sábado, 26 de janeiro de 2008

A montante de Alijó

Antes de mais, quero esclarecer que a última vez que estive em Alijó, foi com o meu pai, há mais de 50 anos. Não tenho, portanto, qualquer interesse pessoal no que vou dizer.

Qualquer português que tenha ouvido as gravações, passadas na comunicação social, da conversa entre o call center do CODU do INEM e o telefonista dos bombeiros de Alijó, ficou estarrecido. Os habitantes das grandes cidades e desconhecedores do que se passa no restante país, certamente duvidaram estar-se a falar do Darfur ou dos confins do Afeganistão. Os que conhecem a triste realidade, só constataram que tudo continua como sempre...

A triste realidade é que, na maior parte do território nacional, a protecção civil e assistência pré-hospitalar estão entregues a voluntários, de inequívoca boa vontade, mas sem meios para resposta atempada e eficaz. Principalmente nos meses de verão pode ver-se a revoltante imagem dos bombeiros a fazerem barragem nas estradas aos carros, para pedirem uma "esmola" para comprar umas mangueiritas, pois as que têm estão podres, ou para substituir o UNIMOG oferecido pelo Estado, que já fez a guerra de África e foi oferecido aos bombeiros em vez de ser abatido. Andam aí muitos!

O Estado, que deveria cobrir as necessidades de protecção das populações, descansa nas boas vontades e altruísmo dos voluntários, que dão o físico, e não lhes dá os meios mínimos para actuarem. Uma vergonha!

Claro que os bombeiros de Alijó, como os outros voluntários, não têm possibilidades de manter uma equipa nocturna de resposta imediata. Os voluntários trabalham durante o dia e necessitam naturalmente da noite para descansar. Para ter uma equipa nocturna, teriam de lhes pagar, como é natural. Quem dá o dinheiro?

O voluntariado faz parte das nossas tradições e é um forte contributo para a coesão e sentido de identidade locais, mas deverá ser complementar de um sistema profissional de protecção das populações, obviamente pago pelo Estado. O sistema de Protecção Civil (chamem-lhe o que quiserem) deve ser uma força de segurança como qualquer outra e integrado em rede com todas as outras. Não estou a inventar nada. Em Macau, administração portuguesa, era assim.

Claro que a situação não é nova e escusam as carpideiras políticas do costume de vir chorar. Todos têm culpas!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Agradecimento

Foi hoje publicado o decreto-lei que estabelece os aumentos de vencimentos dos funcionários públicos no activo e das pensões dos reformados da C.G.A.

Vi que, como reformado, sou aumentado 1.65% enquanto os meus colegas do activo são aumentados 2.1%.

A princípio estranhei, mas, depois de pensar melhor, vi que o sr. primeiro-ministro me estava a dar uma oportunidade de fazer o BEM, contribuindo assim para o aumento dos meus créditos nas contas finais com o Criador.

Digo fazer o BEM, porque certamente a diferença entre o meu aumento de reforma e os fabulosos 2.1% dos meus colegas do activo, servirão para compensar a falta de contribuições daqueles pobres nomeados para as administrações de certas empresas públicas onde, por estatuto, entram logo a contar com 15 a 25 anos de descontos.
Também devo estar a contribuir para os vencimentos daqueles desgraçados que não sabem nem nunca fizeram a ponta dum corno, se filiaram num partido e são nomeados para altos cargos, onde exercem o que sempre fizeram.
Pode ainda dar-se o caso de estar a contribuir para a atribuição de um carrito de alta gama a algum nomeado que, devido ao baixíssimo vencimento, não pode andar no carro dele.

Por me ajudar a ter esta contribuição para a salvação da minha alma, muito obrigado sr. primeiro-ministro!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Parabéns sr. primeiro-ministro

Hoje foi um dia memorável para o sr. primeiro-ministro. Muito mais que o do "porreiro, pá!".

Tomou três atitudes absolutamente certas.

A primeira foi recuar naquela intenção idiota da divisão dos 9.8 € de aumento das reformas em 14 prestações. Fica sempre bem reconhecer os erros e emendá-los. Disse o sr. primeiro-ministro que se tratava de uma decisão do Conselho de Concertação Social. Como não me recordo de votar para a constituição de tal conselho, não me sinto minimamente representado por eles. Por mim, estão despedidos!

A segunda foi evitar-nos a chatice e a despesa de ir votar em mais um referendo.
Referendo para quê?
Qual a percentagem dos presumíveis votantes que sabe o que é o Tratado de Lisboa?
Da esmagadora maioria que não sabe, qual a percentagem dos que têm capacidade para perceber a linguagem hermética do tratado?
Claro que viriam logo os políticos dos dois lados (sim e não) tentar, em exercício de caciquismo, explicar o que se passa.
Qual a percentagem dos portugueses que ainda acredita nos políticos?
Teríamos assim que a grande maioria dos poucos que se dispusessem a ir votar não saberia muito bem o que estava a fazer.
Por outro lado, elegemos, e estamos a pagar, a mais de duas centenas de senhores políticos (os deputados) que têm obrigação de saber destas coisas (será que sabem?) e decidir em conformidade. Se é para sermos nós a decidir, escusam de lá estar...

A terceira atitude certa, foi, relativamente à nomeação para a administração de Caixa Geral de Depósitos, afirmar que o governo não faz nomeações por referência partidária, mas por mérito.
Não posso aplaudir mais.
Claro que, por coerência, o mesmo se estenderá às nomeações para dirigentes da Administração Pública, incluindo hospitais E.P.E.

Parabéns, sr. primeiro-ministro!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sacanice

Desta vez não vou falar do ministério da Estatística, desculpem, da Saúde. O sr. ministro fala tanto em estatísticas, que me fugiu a tecla para a verdade.

Desta vez, dentro do espírito didático deste blogue, quero explicar o significado da palavra "sacanice", que não sei se faz parte do vocabulário oficial.

Como para a compreensão de um conceito não há nada como um exemplo explicativo, cá vai.

O governo decidiu que, a partir do fim do ano passado, os aumentos dos pensionistas do regime geral passassem a ser efectuados em Janeiro, e não em Dezembro como era habitual. Até aqui, muito natural que se fizesse coincidir os novos valores com o início do ano. De resto, tenho a impressão que a anterior esolha de Dezembro teve algo a ver com demagogia, há uns anos atrás.

Como, no regime anterior, pagavam o mês de Dezembro e o subsídio de Natal já com o aumento, decidiram pagar os valores correspondentes, como era de justiça, já este ano. Certo, justo e digno de aplauso.

Hoje foi anunciado que o valor correspondente ao aumento do mês de Dezembro e subsídio de Natal iria ser pago em 14 prestações. Fiquei estupefacto, até porque se trataria de uns míseros 12 €, em média.

Veio um senhor à TV, com ar de inteligência sobredotada, explicar aos menos dotados que tinham tomada essa opção para que os pensionistas, recebendo esse substancial aumento em Janeiro, não estranhassem em Fevereiro a baixa de rendimento. Fiquei pasmado!

Depois, ainda disseram que, outra vantagem, era a de forçar poupanças por parte dos reformados. Fiquei revoltado!

Depois compreendi. Os reformados, recebendo aquele balúrdio, podiam perder a cabeça e comprar carros de alta gama, férias em paraisos tropicais e outras loucuras, caindo no temível sobreendividamento da classe média. Mesmo assim, com os 70 cêntimos que lhes vão dar mensalmente.... há por aí umas agências de viagens.....!

Perceberam em que consiste uma sacanice?

Já agora, a título de exercício, são capazes de descobrir que nome se deve chamar aos senhores que pensaram esta medida e não tiveram vergonha de a publicar?

Hipócrates e hipócritas

O governo francês veio hoje afirmar que nada teve a ver com o cancelamento do rali Dakar, imputando toda a responsabilidade à organização.

Segundo a comunicação social, o governo francês desaconselhou vivamente as viagens dos franceses através da Mauritânia, o que provocou que a companhia fornecedora dos combustíveis (francesa) cancelasse os abastecimentos e as companhias de seguros cancelassem os seguros da prova. Perante isto, como os carros não andam sem combustível e é impensável uma realização daquela dimensão sem seguros, a organização teve de cancelar o rali.

Claro que o governo francês não teve nada a ver com o assunto!

Foi ontem publicado um decreto-lei que pune as escolas que não dêem prioridade de matrícula a alunos com necessidades especiais.

Na semana passada foi noticiada a rescisão apressada dos contratos a professores que acompanhavam essas crianças há anos.

Suponho que o ministério seja o mesmo...

Estou a assistir ao "Prós e Contras" sobre as urgências.

Tudo isto me leva a crer que, do mesmo modo que os médicos fazem o juramento de Hipócrates, os políticos devem fazer o juramento de hipócritas.