domingo, 1 de março de 2009

Sexo, moral e bons costumes

Nas últimas semanas houve três acontecimentos que ocuparam as parangonas da comunicação social: as posições da Igreja sobre homossexualismo, a retirada das imagens de um carro de carnaval em Torres Vedras e a apreensão de livros em Braga por eventuais atentados à moral e aos bons costumes. Entre estes acontecimentos há uma coisa em comum - a censura do sexo e actividades relacionadas.

É fácil apontar o dedo ao polícia que apreendeu os livros ou à magistrada que proibiu as imagens de carnaval, mas temos de ir às causas profundas.

Sendo o sexo uma componente normalíssima do ser humano, dou comigo a reflectir o porquê deste anátema e do considerar-se tudo o que com ele se relaciona atentatório da moral e dos bons costumes.

Sabemos que a razão básica é da nossa tradição cultural e religiosa, mas, sendo o resumo da doutrina de Cristo "ama o próximo como a ti mesmo", e não sendo a actividade sexual, desde que consentida, agressiva para quem quer que seja, porquê a condenação?

Só encontro uma razão comum às chamadas religiões do "Livro" (Judaísmo e seus derivados Cristianismo e Islamismo) - o poder.

Os primeiros povos ligaram os fenómenos naturais a forças que não compreendiam e que relacionaram com "deuses". Nasciam as religiões e os homens que se arvoravam em intermediários entre os homens e essas divindades - os mágicos e sacerdotes, que tomaram logo um grande ascendente sobre os outros. Quando surgem indivíduos que se arrogam proprietários de terras e subjugam os outros pela força, aliam-se aos feiticeiros e sacerdotes para consolidação conjunta do poder.

Neste contexto, inventa-se um deus que tudo vê e fiscaliza permanentemente os actos dos humanos. Para controlo eficaz dos povos, nada melhor que controlar os seus instintos mais fortes, nomeadamente o da sobrevivência da espécie, o sexo, e o da sobrevivência pessoal, a alimentação. Talvez venham daí os preceitos religiosos, que depois se tornaram culturais, referentes às práticas sexuais e a certas dietas. É natural que inicialmente estes preceitos também tivessem intenções de saúde pública e controlo da natalidade.

Desta reflexão concluí que o sexo não pode ser atentatório da moral e dos bons costumes nem é minimamente razoável classificar e discriminar as pessoas pelas suas preferências nessa matéria. Alguém se lembraria de discriminar as pessoas por gostarem, ou não, de bacalhau ou por andarem, ou não, de patins? Então porquê o sexo?

O que é atentatório da moral e dos bons costumes é vermos que senhores que se apresentavam como exemplares modelos sociais não passam afinal de uma cambada de ladrões e vigaristas, é vermos "empresários" fecharem as empresas "à má fila" e deixarem os trabalhadores sem pão, é vermos o proliferar de "facadas nas costas" de colegas para subir nas carreiras.

Isso é que é atentatório da moral e dos bons costumes e não há notícia de "retiradas preventivas".

Estamos numa sociedade "sexófoba". É urgente mudar de paradigma.