domingo, 29 de julho de 2007

A tasca de Osaka

Estas coisas das memórias são como as cerejas; encadeiam-se umas nas outras.

A propósito do prestígio dos portugueses no Oriente, veio-me agora à memória de um episódio muito significativo numa tasca de Osaka, Japão.

Em 1993, o Grupo de Danças e Cantares do Clube de Macau, que já referi, foi convidado a deslocar-se ao Japão e Coreia para participar, com o presidente Mário Soares, nas comemorações dos 450 anos de relações de Portugal com aqueles povos.

Integrado no grupo ia um dos portugueses que, sem dúvida, muito contribuiram para o prestígio de Porugal e dos portugueses no mundo, embora nunca estivesse em qualquer ribalta e fosse o mais discreto possível - o meu saudoso Amigo Leonardo. Foi um jurista de grande qualidade em Portugal, Angola e Macau, tendo sido um dos seus últimos trabalhos a reunião o organização de toda a legislação publicada em Macau, com vista à eleboração da base de dados jurídica LEGISMAC. Era ainda um virtuoso tocador de bandolim e lídimo representante do espírito tradicional da Academia de Coimbra.

Enfim, daqueles que, no lugar do personagem do Eça, poderiam intitular-se "português d'aquém e d'além-mar". Um Homem com valor máximo e arrogância nula, como imagino o representante do meu povo.

Sendo cerca da seis e meia da tarde, em Osaka, alguns de nós, mais amantes de conhecermos as terras pelo convívio real com os habitantes e não pelos rótulos do turismo, resolvemos ir tentar comer qualquer coisa a uma tasca vulgar. Estava cheia! Muita gente com ar eufórico, indício de não estarem propriamente a beber refrescos.

Acercámo-nos do balcão e logo alguém de uma mesa próxima quis saber a nossa nacionalidade.

Somos portugueses.

Logo se gerou em toda a tasca um borborinho danado, cada um querendo mostrar-se mais hospitaleiro que o vizinho. Sabiam que os portugueses eram um povo extraordinário, que tinha iniciado as relações do Japão com o resto do mundo em 1543 e que muito tinha contribuído para a construção do Japão moderno. Tivemos de comer e beber com eles e saímos de lá já bastante "quentes " do saké, mas com o "ego" do tamanho do universo.

Então nós, que só íamos beber uns copos e comer uma bucha, saíamos dali armados em deuses, sem saber muito bem porquê!

Analisando isto a frio, não se tratou daqueles discursos inflamados, muito preparados, dos meios diplomáticos. Era mesmo o "Zé-povo", com a sua autenticidade, a homenagear, em nós, 450 anos de história comum. Somos mesmo um grande povo!

1 comentário:

Rogério Matos disse...

Caro amigo
Vá-se lá saber porquê, os genes também se orgulham. E os meus, depois deste post, estão aos saltos. Confesso pois esta fraqueza (?), de ter visto o nome do meu pai, recordado com tanta veemência, carinho e justiça (eu acho). De facto, eu aprendi a ver o Leonardo como uma pessoa que não se punha em bicos de pés, mas simplesmente estava em PÉ. Sempre!
Um grande abraço,