quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Upgrades à portuguesa

Significando "upgrade" melhoramento ou subida de categoria, quero falar de alguns destes actos que testemunhei e de outros que faço votos não venha a testemunhar.

Na década de 1950 os comboios ainda tinham 3 classes - 1.ª, 2.ª e 3.ª - indicadas nas carruagens por 1, 2, 3 ou I, II, III (a chamada primeira entre parêntesis). A 1.ª classe tinha bastante conforto, com estofos macios e instalações sanitárias. A 2.ª tinha estofos mais duros, como os comboios urbanos actuais, e também instalações sanitárias, enquanto a 3.ª tinha bancos de madeira e, na maioria dos casos, não tinha instalações sanitárias.

Como apontamento sociológico, esta divisão dirigia-se às três grandes divisões da sociedade - classe alta, média e baixa - a ponto de, enquanto militares, os oficiais só poderem andar em 1.ª classe, os sargentos em 2.ª e as praças em 3.ª.

Nos anos 60, considerou-se que esta estrutura era digna de países primitivos e decidiu-se actualizar o país, acabando com a 3.ª classe. Claro que, com a nossa proverbial argúcia empresarial, não se atiraram as velhas carruagens para a sucata. Pintou-se um 2 ou apagou-se um I, onde estava um 3 ou um III, fazendo-se assim uma considerável melhoria (upgrade) na qualidade dos comboios e na vida dos portugueses.

Anos mais tarde, foi a febre da promoção de aldeias a vilas e de vilas a cidades. Em dezenas de casos, passou-se como nos comboios. Muitas dessas terras têm as mesmas condições - e cada vez menos - que anteriormente, mas somos um país tão desenvolvido, que quase não tem aldeias.

Agora, fala-se na "promoção" das pensões e motéis a hotéis. Claro que "pensão", é de país atrasado. E depois é de difícil tradução para os turistas. A designação é muito diferente da inglesa. Simplifica-se, e melhoram-se as condições (?) com o nome de "hotel".

O que temo é que se esteja a passar um processo semelhante com o ensino.

É que, o banco ser de madeira, a terra mudar de nome só porque se chamava Vila ou a chafarica chamar-se hotel, só é anedótico. Aldrabar no ensino é trágico para o futuro de todos nós.....

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O carnaval do Porto

Não achando graça nenhuma aos arremedos foleiros do carnaval brasileiro que vai sendo prática realizar em Portugal, vi anunciado um carnaval "à moda antiga" no Porto, e lá fui eu.

Comecei por almoçar na incortornável Travessa dos Congregados, onde tive a recordação duma tradição da casa dos meus pais, de que já não me lembrava: no carnaval come-se orelheira fumada com feijão branco. Claro que não resisti, nem às papas de sarrabulho (qualquer dia, lembram-se que ofendem as directivas da CE), rematando com um pudim francês bastante parecido com o que a minha mãe fazia.

Cumprida a primeira parte da tradição, lá fomos para a festa na Avenida. Uma peça de teatro, com actores e humor do Porto, talvez na linha da velha "Voz dos Ridículos". Um texto que o Gil Vicente não desdenharia de assinar! Actores com um desempenho que se via que era por gosto e não por "frete profissional". Gente bem disposta e que transmitia alegria à imensa plateia.

Demonstrou-se que um acto cultural não tem de ser chato nem elitista e que, para ser do agrado popular, não é necessário ser ordinário nem populista.

Parabéns aos autores, aos actores e aos organizadores!

Se para o ano houver mais, lá estarei...

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Jornalismo de investigação

Um jornal que se considerava sério e de referência publicou ontem uma notícia que o coloca ao nível dos mais notáveis pasquins tabloides a nível mundial: a história dos projectos do eng.º Sócrates, há 25 anos.

Devo dizer que tenho pelo eng.º Sócrates a mesma consideração que ele teve por mim, na qualidade de funcionário e reformado: enganado, desprezado e altamente prejudicado. Só que fico com dores no fígado em presença da nacional-mesquinhice-cusquice.

O escrevente pode atacar o homem como político e, certamente, terá muito por onde....

Já que pretendem fazer jornalismo de investigação, podem começar por investigar as denúncias do sr. bastonário da Ordem dos Advogados e mais umas dicas que lhes deixo aqui.

Há um político que se diz ter fanado uma galinha, quando vivia numa república em Coimbra. Outro, que também estudou em Coimbra, apanhou uma homérica bebedeira no cortejo da queima das fitas. Outro ainda, este de Porto, andou "de gunas" no eléctrico, quando andava no liceu. Diz-se ainda que o Presidente não pagou um café que tomou, há 40 anos, em Portimão.
Para finalizar, uma "caixa" que pode valer o prémio Pulitzer: consta que o Papa se masturbou quando tinha 13 anos...

Boas investigações e... tenham vergonha!