fazer.
Por outro lado, elegemos, e estamos a pagar, a mais de duas centenas de senhores políticos (os deputados) que têm obrigação de saber destas coisas (será que sabem?) e decidir em conformidade. Se é para sermos nós a decidir, escusam de lá estar...

A terceira atitude certa, foi, relativamente à nomeação para a administração de Caixa Geral de Depósitos, afirmar que o governo não faz nomeações por referência partidária, mas por mérito.
Não posso aplaudir mais.
Claro que, por coerência, o mesmo se estenderá às nomeações para dirigentes da Administração Pública, incluindo hospitais E.P.E.

Parabéns, sr. primeiro-ministro!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sacanice

Desta vez não vou falar do ministério da Estatística, desculpem, da Saúde. O sr. ministro fala tanto em estatísticas, que me fugiu a tecla para a verdade.

Desta vez, dentro do espírito didático deste blogue, quero explicar o significado da palavra "sacanice", que não sei se faz parte do vocabulário oficial.

Como para a compreensão de um conceito não há nada como um exemplo explicativo, cá vai.

O governo decidiu que, a partir do fim do ano passado, os aumentos dos pensionistas do regime geral passassem a ser efectuados em Janeiro, e não em Dezembro como era habitual. Até aqui, muito natural que se fizesse coincidir os novos valores com o início do ano. De resto, tenho a impressão que a anterior esolha de Dezembro teve algo a ver com demagogia, há uns anos atrás.

Como, no regime anterior, pagavam o mês de Dezembro e o subsídio de Natal já com o aumento, decidiram pagar os valores correspondentes, como era de justiça, já este ano. Certo, justo e digno de aplauso.

Hoje foi anunciado que o valor correspondente ao aumento do mês de Dezembro e subsídio de Natal iria ser pago em 14 prestações. Fiquei estupefacto, até porque se trataria de uns míseros 12 €, em média.

Veio um senhor à TV, com ar de inteligência sobredotada, explicar aos menos dotados que tinham tomada essa opção para que os pensionistas, recebendo esse substancial aumento em Janeiro, não estranhassem em Fevereiro a baixa de rendimento. Fiquei pasmado!

Depois, ainda disseram que, outra vantagem, era a de forçar poupanças por parte dos reformados. Fiquei revoltado!

Depois compreendi. Os reformados, recebendo aquele balúrdio, podiam perder a cabeça e comprar carros de alta gama, férias em paraisos tropicais e outras loucuras, caindo no temível sobreendividamento da classe média. Mesmo assim, com os 70 cêntimos que lhes vão dar mensalmente.... há por aí umas agências de viagens.....!

Perceberam em que consiste uma sacanice?

Já agora, a título de exercício, são capazes de descobrir que nome se deve chamar aos senhores que pensaram esta medida e não tiveram vergonha de a publicar?

Hipócrates e hipócritas

O governo francês veio hoje afirmar que nada teve a ver com o cancelamento do rali Dakar, imputando toda a responsabilidade à organização.

Segundo a comunicação social, o governo francês desaconselhou vivamente as viagens dos franceses através da Mauritânia, o que provocou que a companhia fornecedora dos combustíveis (francesa) cancelasse os abastecimentos e as companhias de seguros cancelassem os seguros da prova. Perante isto, como os carros não andam sem combustível e é impensável uma realização daquela dimensão sem seguros, a organização teve de cancelar o rali.

Claro que o governo francês não teve nada a ver com o assunto!

Foi ontem publicado um decreto-lei que pune as escolas que não dêem prioridade de matrícula a alunos com necessidades especiais.

Na semana passada foi noticiada a rescisão apressada dos contratos a professores que acompanhavam essas crianças há anos.

Suponho que o ministério seja o mesmo...

Estou a assistir ao "Prós e Contras" sobre as urgências.

Tudo isto me leva a crer que, do mesmo modo que os médicos fazem o juramento de Hipócrates, os políticos devem fazer o juramento de hipócritas.