terça-feira, 10 de julho de 2007

Da Figueira ao TGV

Li a notícia da promessa de ligação por caminho de ferro do porto da Figueira da Foz à rede nacional, através da linha da Beira Alta (Pampilhosa).
Felizmente que alguém pensou para a frente em termos de transportes e deu utilização à via que já existe no porto da Figueira há cerca de 5 anos e nunca foi utilizada.
Digo pensar para a frente, porque, em Portugal, falar em transporte ferroviário de cargas é pensar muito à frente, quase uma heresia. Nos países desenvolvidos, já se concluiu que é a melhor solução há mais de 50 anos...
O caminho de ferro nasceu em inglaterra, nos finais do século XVIII, para transporte das cargas das minas e desenvolveu-se sempre na perspectiva do transporte de cargas. O comboio de passageiros é um aproveitamento posterior e pouco rentável se separado das cargas.
Nos Estados Unidos, onde há várias companhias ferroviárias, só uma, a estatal Amtrak, faz transporte de passageiros. As outras, só cargas. Um economista americano do sec. XIX dizia mesmo que "um comboio de passageiros é uma nódoa na paisagem".
De facto, o transporte ferroviário é o mais económico e, numa época em que se faz questão das economias energéticas e de poluição, é o energéticamente mais eficiente, permitindo tirar das estradas milhares de camiões, nomeadamente com o sistema "roll-on; roll-off", em que a galera de um camião TIR é carregada no comboio na origem e descarregada num destino intermédio por um tractor, que a leva ao destinatário final.
Vamos pois ter o porto da Figueira ligado à Europa por caminho de ferro. É uma perspectiva de desenvolvimento do porto e da cidade.
O problema é que a "Europa" de que falei termina actualmente na fronteira entre a Espanha e a França. As bitolas das vias (distancia entre carris) não são compatíveis e, assim, um vagão não pode passar a fronteira sem mudar de rodados, o que não é prático.
É que, aquando da construção dos caminhos de ferro ibéricos, no sec. XIX, ainda estavam frescos os horrores das invasões francesas e fez-se uma linha não compatível para impedir uma nova invasão com o meio de transporte mais moderno da época - o comboio.
Para utilizarmos os benefícios da carga ferroviária em termos europeus, temos pois que construir nova via férrea compatível com as restantes da Europa e, a construir, não vamos construir uma via para o passado, mas para o futuro - os comboios muito rápidos. O TGV.
É esta a justificação que encontro, e defendo, para a construção do TGV. Claro que defender o TGV de passageiros para permitir a um senhor gastar menos meia hora de Lisboa ao Porto é um disparate como justificar a construção de uma auto-estrada para uns senhores "esticarem" o Ferrari.
Defendo, sim, a construção de uma linha TGV (não confundir com comboio de passageiros), que permita a nossa ligação à Europa em termos de transportes ferroviários de carga muito rápidos, que compitam com vantagens com a camionagem, podendo a linha ser também utilizada por outros comboios de várias gamas de velocidade.
De outro modo, ficaremos sempre emparedados em termos de desenvolvimento.