quinta-feira, 11 de junho de 2009

Orgulho e vergonha

Alguém na RTP teve a feliz ideia de apresentar um programa - As 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo - que nos mostrou património edificado e classificado pela UNESCO, de cuja existência certamente 99% dos portugueses nem desconfiava, mas também o sentimento das populações locais relativamente à memória dos portugueses.

Da minha experiência, a maioria dessa gente desconhece totalmente que haja um país chamado Portugal, salvo os que se interessam pelo futebol, mas para todos há uma profunda memória dos Portugueses como povo, às vezes mítico. É assim, nomeadamente no Oriente.

Claro que a constatação desta memória positiva nos deve encher de orgulho. Afinal, desfeito materialmente o império, parece que restou qualquer coisa de muito mais válida que o ouro do Brasil ou o comércio da Índia. Os nossos antepassados deixaram uma aura de respeito, admiração e amizade nos mais distantes lugares da Terra. Resta-nos ser dignos da herança!

Aqui é que começa a vergonha... Ouvimos as queixas das gentes de Diu, de Goa, de Malaca, e eu ouvi os de Singapura, fartos de implorar aos governos portugueses, um livro, uma cassete de música (fui testemunha!), uma simples resposta a uma carta e... nada!

Para os incompetentes e ignorantes que nos têm governado, como dali não chegam subsídios nem negociatas imediatos, não é coisa que mereça resposta.

Se algumas respostas houve foram de alguns padres, como o padre Manuel Teixeira, transmontano, o padre Lancelote Rodrigues, malaqueiro, ou D. Domingos Lam, bispo de Macau, chinês, e do último governador de Macau, general Rocha Vieira, que apoiaram dentro das suas possibilidades alguns grupos de descendentes dos portugueses de há 300 anos, nomeadamente em Malaca e Singapura.

Nesses grupos, como o Eurasian Association de Singapura, ainda hoje os mais velhos ensinam semanalmente aos mais novos o Português que sabem - Papiar Kristang - mistura do português de há 300 anos com o malaio, mantêm uma gastronomia de origem portuguesa, cantam as músicas portuguesas de que se lembram e mantêm orgulhosamente nas paredes da associação quadros com as árvores genealógicas das principais famílias, com o português na base. Dizem-se portugueses como afirmação social.

Esta gente, que não é propriamente pedinte, mas influente na economia e no meio social, por exemplo, de Singapura, podia ser muito útil à nossa economia se os nossos governantes tivessem olhos para ver. Bem sei que não jogam futebol, mas são gente que muito poderia ajudar os "parentes", se eles tivessem a amabilidade de lhes dar a mínima atenção.

Talvez porque haja afinal algum governante com vergonha na cara, vi declarações da presidente do Instituto Camões (mas porque é que um organismo eminentemente cultural tem de estar no Ministério dos Negócios Estrangeiros?!), dr.ª Simonetta Luz Afonso, no sentido da criação de um leitor itinerante para apoio a essas comunidades.

A missão não podia estar melhor entregue. A dr.ª Simonetta é profunda conhecedora da situação da herança portuguesa no Oriente e certamente envidará todos os esforços para "limpar" a imagem de Portugal e dos portugueses e colaborar com tão generosas gentes, desde que lhe sejam facultados meios, claro.

É que já houve uma embaixadora, hoje deputada europeia, que fechou a embaixada por não lhe darem verbas para o simples telefone. Esteve meses a pagar do bolso dela!

Espero que sejam dados todos os meios a essa missão e que afastem dela os diplomatas. É que cada um deve fazer o que sabe e o resultado da intervenção diplomática está à vista...

5 comentários:

Nuno Guimas disse...

Mas se nem da nossa herança "de cá" nós sabemos cuidar...

Guimaraes disse...

Tens razão.
Há cerca de 50 anos testemunhei na igreja de S. Francisco, no Porto, um valioso e muito antigo quadro a óleo ser danificado pela chuva porque havia um vidrito pequeno partido na janela e não aparecia verba para o substituir. A valores de hoje, o custo não iria para lá dos 5 €!

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

Pobreza total...

UMNB disse...

Uma curiosa teima essa dos políticos que, cada vez mais, dão as costas a tudo aquilo que não lhes repercute benefício econômico. Estão muito confortáveis com os seus cus quentes nessas grandes cadeiras de couro.
Só nos resta ir fazendo o que eles deveriam, em nossa representação. E depois, ir pensando em mudar as escolhas políticas, se as atuais não são válidas.

Guimaraes disse...

De facto, nestas coisas o melhor é mesmo esquecer os políticos e cada um fazer a sua parte e o melhor que sabe.
Por exemplo, o site da Lusofonia no Facebook já fez mais numa semana que muitos governos em décadas. Vamos a isso!