quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A fúria anti-tabágica

Antes de mais, e em jeito de declaração de interesses, devo dizer que deixei de fumar há 8 meses, mas recuso os fundamentalismos dos "convertidos" ao não tabagismo.

Na discussão que se gerou acerca da nova lei anti-tabágica, parece-me que há grossas asneiras de parte a parte, especialmente no que se refere à discussão entre os proprietários de estabelecimentos de restauração e o governo.

Os estabelecimentos tiveram 1 ano para se adaptarem e estudarem a melhor saída para a situação. Em muitos países vi soluções há mais de 10 anos. Desde restaurantes com salas para fumadores e não fumadores, até hotéis com andares diferentes para cada situação. Não há portanto nada a inventar, bastando estudar um pouco e adaptar as soluções que outros já encontraram. Assim, não há razões para estarem com dúvidas a uma semana da entrada em vigor da lei.

Por parte do governo, a falta de explicações e arrogância do costume. Ainda hoje vi um comunicado da Direcção-Geral da Saúde, em que se afirmava que, não havendo uma solução eficaz para a extracção total de fumos das salas de fumadores, nem características de equipamentos de extracção aprovadas, se recorria a uma complicada medição da qualidade do ar. Também houve muito tempo para definirem os sistemas de extracção de fumos.

Infelizmente já estamos habituados ao atabalhoamento legislativo. Ainda hoje foram também noticiadas as dúvidas quanto às cadeirinhas para crianças em transportes (a exclusão das viaturas das autarquias e transportes colectivos tem um piadão. Estes não podem ter acidentes? E a segurança das crianças?) e quanto aos exames necessários para a renovação da carta de condução a partir de 1 de Janeiro (faltam 4 dias!).

Com a praxis a que nos habituaram, não me admira que, 30 minutos depois da passagem de ano, apareçam os embuçados da ASAE a apontarem a shotgun à cabeça do pacato cidadão que está a festejar e a fumar o charutito da ordem.

Já que se trata de fundamentalismo defensivo da saúde pública, por que não as autoridades da saúde darem uma inspecção às salas de espera das consultas e urgências dos centros de saúde e hospitais, sem o mínimo de ventilação e onde uma pessoa pode entrar com uma simples dor nas costas e sair com várias e graves doenças de transmissão aérea? Se quiserem mesmo saber de alguns, leiam os relatórios de conforto dos hospitais S.A. referentes a 2004. Estão no site dos hospitais E.P.E.. http://www.hospitaisepe.min-saude.pt/Comunicacao_Actualidade/Biblioteca_Online/com_servico_utente/Programa_Conforto_Hospitais.htm

É que assim já não os podiam acusar de hipocrisia!

Natal e natal

Desde tempos imemoriais, muito anteriores a Cristo, que, no hemisfério norte, se comemora a festa do solstício de inverno, quando os dias começam e crescer e se inicia novo ciclo da natureza.

Por exemplo, os chineses fazem a comemoração a 22 de Dezembro, com uma festa de unidade da família, muito semelhante ao Natal europeu.

A Igreja Católica, aproveitando a festa, estabeleceu que ela comemoraria o nascimento de Cristo, a 25 de Dezembro. Parece que a data é insustentável em termos históricos, mas não é por aí que vem mal ao mundo. A 2.000 anos de distância ninguém se preocupa com precisões de datas, importando, isso sim, o seu significado.

E o significado, concorde-se ou não, é a doutrina de unidade e irmandade de todos os seres, tão bem defendida por S. Francisco, baseada na humildade e na integração num todo universal.

Com base nessa doutrina, o Natal seria somente a festa simbólica da confirmação de uma vivência de irmandade e solidariedade permanentes.

Ao contrário de toda essa doutrina, desenvolveu-se o natal, época de consumismo obrigatório e desenfreado, que começa cada vez mais cedo. Este ano, já se viam apelos ao consumo natalício em Novembro.

A festa, de simbólica de uma situação habitual, passou a ser a quase única ocasião de solidariedade, muita dela exibicionista e propagandística de preocupação anual com os "pobrezinhos".

Por isso, sou cada vez mais defensor do Natal no sentido franciscano, e menos do natal do velho da Coca-Cola.

sábado, 22 de dezembro de 2007

O insucesso da matemática

O governo decidiu que os funcionários públicos (espero que não atinja os reformados) passem a descontar mais 1% sobre o seu vencimento para terem direito ao subsídio de desemprego, ficando assim em igualdade com os restantes trabalhadores.

Ora, fazendo contas muito simples, temos que os funcionários passam a descontar:
- 10% para a Caixa Geral de Aposentações (reforma)
- 1.5% para a ADSE (saúde)
- 1% para o Fundo de Desemprego

Tudo isto totaliza 12.5%.

Os trabalhadores privados descontam 11% para Taxa Social Única, englobando todos os benefícios acima indicados para os funcionários.

Se o governo diz que passa a haver igualdade, defenderá que 11% = 12.5%, donde se conclui que os defensores da ideia devem ter feito o curso naquelas universidades que a gente sabe....

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Implicações filosóficas da pocilga

A notícia http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1314473&idCanal=59 revolta qualquer alma medianamente bem formada, o que parece não acontecer com as instituições que deviam cuidar destas coisas.

Argumentam os responsáveis da Direcção-Geral de Veterinária e veterinária municipal que "a ilegalidade da suinicultura era conhecida desde 2000. Cabe à DGV legalizar as explorações. Mas este caso, não tendo nunca sido legalizado, “não tinha de fechar”, disse Lopes Jorge" e que "Nunca foi mandada fechar porque, oficialmente, nunca abriu.”

Como é que mentes tão brilhantes andam a caçar porcos e não estão em estudos científicos do mais alto nível!? Demonstram uma inteligência quase tão alta como a do sr. Bush!

A sr.ª veterinária ainda informa que aquela exploração vendia animais para consumo. Com que legalidade? A omnipresente ASAE não sabia? Isso não é crime contra a saúde pública?

Além disso, parece um insulto ao Exército. Então manda-se uma unidade altamente especializada para intervir numa instalação que não existe?

E alguém se preocupa com o bem-estar dos animais da outra unidade abandonada pelo mesmo dono? Estão à espera que aconteça o mesmo?

Agora só falta que o dono processe toda aquela gente por invasão de propriedade e seja devidamente indemnizado!

É ridículo, mas parece estar conforme com o "direito"!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O pânico da insegurança

Nos últimos dias a comunicação social tem dado a imagem de que o país entrou em pânico por causa de umas escaramuças entre mafiosos da noite.

Até na que devia ser circunspecta Assembleia da República, os deputados dos PSD e do CDS esvoaçavam e cacarejavam mais que as galinhas da minha amiga Cristina quando entrou uma cria de milhafre lá no quintal. Dizem que os velhos (agora diz-se séniors) têm medo de sair à rua, as criancinhas estão amedrontadas em casa, as pessoas deslocam-se agachadas por trás dos muros... Enfim, qualquer coisa como Chicago nos tempos do Al Capone.

Assentada toda esta poeira comunicacional (a Maddie já não rende e as histórias das meninas adoptadas estão por pouco!) e politiqueira, há que ter calma e reduzir as coisas às devidas proporções.

Parece que há uns ajustes de contas entre grupos mais ou menos mafiosos. Ora isto acontece em circuito fechado, não afectando os estranhos ao meio, a menos que haja incompetência nos atiradores.

Situação semelhante é normal há muitos anos em Macau, que não deixa, por isso, de ser uma cidade muito mais segura para o pacato cidadão que qualquer vilória de Portugal. Uma senhora pode andar livremente na rua a qualquer hora do dia ou da noite, sem que alguém se atreva sequer a dirigir-lhe a palavra. Às vezes lá dão umas facadas ou uns tiros num rival, mas, como é serviço de profissionais, ninguém mais é atingido. Não há danos colaterais. São mais eficientes que os americanos no Iraque ou os israelitas na Palestina!

Por esse lado, não há portanto razões para o pânico que se quer estabelecer.

Perigosos, sim, são os bandos de miúdos armados e com medo (talvez mais que as vítimas). Esses, com o medo, podem disparar mesmo a sério e sem profissionalismo. Frente a esses, nada de armar em herói, pois não há nada mais inútil que um herói morto.

Claro que devemos tomar as nossas precauções contra esses criminosos "baratos", mas não há razões para viver em terror e, muito menos, em pânico.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Coincidências fantásticas

Alguém do Ministério das Finanças decidiu que os aposentados descontariam para a ADSE nas pensões correspondentes aos 13.º e 14.º meses, o que não se passa com os funcionários do activo. Perguntado, pelas organizações sindicais, se esse procedimento ia ser estendido aos funcionários do activo, um sr. secretário de estado disse "nem pensar! A redacção referente aos subsídios não é a mesma para os pensionistas e funcionários do activo". Isto é: alguém, certamente muito bem pago, andou a escabichar os textos legais a procurar onde poderia sacar mais uns trocos.

Uma comissária da PSP disse ontem num programa televisivo que uma das técnicas dos assaltantes era mandarem miúdos tocar às campainhas à procura de casas onde não estivesse ninguém, onde seria mais fácil o assalto.

Ontem foi notícia de relevo a intenção do governo de impôr um imposto de 0.05 € por cada saco de plástico fornecido nas lojas. Claro que a notícia gerou uma série de reacções pouco favoráveis à ideia, até porque as lojas já pagam uma taxa para a reciclagem (seria um imposto duplo, como o IVA sobre o IA), e lá apareceu um sr. secretário de estado (outro...) a dizer que nada disso, que se tratou somente de uma pergunta ao comércio e que a ideia já tinha sido abandonada há semanas.

Uma das técnicas de esquiva dos carteiristas quando são pressentidos é dizerem: "desculpe! Desiquilibrei-me e meti-lhe a mão no bolso por engano".

Hoje foi a ideia da ERSE de fazer os consumidores pagarem os novos contadores com telecontagem, que evitam às fornecedoras pagarem aos funcionários da leitura. Era como se o Jumbo quisesse que pagássemos uma taxa pela utilização das novas caixas self-pay, que lhes poupam pessoal.

Soube-se também hoje que, à luz da nova legislação criminal, os criminosos que não sejam apanhados em flagrante, não podem ser detidos. O polícia tem do os convidar a comparecer no tribunal em determinado dia e hora (não sei se o convite terá de ser formal e com letras douradas!). Só se declinarem o amável convite é que poderão ser detidos.

Há muitos anos, um oficial da GNR explicou-me que as leis são feitas pelos poderosos para manterem o poder.

Há coincidências fantásticas.... Não há?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Cuidado!

A notícia http://dn.sapo.pt/2007/12/04/sociedade/ordem_fala_violencia_psicologica_ama.html dá muito que pensar.

Longe de mim imaginar isto a acontecer num qualquer hospital E.P.E., mas outros poderão imaginar e tentar...

O que me admira é a impunidade com que estas coisas acontecem. Há relatórios, pareceres, tribunais, mas ninguém dá um murro na mesa (ou nos cornos de alguém) e muda a situação.
Então para que serve a firmeza arrogante do sr. ministro?

Imaginem-se no lugar da vítima e a ouvirem "consolações" jurídicas, legais, moralistas e outras...

sábado, 1 de dezembro de 2007

A crise da verticalidade

Dia de greve da Função Pública (agora parece que se diz "emprego público"). O governo e o coro do PS afadigam-se a mostrar verticalidade e firmeza perante as pretensões dos trabalhadores. Queremos, podemos e mandamos!
Ao mesmo tempo vê-se deputados do PSD e do CDS, que ainda há 2 anos, insultavam os funcionários de tudo quanto havia de pior, virem agora na pele de grandes defensores dos ofendidos trabalhadores. Verticalidade flácida e falta de vergonha na cara!
No mesmo dia, lê-se a notícia http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=310780&visual=26&rss=0
É a vez do coro do PS, do PSD e do CDS demonstrarem a mais perfeita falta de verticalidade e sentido nacional.
Talvez seja para agradecerem ao sr. Bush a posição de não querer o ensino do Português nas escolas americanas.
De facto, dado o conhecido gabarito intelectual do senhor em causa, devemos estar gratos por não querer misturar-se connosco. Vade retro!