terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Água privatizada

Em Junho passado a Câmara Municipal da cidade em que vivo entregou o fornecimento de água ao concelho, até aí feito pelos serviços municipais, a uma empresa privada, julgo que como todos os outros municípios do país.
Logo a empresa, dentro dos melhores procedimentos de boa imagem, enviou aos munícipes um bonito folheto com as usuais intenções de melhorias no serviço e transparência nas facturas, aproveitando para comunicar o novo tarifário com alguns "ajustamentos" (para cima, claro!) dos custos, tanto do m3 de água como das taxas de utilização de água e saneamento.
Ontem recebi outro amável folheto, em tudo igual ao anterior, excepto no valor do "ajustamento" para 2011. Vejamos o ajustamento.
- O m3 de água, para consumos até 5 m3/mês, ou seja, dos muito pequenos consumidores, supostamente os mais pobres, aumenta 29.6% (VINTE E NOVE VÍRGULA SEIS POR CENTO!), de 0,3226 para 0,417 €. Para o meu caso (entre 6 e 15 m3) aumenta 21,16%, enquanto que para os grandes consumidores (mais de 26 m3/mês) aumenta 6,58%.
- A taxa fixa de disponibilidade de água (o proibido aluguer do contador com outro nome), para os contadores mais pequenos, até 25 mm, aumenta 29%, de 2,69 para 3,47 €/mês, aumentando todos os outros 2,6%.
- A taxa fixa de saneamento aumenta 29,15% para todos.
Ora cá está um bom exemplo da aplicação prática das preocupações sociais com que nos bombardeiam todos os dias a "passar a mão pelo pelo". O aumento para os pequenos consumidores, que têm uma torneirita lá em casa, é muito maior que para os proprietários de grandes casas com rega de jardins, piscina, etc.
Bem sei que a empresa, altamente deficitária, teve de pagar chorudos prémios de boa gestão aos gestores nomeados pelo governo, mas haja um pouco de vergonha!
Ainda pensei aconselhá-los a ir roubar para a estrada, mas como sou pessoa de paz, não quero conflitos com os que já lá andam...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Em defesa do emprego

A comunicação social está nestes dias a passar a ideia de que se prepara a criação de um fundo (estatal?) para ajudar as empresas nas indemnizações por despedimentos individuais, com o argumento de que, sendo o despedimento menos gravoso para as empresas, se atrairiam investimentos, aumentando o emprego.
Ora cá está uma chico-espertice tão típica do nosso mundo empresarial, ou melhor, patronal.
Está-se mesmo a ver alguns a despedirem as pessoas com promessa de indemnização, embolsarem o subsídio do fundo e desaparecerem.
Para combate ao desemprego, proponho que se mantenham as indemnizações por despedimento, uma vez que o trabalhador não tem culpa das asneiras da gestão ou do governo nem das vigarices financeiras, fazendo-se o seguinte contrato com as empresas: a empresa teria uma dedução do total de impostos a pagar na percentagem da variação percentual do número de trabalhadores no ano em causa.
Por exemplo, uma empresa que tivesse 100 trabalhadores a 1 de Janeiro e 110 a 31 de Dezembro, teria uma dedução de 10% nos seus impostos referentes a esse ano. Se, por outro lado, a empresa passasse de 100 trabalhadores para 90, teria um agravamento de 10% nos impostos.
Não acham uma proposta justa e que defenderia o emprego?

Morreram mais dois...

Ontem foi-nos dada a notícia de terem morrido mais 2 trabalhadores soterrados numa vala onde estavam a trabalhar. Este ano já devem ser mais de uma dezena, sem que se saiba de consequências para os responsáveis.
Abrem-se as valas, não se entivam, que é uma perda de tempo, as terras deslocam-se e morrem enterrados vivos. Estas notícias são, infelizmente, recorrentes e continua a insistir-se nas mesmas asneiras.
Como em tudo que é segurança no trabalho andamos com "paninhos quentes" há uma data de tempo, contemporizando com empresários de vão-de-escada, que são a "carne de canhão" das grandes empresas, e com trabalhadores, ou ignorantes com fascínio dos super-heróis ou pressionados pelas precariedade e instabilidade laborais. Não há notícia de punições exemplares...
Talvez seja a "consciência" nacional que não deixa que haja essas punições. Não fomos todos criados na cultura dos heróis, que arriscavam a vida por qualquer ninharia? Não estão nessa cultura manifestações como os forcados, "street-racers" e quejandos?
Já há 40 anos vi pescadores japoneses, que não pegavam num martelo sem luvas. Por cá, ainda hoje, isso seria sinal de fraqueza e menor virilidade...
Se queremos acabar com o flagelo da sinistralidade evitável, seja ela doméstica, laboral ou rodoviária, temos de incutir nas nossas crianças, desde a creche, o sentimento de segurança e preservação da vida.
Como isso levará uns 15 anos a começar a ter resultados, para parar a matança há que ter desde já atitudes drásticas para com os prevaricadores, a única linguagem que os rudes conhecem.