domingo, 26 de agosto de 2007

Medievalices....

Por todo o lado estão e realizar-se festas medievais, desde as que são a cargo de profissionais, com muita qualidade e dimensão, àquelas produto de esforço de alunos de escolas e associações que, com muito estudo e dedicação, lá vão fazendo o que lhes parece mais próximo do que terá sido a vivência da sua terra na Idade Média.

Todas elas têm o seu mérito cultural e até turístico, mas devem ser vistas com a distância de um museu interactivo, sem nos deixarmos envolver por uma realidade virtual, que pode não ter retorno.

É que me parece que alguns políticos se deixaram influenciar demasiado pelo ambiente medieval, a ponto de quererem impor procedimentos que terão sido aceitáveis há 600 anos, mas hoje são perfeitamente inaceitáveis.

Foi o caso dos funcionários dos hospitais que passaram a S.A. em 2002, que alguns dos novos "patrões" afirmavam publicamente tratar-se de uma espécie a abater, tratados como servos da gleba, transaccionados com a instituição sem que ninguém se preocupasse com as suas legítimas aspirações e expectativas de carreiras e realização profissional. Ainda há poucos meses, num caso de conflito laboral, o Tribunal Administrativo não aceitou o caso por se tratar de uma empresa e o Tribunal do Trabalho também não aceitou por se tratar de funcionários do Estado. Ou seja, nem têm a dignidade de funcionários do Estado nem a dignidade de trabalhadores por conta de outrem. São simples "servos da gleba", que só merecem existir enquanto forem úteis ao "senhor".

Agora, um senhor que sempre se julgou dotado da infalibilidade papal, vem defender que o Estado não deve indemnizar aqueles a quem cause danos, em nome das sacrossantas finanças públicas.

Lembra os direitos feudais de vida e morte dos senhores sobre os servos e respectivos bens.

Só falta agora que apareça outro a reclamar o "direito de pernada"!

Acordem senhores!

Estamos no ano 2007, época em que as pessoas decentes indemnizam os aqueles a quem causam dano.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Ecologia e transparência

O concurso a que se refere a notícia http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/50ZnIIZQGv9oayIsf4D3RQ.html é um bom exemplo de saudável humor, isenção e transparência. Parece que não haverá grandes possibilidades de influenciar o árbitro - a vaca. Por outro lado, é muito ecológico.
Dirão que é uma grande porcaria, mas comparado com a história dos financiamentos partidários para adjudicação da A17, até me parece muito limpinho.

domingo, 19 de agosto de 2007

Energúmenos e milho trangénico

Antes de mais, quero esclarecer que sou adepto da agricultura biológica (o mais possível), da ecologia, da gastronomia tradicional e que fico mal disposto só de passar à porta do McDonald (salvo seja!).

Ontem um grupo de cerca de uma centena de energúmenos, auto-intitulados de ecologistas, destruiu um campo de milho trangénico devidamente licenciado.

Uma patrulha da GNR (2 elementos?) assistiu aos acontecimentos sem intervir, afirmando-se que identificou alguns, portugueses, não tendo identificado a maioria por serem estrangeiros sem identificação.

Eu compreendo que poucos elementos da GNR de uma aldeola não tenham meios para fazer frente a uma centena de energúmenos profissionais, mas o Comando geral tem obrigação de dar uma explicação minimamente inteligente. Se eu estiver num bar à noite e entrar uma rusga da GNR, se não tiver identificação fico detido até que ela apareça. Parece que ser português em Portugal é um handicap.

Também se diz no comunicado do Governo que foram cumpridos todos os trâmites legais para possibilitar uma acção criminal posterior e que, tratando-se de um crime semi-público, a GNR só poderia intervir após queixa formal da vítima. Isto é, se alguém me agredir em frente a um agente da autoridade, ele só pode intervir após queixa formal minha.

De minha parte, depois de morto podem meter os polícias onde melhor lhes aprouver!

Confirma-se o que se disse no meu último post: a legislação não pretende evitar os crimes, mas puni-los (se os advogados deixarem!).

Os organizadores da destruição, armando-se em heróis defensores da nossa saúde e bem-estar, não passam de um bando de cobardolas com actuações comuns aos nazis, Ku Klux Klan, Talibans e outros que pretendem impôr ao mundo a "sua" verdade.

Se não concordam com a autorização de plantação do milho trangénico (eu também tenho dúvidas!) e querem destruir alguma coisa, vão destruir quem autorizou - o Ministério da Agricultura. Mas aí são capazes de enfrentar polícias de intervenção, GOE, etc. e, para isso, falta-lhes um produto agrícola fundamental: TOMATES!

Já agora, só uma dúvida. Não se tratará de uma "guerra" de vendedores de sementes de milho trangénico?

É que, de esquerdistas de BMW estou farto!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Segurança faz-de-conta

A leitura das notícias http://jn.sapo.pt/2007/08/15/porto/morte_menina_realca_lacunas.html e http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=50516 levam-me a pensar que a legislação portuguesa, que se diz defender a segurança, assegura sim que seja fácil assacar responsabilidades a alguém por qualquer acidente, a quem se aplicam as respectivas sanções.
Para mim, segurança, seja "safety" ou "security", implica principalmente evitar as ocorrências, muito mais que as punir. A punição só terá efeito dissuasor, mas não evitará, de facto, as ocorrências.
A primeira notícia refere-se à ocorrência infeliz da morte de uma criança electrocutada numa pista de carrinhos de choque. Não interessa discutir agora as causas da electrocussão, nem para tal tenho elementos. O que quero pôr em causa é a ligeireza do licenciamento e a falta de fiscalização.
O decreto-lei 309/2002, que regula o assunto, é tão vago e impreciso que mais parece um esboço de projecto de decreto-lei. Diz que os equipamentos devem ser objecto de uma inspecção por uma entidade certificada, que não diz qual é, acreditando-se depois num termo de responsabilidade do proprietário.
Como ficou demonstrado pelos factos, no meio de toda esta indefinição, ninguém tecnicamente responsável vistoria os equipamentos, isto é, embora em teoria se pretenda assegurar a segurança do funcionamento, na prática nada se faz para impedir acidentes.
Quanto às coimas, já a legislação é cuidadosa e precisa.
A segunda notícia refere-se a uma coisa que considero extraordinária: toda a gente sabe que tanto o alcool como as substâncias psicotrópicas são perigosas no acto da condução. A legislação diz, e muito bem, que um condutor apanhado com excesso de alcoolémia seja impedido de conduzir durante um período de segurança. Só não consigo perceber porque é que um condutor apanhado com substâncias psicotrópicas não é impedido de continuar a conduzir, aguardando-se 30 dias por decisão judicial, que será de prisão se foram postos em perigo os restantes utentes da via pública.
Ou há perigo na condução sob efeito de psicotrópicos e o condutor deve ser impedido de prosseguir, ou não há perigo e a aquisição de todos aqueles equipamentos foi um desperdício inútil de dinheiro.
Em qualquer dos casos que citei, parece-me que não há grande preocupação com a segurança (evitar ocorrências desagradáveis), havendo sim com as punições.
Este conceito de segurança não coincide com o meu.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Lição de ecologia

Fui passar o fim de semana a um terreno (não sei se tecnicamente é uma quinta) que um familiar comprou no concelho de Póvoa de Lanhoso, um pouco a Sul da barragem da Caniçada. Talvez já seja serra do Gerês.

O terreno tinha as ruinas de uma velha casa (4 paredes de granito ao alto) encaixada num recanto de um grande afloramento granítico redondo, com cerca de 20 m de diâmetro, no meio de uma floresta de pinheiros, eucaliptos e carvalhos.

Pode imaginar-se, há vários séculos, um abrigo de pastores feito com uns paus ao alto cobertos a colmo, que depois evoluiu para uma pequena casa de granito rústico, com dois pisos de pouco mais de 20 m2 cada um, o superior para as pessoas e o inferior para os gados (possivelmente caprinos e ovinos).

O meu familiar reconstruiu essa casa, mantendo todo o rústico existente, e alargando a construção, mas sem ferir a pedra existente. Resultou uma casa com algumas paredes interiores em granito rústico à vista, aproveitando até o rochedo existente, salas com uma rocha a sair de um canto, etc.. O telhado assente em vigas de madeira integra-se perfeitamente no ambiente.

Fora, num pequeno aterro suportado por muro de pedra rústica, construiu uma piscina com todos os necessários.

Na base da grande pedra há o espaço para a horta.

Quando ali estamos, sentimos estar realmente na natureza, já que a casa pouco sobressai daquela serrania majestosa.

Poderá dizer-se que não há aqui nada de notável. Eu acho que há.

Em face dos atentados paisagísticos e ecológicos a que assistimos todos os dias, temos aqui um exemplo de como se pode fazer uma coisa com qualidade sem ferir a paisagem, continuando simplesmente o que outros tinham feito no mesmo local.

Outras pessoas, teriam derrubado a casa existente, rebentado com a penedia para criar espaço e construído uma casa modernaça.

O meu familiar não é arquitecto e muito menos paisagista. É um homem que sente e compreende o apelo da terra e da natureza.

Um grande abraço de agradecimento para ele.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Protocolo notável

A notícia http://www.asbeiras.pt/?area=coimbra&numero=47141&ed=02082007 refere um protocolo entre dois hospitais integrados no SNS, o que pode parecer perfeitamente normal e sem nada de notável.
No entanto, quem esteja por dentro dos problemas da Saúde, sabe que estamos perante um desmoronar de muros de "quintas", que é mesmo notável. Parabéns aos intervenientes!
Caso continuem por este caminho, terão de ter cuidado com o IPPAR. É que há "muros" tão vetustos que deve ser necessária a intervenção de arqueólogos para os demolir.
Quem esteja por fora, talvez desconheça a dificuldade para, dentro do mesmo hospital, mudar uma cama vazia de um serviço, onde está vaga, para o serviço contíguo, onde faz falta. É uma luta que pode demorar meses, tal o espírito de "quintinhas" criado desde há muitos anos.
Pude testemunhá-lo várias vezes ao longo da minha vida profissional. É mesmo uma das causas do descalabro financeiro do SNS. Duplicam-se equipamentos e exames, só porque cada director de serviço quer ter os "seus", muitas vezes sub-aproveitados.
Por exemplo, no tempo do ministro Gonelha, estive numa reunião dos responsáveis de hospitais e centros de saúde, onde o ministro propôs que o processo clínico acompanhasse o doente do centro de saúde para o hospital. Nada mais lógico, para quem pense em termos funcionais. Ouviu um rotundo NÃO da parte dos representantes dos centros de saúde, porque viam nisto uma supervisão do hospital ao seu trabalho.
Também durante um inventário nacional de equipamentos em que participei, agora no tempo da ministra Leonor Beleza, encontrei no "quintal" de um hospital do distrito de Aveiro, à chuva, um equipamento móvel de radiologia, novo, só porque não cabia nas portas. Quem o tinha comprado, não tinha estudado a adequação do equipamento ao local. Não me consta que tenha sido transferido. Pertencia àquela "quinta"!
Na mesma ocasião, encontrei num centro de saúde um conjunto de equipamentos para instalação de um laboratório de análises, encaixotado. Ainda lá deve estar, se não aproveitaram os caixotes para a lareira.
A ministra tentou rentabilizar os equipamentos, retirando-os de onde estavam inoperantes para os colocar onde faziam falta. O resultado é conhecido: patins na ministra.
Perante isto, digam lá que não é notável, digno de registo e dos maiores encómios, o protocolo entre dois hospitais, um geral e um psiquiátrico.