Nos últimos dias fomos surpreendidos com a notícia de 24 suicídios de trabalhadores da France Telecom em somente 18 meses. Também ouvimos testemunhos de trabalhadores a descreverem as incríveis medidas de "restruturação" da empresa, incluindo da boca do próprio gestor (?) de recursos humanos. Os trabalhadores mudam periodicamente de funções e de local de trabalho (dezenas ou centenas de quilómetros de distância), com aviso na véspera. Quem não aceitar é despedido!
O tal gestor (?) classifica os trabalhadores de malandragem que o que quer é boa vida.
Tenho a impressão de que já ouvi esta ladainha em qualquer lado...!
Como houve bronca na comunicação social, o tal senhor foi afastado das funções de gestor dos recursos humanos, mas não foi afastado do conselho de administração, o que demonstra que só cumpria a política da empresa.
Também por cá há casos semelhantes de insuportavel pressão sobre os trabalhadores que, se não se suicidam, morrem de enfartes e exaustão nas próprias instalações das empresas, esquecem compromissos familiares, andam horas à procura do carro estacionado... Infelizmente não são tão poucos casos como possa parecer!
Ora há quem chame a isto boa gestão em resposta às exigências de competitividade, necessidades de relançamento da economia, bla, bla, etc., etc..., utilizando a instabilidade do emprego como forma de pressão sobre os trabalhadores. Os negreiros usavam o chicote, mas esses eram umas bestas...
Eu chamo-lhe grossa asneira e passo a demonstrar, em face do que aprendi há 40 anos no Instituto Industrial do Porto, antecessor do ISEP, e da minha experiência profissional.
Estudava-se nessa época a disciplina de Organização Industrial, tendo como livro-base a "Introdução ao Estudo do Trabalho", da OIT.
Ensinava essse livro que, para uma empresa funcionar bem e ter boa produtividade, os trabalhadores deviam exercer as suas funções nas melhores condições ambientais possíveis, boa iluminação, cores agradáveis, posto de trabalho o mais cómodo possível em termos ergonómicos, se possível música ambiente, etc.
Para minorar a pressão da vida familiar, nos tempos do governo do prof. Marcelo Caetano, as grandes empresas (do chamado grupo A) eram obrigadas a ter creche para os filhos dos trabalhadores, cantinas e outros serviços sociais (o Estado não tinha...). As grandes plantações de chá de Moçambique, chegavam a ter escola, capela e pequeno hospital.
Qualquer pessoa que alguma vez tenha trabalhado sabe que, se o trabalho é executado nessas condições, pode até tornar-se num prazer e, não havendo fadiga, aumenta-se facilmente a produtividade. Não me parece necessário um MBA para saber isto...
Parece-me que com as teorias agora tão em voga, dizem que derivadas da globalização (tem as costas largas!), estamos em franco retrocesso social, só faltando que os negreiros voltem a usar o chicote.
Há que reagir, pois a culpa tanto é de quem executa essas políticas como de quem deixa - todos nós!
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